ABC | Volume 114, Nº6, Junho 2020

Artigo Especial Barros e Silva et al. Registro Brasileiro de Síndromes Coronárias Aguda Arq Bras Cardiol. 2020; 114(6):995-1003 Tabela 4 – Análise multivariada de fatores associados à ocorrência de eventos combinados (AVE, reinfarto ou óbito) Multivariada Variáveis HR [95% IC ] Valor de p Idade Idade (aumento de 5 anos) 1,16 [1,11;1,20] <0,001 Sexo Feminino 1,10 [0,91;1,33] 0,328 Atendimento (Saúde Suplementar/ Particular) Saúde Suplementar/Particular 0,57 [0,47;0,69] <0,001 Dislipidemia Sim 0,98 [0,81;1,19] 0,826 IAM Sim 1,29 [1,03;1,63] 0,030 Angina Sim 0,95 [0,78;1,16] 0,613 Hipertensão Sim 1,08 [0,85;1,36] 0,534 AVE Sim 1,38 [1,06;1,80] 0,017 Insuficiência renal Sim 2,08 [1,59;2,71] <0,001 Diabetes Sim 1,48 [1,23;1,78] <0,001 ICC Sim 1,10 [0,83;1,45] 0,502 Intervenção coronária percutânea Sim 1,00 [0,80;1,27] 0,961 Cirurgia de RM Sim 0,94 [0,72;1,25] 0,684 Uso de AAS Sim 1,18 [0,96;1,47] 0,120 Tabagismo Nunca ref ref Ex-tabagista 1,22 [0,99;1,50] 0,055 Atual 1,27 [1,00;1,62] 0,047 Terapia completa Sim 0,72 [0,61;0,86] <0,001 Diagnóstico Final Angina Instável ref ref IAM sem supra de ST 1,76 [1,39;2,23] <0,001 IAM com supra de ST 2,04 [1,59;2,62] <0,001 *Variáveis com valor de p < 0,15 em análise “univariada” foram candidatas para a análise multivariada, ** As variáveis que apresentaram valor de p > 0,15 na análise univariada foram: Transferência de outro serviço, História familiar de doença coronariana, Obesidade Abdominal, Sedentarismo e Doença arterial periférica. dos efeitos identificados em ensaios clínicos controlados. A explicação para a diferença de desfechos identificada entre os pacientes do atendimento público ou privado, poderia ser resultante da diferença na qualidade assistencial. Entretanto, como o modelo multivariado identificou que o atendimento privado apresenta associação commelhores desfechos de forma independente da qualidade da terapia, uma possível explicação seria a própria classe social/educacional dos pacientes. Esta informação não foi coletada para inclusão direta no modelo multivariado da presente análise, mas, em estudos prévios, elas foram identificadas como fatores associados a desfechos clínicos nesta população. 15,20 Limitações do estudo Uma limitação do estudo seria referente ao perfil de pacientes, pois trata-se de um registro voluntário, cujos serviços participantes apresentaram capacidade de pesquisa clínica e, por consequência, os resultados podem não ser aplicáveis a populações que não se enquadrem nestas características (ex: hospitais com estrutura mais limitada). De qualquer maneira, mesmo em centros de maior potencial de qualidade assistencial, foram identificadas lacunas relevantes na aplicação da evidência científica. Outra limitação seria a avaliação da adesão às terapias baseadas em evidência, pois essa análise se baseou na adesão do médico em termos de prescrição de terapias baseadas em evidência. Não foram coletados dados sobre a elegibilidade, a real utilização das terapias prescritas e os motivos para a descontinuação da prescrição. Dessa maneira, tendo em vista que a não adesão por parte dos pacientes não foi avaliada no presente registro, a lacuna sobre o uso de terapias baseadas em evidência poderia ser ainda maior do que aquela encontrada no registro ACCEPT, o qual avaliou a prescrição médica. Finalmente, a análise de desfecho clínico apresenta limitações relacionadas à ausência de adjudicação de eventos e dados faltantes no seguimento de 12 meses de 410 pacientes. Não obstante, a avaliação de desfecho clínico em estudos observacionais pragmáticos habitualmente é realizada por notificação do médico investigador, sem a utilização de um comitê específico para adjudicação, o que representaria um cenáriomais próximo da forma de identificação de eventos que ocorre na prática clínica real. Quanto ao seguimento, tendo em vista que as perdas de acompanhamento ocorreram em momentos distintos, as análises foram realizadas por modelo de Cox e, por consequência, os pacientes foram censurados no último contato registrado como forma deminimizar as variações na duração de seguimento. Conclusão No maior registro prospectivo já publicado de pacientes com SCA no Brasil, identificou-se uma taxa média de eventos cardiovasculares maiores em 1 ano acima de 13 por 100 pacientes-ano, mas que atingiu mais de 16,6 por 100 pacientes-ano, no ambiente de atendimento público (SUS). Como há falhas na prescrição de terapias baseadas em evidência desde a admissão, e que se intensificam durante o seguimento, a elaboração de estratégias para aumentar a adesão da prescrição baseada em evidência poderia minimizar o risco de tais eventos na população brasileira. 1002

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