ABC | Volume 114, Nº5, Maio 2020

Minieditorial Florida Shock Anxiety Scale para Portadores de Cardioversor- Desfibrilador Implantável – Valorizando o Psicossocial Florida Shock Anxiety Scale for Patients with Implantable Cardioverter-Defibrillator - Appreciating the Psychosocial Aspects Eduardo Arrais Rocha 1, 2 e Ieda Prata Costa 1 Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará – Cardiologia, Fortaleza, CE – Brasil Centro de Arritmia do Ceará, Fortaleza, CE – Brasil Minieditorial referente ao artigo: Evidências de Validade da Versão Brasileira da Florida Shock Anxiety Scale para Portadores de Cardioversor- Desfibrilador Implantável Correspondência: Eduardo Arrais Rocha • Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceara – Cardiologia - Rua Capitão Francisco Pedro, 1290. CEP 60430-160, Fortaleza, CE – Brasil E-mail: eduardoa@cardiol.br Palavras-chave Desfibriladores Implantáveis; Qualidade de Vida; Impacto Psicossocial; Ansiedade; Transtornos Psicofisiológicos. Este trabalho apresenta uma importante escala, já em versão brasileira, com validação em nossa população, que permite avaliar o nível de ansiedade relacionada ao cardioversor-desfibrilador implantável (CDI) e aos choques aplicados pelo dispositivo. 1 Esta escala, como bem ressaltada no trabalho de Silva et al., 1 não foi idealizada para avaliar aspectos da adaptação do paciente com o seu CDI ou os impactos desse dispositivo na qualidade de vida do indivíduo, existindo outra escala apropriada para este fim, como a Florida Patient Acceptance Survey (FPAS). 2 Este artigo sinaliza a importância da valorização dos aspectos psicossociais dos portadores de CDI, muitas vezes, relevados a planos relevados a planos secundários. Alguns artigos já demonstraram o impacto negativo que o CDI pode trazer na vida dos pacientes, mesmo sem a ocorrência de terapias. 3-5 Entretanto, sabe-se do indiscutível benefício que os CDI promovem em diversos contextos clínicos. 6 Portanto, uma abordagem psicossocial deveria obrigatoriamente fazer parte dos ambulatórios de arritmia e marca-passo, tendo agora disponível em nosso meio uma ferramenta para tal análise. Manzoni et al. 7 analisaram 60 estudos e avaliaram o nível de ansiedade, depressão, qualidade de vida relacionada à saúde, síndrome do estresse pós-traumático e transtornos psiquiátricos em portadores de CDI. Eles concluíram que há uma grande heterogeneidade metodológica nos testes psicológicos utilizados. Isto temdificultadoaanálisedos dados e, consequentemente, as estratégias para a diminuição desse impacto. Vários fatores podem influenciar o grau de ansiedade e muitos não foram abordados nesses estudos, como as diferentes características demográficas, as condições clínica e psicológica pré-implante e o número de choques, se apropriados ou não. 7 Uma subanálise do estudo Multicenter Automatic Defibrillator Implantation Trial-Reduce Inappropriate Therapy (MADIT-RIT), que utilizou a escala Florida Shock Anxiety Scale (FSAS), concluiu que 2 ou mais choques, apropriados ou inapropriados, e o maior número de episódios de anti- tachycardia pacing (ATP) inapropriados estariam associados a maior grau de ansiedade, em um acompanhamento de 9 meses. Por essa análise, sugeriu-se que alterações na programação do CDI podem alterar o grau de ansiedade ao diminuir o número de choques e ATP inapropriados. 8 Outro tópico relevante refere-se aos cuidados com as programações do CDI. As sociedades da especialidade têm publicações sugerindo a forma ideal de programação, conforme cada fabricante. Essas recomendações devem ser implementadas tentando-se minimizar as terapias de choque, que podem elevar o grau de ansiedade e estar relacionadas a pior prognóstico. 9,10 A valorização das terapias com ATP (estimulação antitaquicardia), o aumento no tempo ou a programação de ummaior número de batimentos para a detecção das arritmias ventriculares sustentadas são extremamente importantes. A programação do CDI em pacientes com com cardiopatia chagásica (CCH) deve ser diferente da realizada para outras patologias. Na CCH, observa-se um maior número de terapias, em diferentes zonas de detecção, com repercussões clínicas distintas, portanto, merecendo uma abordagem mais individualizada e especializada em centros de referência. A correta programação das funções de discriminação das arritmias ventriculares, em relação às arritmias supraventriculares, ou mesmo para a identificação de ruídos que possam deflagrar terapias inapropriadas, merece especial atenção. Sabe-se que existem diversos fabricantes com particularidades de programações, mas todas devem ser de conhecimento obrigatório do especialista. A própria escolha do dispositivo com maior duração de bateria, evitando-se trocas precoces, também é um fator importante de proteção psicossocial. Por fim, parabenizamos os autores pela importante contribuição ao tema no cenário nacional e pelo rigor científico adotado. A implementação da escala FSAS, traduzida e validada por Silva et al., para análise do grau de ansiedade em portadores de CDI auxiliará no tratamento psicossocial destes pacientes. DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20200262 773

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