ABC | Volume 114, Nº5, Maio 2020

Arq Bras Cardiol. 2020; 114(5):943-987 Diretrizes Diretriz Brasileira de Reabilitação Cardiovascular – 2020 Os pacientes de alto risco, com frequência, podem necessitar de atendimento médico imediato ou a curto prazo (reinternação, intervenções ou ajustes de fármacos). Portanto, requerem maior monitoramento do treinamento pela equipe assistencial, a qual deve ser capaz de identificar sinais e sintomas de situações de risco e atuar no atendimento de intercorrências clínicas, inclusive com material de suporte básico e avançado de vida, com cardiodesfibrilador manual ou automático. É preferencial, inclusive, que esse equipamento esteja dentro da sala de atendimento. A equipe médica deve estar prontamente disponível na localidade, com rápido acesso ao paciente em caso de intercorrências graves. Ressalte-se que a melhor maneira de prevenir intercorrências durante um programa de reabilitação e, especialmente após eventos e intervenções, consiste na realização de qualificadas avaliações pré-participação e subsequentes, que devem ser sistemáticas. Oprograma de exercícios deve ser individualizado em termos de intensidade, duração, frequência, modalidade de treinamento e progressão, de acordo com os testes funcionais realizados inicialmente e no seguimento. Sempre devem ser adotados recursos para a correta determinação da FC e verificação da PA, em repouso e em esforço, além da possibilidade de verificação de saturação de oxigênio, determinação da glicemia capilar e monitoramento eletrocardiográfico. O atendimento também deve contemplar um programa educacional direcionado à modificação do estilo de vida, com ênfase na reeducação alimentar e em estratégias para cessação do tabagismo, quando necessárias. É importante que o paciente obtenha conhecimentos sobre sua doença e aprendizado de automonitoramento, tanto na execução dos exercícios quanto na identificação de sinais e sintomas de alerta para situações clínicas instáveis ou de risco. As características clínicas dos pacientes que se enquadrariam inicialmente no risco clínico alto (presença de, pelo menos, uma delas) são: • Internação por descompensação cardiovascular recente (menos de 8 a 12 semanas) devido a quadros de: IAM ou angina instável; revascularização cirúrgica ou percutânea; arritmias complexas; morte súbita revertida; descompensação de IC; • Pacientes cardiopatas, com presença ou ausência de evento cardiovascular e/ou intervenções, mas com importantes alterações funcionais ao esforço físico, ou seja: – Baixa capacidade funcional no TE (menor que 5 equivalentes metabólicos [MET]) ou no TCPE (classificação deWeber C e Dou consumo de oxigênio [VO 2 ] abaixo de 60% do predito para idade e sexo); – Sinais e sintomas de isquemia miocárdica em baixa carga (abaixo de 6MET ou de VO 2 de 15ml.kg - 1 .min -1 ); – Sintomatologia exacerbada (IC com classe funcional III e IV ou angina classe funcional III e IV). • Outras características clínicas de pacientes com risco aumentado aos exercícios físicos: doença renal crônica (DRC) dialítica, dessaturação de oxigênio em esforço e arritmia ventricular complexa em repouso ou esforço. Considerando que os pacientes de alto risco frequentemente necessitam de reajustes de fármacos e de reavaliações, com eventuais intervenções (revascularizações ou outros procedimentos), torna-se essencial comunicação constante da equipe assistencial da RCV com o(s) médico(s) assistente(s). É importante destacar que alguns pacientes, devido a intercorrências nas sessões e/ou resultados nas avaliações subsequentes, podem permanecer classificados como de alto risco, mantendo a prática de exercícios físicos sob supervisão direta por tempo indeterminado. 3.2. Risco Clínico Intermediário Os pacientes podem ter cumprido etapas anteriores da RCV, sendo reclassificados, ingressar diretamente nessa categoria sem participações prévias ou ser oriundos de outros programas de exercícios. A duração da RCV sob essa Tabela 1 – Estratificação do risco clínico dos pacientes em reabilitação cardiovascular ambulatorial Risco Alto Intermediário Baixo Característica Evento cardiovascular, intervenção cardiovascular ou descompensação clínica Inferior a 8 a 12 semanas Superior a 12 semanas Superior a 6 meses Capacidade funcional TE: < 5 MET TCPE: Weber C/D ou VO 2 pico < 60% do predito TE: 5 a 7 MET TCPE: Weber B ou VO 2 pico de 60 a 85% do predito TE: > 7 MET TCPE: Weber A ou VO 2 pico > 85% do predito Sinais e sintomas de isquemia miocárdica (limiar isquêmico) Em baixas cargas TE: abaixo de 6 MET TCPE: abaixo de 15 ml.kg -1 .min -1 TE: acima de 6 MET TCPE: acima de 15 ml.kg -1 .min -1 Ausente Sintomatologia IC: CF III e IV Angina: CF III e IV IC: CF I a II Angina: CF I e II Ausente Outras características clínicas IRC dialítica; queda da saturação de oxigênio em esforço; arritmia ventricular complexa De acordo com o julgamento clínico na avaliação médica pré‑participação De acordo com o julgamento clínico na avaliação médica pré‑participação CF: classe funcional; IC: insuficiência cardíaca; IRC: insuficiência renal crônica; MET: equivalente metabólico; TCPE: teste cardiopulmonar de exercício; TE: teste ergométrico; VO 2 : consumo de oxigênio. 950

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