ABC | Volume 114, Nº5, Maio 2020

Minieditorial Conhecimento sobre Atividade Física e seus Níveis em Crianças com Cardiopatia Congênita Physical activity knowledge and levels among children with congenital heart disease Adilson Marques 1, 2 e Bruna Gouveia 3,4 CIPER, Faculdade de Motricidade Humana, Universidade de Lisboa, 1 Lisboa - Portugal ISAMB, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, 2 Lisboa - Portugal Instituto de Administração da Saúde, IP-RAM, 3 Ilha da Madeira - Portugal Interactive Technologies Institute, LARSyS, 4 Lisboa – Portugal Minieditorial referente ao artigo: Conhecimento sobre a Doença e a Prática de Atividade Física em Crianças e Adolescentes com Cardiopatia Congênita Correspondência: Adilson Marques • Universidade de Lisboa Faculdade de Motricidade Humana - Estrada da Costa Cruz Quebrada -- Please Select (only U.S. / Can / Aus) 1499-002 – Portugal E-mail: amarques@fmh.ulisboa.pt Palavras-chave Cardiopatias Congênitas; Comorbidade; Crianças; Adolescentes; Exercício; Atividade Física; Conhecimento; Condicionamento Físico; Qualidade de Vida. Os benefícios da atividade física já estão bemdocumentados. Em crianças e adolescentes, a atividade física melhora a saúde cardiovascular, óssea e metabólica, níveis de condicionamento físico, peso corporal e condição do sono. 1 Além disso, há evidências dos benefícios cognitivos, psicológicos e sociais da atividade física. 1 Os benefícios da atividade física sobre a saúde são transversais a todas as crianças, incluindo aquelas que vivem com uma doença crônica, como doença cardíaca congênita (DCC), prevenindo comorbidades e melhorando a qualidade de vida. 2,3 A importância da atividade física para crianças com DCC já foi documentada há muito tempo. 4 A participação em atividades físicas é de grande importância para as crianças com DCC, pois elas correm o risco de desenvolver outras doenças cardiovasculares e metabólicas, 3,5 sinais crescentes de depressão e ansiedade.6 Além disso, quando presentes, esses problemas de saúde podem ser mitigados por um estilo de vida ativo. 1-3 Embora os benefícios da atividade física para a saúde sejam bem reconhecidos, as evidências mostram que algumas crianças comDCC não praticam atividade física suficiente para atingir os níveis recomendados, 7 e a atividade física diminui e os comportamentos sedentários aumentam com a idade em ambos os sexos. 5 Além disso, os níveis de atividade física de crianças com DCC são inferiores aos de crianças saudáveis. 8 Portanto, é importante identificar os fatores associados a níveis menores de atividade física. Apesar da importância da atividade física para a saúde das crianças com DCC, a mesma não é considerada como tendo um valor-alvo. 9 Como a maioria dos pais concentra sua atenção no desempenho acadêmico em direção a uma carreira desejada, a atividade física parece ser menos importante. Assim, o tempo disponível é utilizado para trabalhos escolares. Além disso, os pais pensam que a atividade física não é importante em comparação com a ampla gama de outras atividades disponíveis para crianças com DCC. 9 Para vários pais, a atividade física tem um papel limitado no processo de reabilitação, de modo que eles tendem a superproteger seus filhos contra algumas práticas de atividade física. 9,10 Além disso, supõe-se que as crianças com DCC sejam responsáveis por se envolver em comportamentos de redução de risco, e a atividade física é considerada um risco potencial para algumas pessoas. Essas concepções contribuem para os discursos individualistas do “ healthism ” (salutarismo) 10 e crianças e pais concluem que a atividade física pode ser importante, mas não é tão importante, pois pode comprometer o desempenho acadêmico ou o estado de saúde. À luz dessas crenças, seria interessante analisar o conhecimento das crianças com DCC sobre atividade física. Campos et al., 11 realizaram um estudo com o objetivo de identificar os níveis de conhecimento de crianças e adolescentes com DCC sobre sua doença e analisar a associação entre os níveis de conhecimento e a prática de atividade física. É um estudo interessante realizado em uma amostra cuidadosamente selecionada de crianças e adolescentes com DCC. Os dados foram auto-relatados, mas para este estudo em particular, o auto-relato foi o método mais apropriado para avaliar o conhecimento e os níveis de atividade física das crianças e dos adolescentes. A partir dos resultados, observou-se que muitas crianças e adolescentes tiveram dificuldades em descrever sua doença. Quase metade das crianças e adolescentes não sabia o nome do seu defeito cardíaco e apenas 24% localizou corretamente as lesões em um diagrama cardíaco. Esses resultados devem ser motivo de preocupação, porque, sem o conhecimento correto do problema de saúde, muitas ações contraproducentes podem ser tomadas. Em relação à atividade física, as crianças e adolescentes mais ativos apresentaram maior conhecimento sobre a doença. O desenho do estudo não permitiu compreender a associação entre conhecimento e prática de atividade física. No entanto, os autores fornecem algumas explicações potenciais e razoáveis. Talvez, os pais de crianças ou adolescentes que praticam atividade física estejam preocupados com os efeitos da atividade física na saúde de seus filhos. Por esse motivo, eles consultam os médicos para obter mais informações sobre atividade física e DCC. Como resultado, ao questionar as limitações da atividade física, pais e filhos ou adolescentes obtêmmais informações sobre a doença e compreendem os efeitos na saúde da atividade física. O DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20200286 793

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