ABC | Volume 114, Nº6, Junho 2020

Editorial Fernandes Covid-19: dificuldades e perspectivas Arq Bras Cardiol. 2020; 114(6):988-991 1. Nussbaumer-Streit B, Mayr V, Dobrescu AI, Chapman A, Persad E, Klerings I, et al. Quarantine alone or in combination with other public health measurestocontrolCOVID-19:arapidreview.CochraneDatabaseSystRev. 2020;4(4):CD013574. 2. Wikipedia.Listofcountriesbyhospitalbeds. [Cited in2020Apr20] Available from: https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_hospital_beds. 3. Eich B B. https://docs.google.com/spreadsheets/d/1zC3kW1sMu0sjnT_ vP1sh4zL0tF6fIHbA6fcG5RQdqSc/htmlview#gid=0. 2020. 4. BrebanR,VardavasR,BlowerS.Theoryversusdata:howtocalculateR0?PLoS One. 2007;2(3):e282. 5. Murray CJ. Forecasting COVID-19 impact on hospital bed-days, ICU-days, ventilator-days and deaths by US state in the next 4months. medRxiv. 2020 Mar. 30. 6. Dana S, Simas AB, Filardi BA, Rodriguez RN, Valiengo LLC, Gallucci-Neto J. Brazilianmodeling of COVID-19 (BRAM-COD): a BayesianMonte Carlo approach for COVID-19 spread in a limited data set context. medRxiv. 2020 May 17. 7. Worldometer. Coronavirus Cases; 2020. [citado 20 abr. 2020]. Disponível em: https://www.worldometers.info/coronavirus/coronavirus-cases/. 8. Zhou F, Yu T, Du R, Fan G, Liu Y, Liu Z, et al. Clinical course and risk factors for mortality of adult inpatients with COVID-19 inWuhan, China: a retrospective cohort study. Lancet. 2020;395(10229):1054-62. 9. YaoH, Lu X, ChenQ, Xu K, Chen Y, Cheng L, et al. . Patient-derivedmutations impact pathogenicity of SARS-CoV-2. medRxiv. 2020 Apr. 23. 10. Ministério da Saude. Painel Coronavírus. Rio de Janeiro, DF: Ministério da Saúde;2020.[citado20abr.2020].Disponívelem: https://covid.saude.gov.br/. 11. Brasil. Portal da Transparência [Internet].Especial COVID-19. Painel Registral; 2020. [citado 20 abr. 2020]. Disponível em: https://transparencia.registrocivil. org.br/especial-covid. 12. Fiocruz. Info Gripe [Internet]. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2020. [citado 20 abr. 2020]. Disponível em: http://info.gripe.fiocruz.br/. 13. Lai S, Ruktanonchai NW, Zhou L, Prosper O, Luo W, Floyd JR, et al. Effect of non-pharmaceutical interventions to contain COVID-19 in China. Nature. 2020.[Epub ahead of print]. 14. Lopes B. Milton Friedman, a história de um lápis: A perspectiva e a lição que talvez passou despercebido; 2018. [citado 20 abr. 2020]. Disponível em: https://medium.com/@brunolopes_61254/milton- friedman-a-hist%C3%B3ria-de-um-l%C3%A1pis-a-perspectiva-e-a- li%C3%A7%C3%A3o-que-talvez-passou-despercebido-500de4c7a84a. Referências reflexos diferentes na redução da transmissão viral. Neste sentido, devemos também lembrar do princípio de Pareto, onde 20% do que fazemos atinge 80% do resultado: a aplicação correta de um distanciamento social bem feito, com redução de 25% do original, permite a manutenção da resposta eficaz de transmissão uma vez reduzido inicialmente o R0. 13 Logo, medidas relativamente simples de ensino da população de lavagem de mãos, distanciamento, máscaras, etc., sendo bem aplicadas, podem muitas vezes ser superior a tentativas de medidas mais drásticas mas executadas de forma desorganizada e sem o entendimento da população onde ela é feita sem preparo adequado. A decisão do que fazer e em que momento da pandemia atuar é crucial para que não transformemos o objetivo de salvar vidas numa frase apenas apelativa com resultados consolidados que resultam em mais mortes que vidas salvas. Os efeitos de segunda e terceira ordem que ocorrem em qualquer terapia muitas vezes podem ser mais nocivos que o próprio tratamento, especialmente quando este é executado sem o devido planejamento. Muito comum em situações onde uma centralização tenta simplificar processos extremamente complexos e que envolvem cadeias múltiplas (como temos num exemplo famoso da fabricação de um simples lápis), 14 o efeito final pode ser exatamente o oposto do que perseguimos. E aqui temos várias situações onde um prolongamento desnecessário de medidas de confinamento podem levar a maior número de mortes que pela própria doença. No momento em que este artigo é escrito, o número de óbitos no país pela Covid-19 é de cerca de 10.000 pacientes e temos quase 45 dias de medidas de isolamento. Devido à uma redução prevista de 30% de angioplastias primárias, aumento de tempos de transferência e reinternações por síndromes coronárias agudas não atendidas, 15-17 estima-se um excesso de mortes cardiovasculares de mais de 3.000 mortes neste período. Perdas de consultas ambulatoriais de diversas especialidades elevam o risco de óbitos em até 1.5x, somando a este excesso outras 9.000 mortes desnecessárias. 18 O aumento de 1% do desemprego ou queda do Produto Interno Bruto por si só estão associados a aumento de óbitos de até 1.63x na população economicamente ativa, adicionando a essa soma mais 3.500 óbitos em excesso. 19 Cálculos de mortalidade por falha de terapias para neoplasias e perdas diagnósticas no Brasil ainda não existem mas, nos EUA e Inglaterra, as mortes em excesso foram calculadas em 34.000 e 6.000, respectivamente. 20 Todas essas mortes estão associadas a diversas causas, mas sobretudo pela falta de acesso em tempo aos sistemas de saúde sobrecarregados e focados apenas numa causa de mortalidade. Esses serão os óbitos invisíveis da pandemia e do isolamento por não terem sido previstos como efeitos secundários às medidas unifocais. O que virá nas próximas semanas e meses está além da visão aqui proposta e vai depender em muito de como vamos decidir sair desta crise sanitária, mais cedo ou de forma mais tardia. Os gastos já altos com as doenças crônicas provavelmente vão aumentar muito nos próximos meses, 21 sobrecarregando um governo já com excesso de dívida. O desemprego e queda de renda levarão muitos brasileiros a migrarem para um Sistema Único de Saúde já inchado e com a demanda reprimida nestes meses. Ao mesmo tempo, outras soluções que aumentem a eficiência do sistema vão ser aprimoradas como já foram neste curto espaço de tempo, como receitas digitais e telemedicina. 22 Esse aumento de produtividade médica pode aliviar em parte esses aumentos de demanda e custos, fazendo com que nosso sistema de saúde consiga demonstrar a resiliência e efetividade que fez com que, apesar de todas as dificuldades, tenhamos uma mortalidade por milhão até 10x menor que outros países europeus na mesma fase da doença. O que sabemos é que estaremos prontos para novos desafios, pois foram sempre os otimistas que nos surpreenderam ao mostrar como a inventividade humana é capaz de se sobrepor a obstáculos. 990

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