ABC | Volume 114, Nº5, Maio 2020

Minieditorial Cunha Atividade Física na Hipertensão em Trabalhadores Arq Bras Cardiol. 2020; 114(5):762-763 que o risco para doença cardiovascular e morte pode aumentar com AFO. 12 Esses efeitos contrastantes da AF na saúde têm sido chamados de “paradoxo da atividade física na saúde”. 9 O risco aumentado na AFO tem sido mostrado com maior frequência em trabalhadores com baixa renda, baixa aptidão cardiorrespiratória e doenças preexistentes, como HA e doença coronariana. 13 Holtermann et al. 9 indicam que algumas diferenças entre AFL e AFO podem justificar a diferença dos resultados observados, incluindo: 1) AFO com intensidade muito baixa e duração muito longa para melhorar a forma física e a saúde cardiovascular; 2) AFO com levantamento de pesos ou posturas estáticas, que podem aumentar a PA; 3) AFO realizada sem tempo de recuperação suficiente; 4) AFO realizada com pouco controle pelo trabalhador; e 5) AFO que aumenta os níveis de inflamação. O tipo errado de AF pode ser ruim para a saúde, tanto no contexto de AFO como AFL. 13 Assim, muita força mecânica pode causar uma lesão musculoesquelética, atividade muito frequente pode levar à fadiga e muito tempo em pé pode facilitar o aparecimento de varizes nos membros inferiores. Ao contrário, muito pouca força pode causar perda óssea e muscular, exercícios pouco frequentes podem determinar um descondicionamento cardiorrespiratório ou alteração da saúde cardiometabólica. 13 Assim, os benefícios da atividade física, tanto no trabalho como no lazer, só se manifestam quando os vários aspectos da AF estão bem ajustados, calibrados. As várias dimensões da AF (intensidade, duração, frequência de posturas e movimentos distintos) afetam diferentes sistemas e funções do corpo (capacidade aeróbica, força muscular, movimentos, balanço, coordenação). Todos esses aspectos da AF no trabalho deverão levar ao encontro de seu “ponto perfeito”, para que venham a permitir o seu efeito de promover saúde. 13 Em conclusão, a AF é benéfica à saúde e ajuda a controlar a PA, principalmente com a prática de exercícios aeróbicos, mas também com os exercícios resistivos. O efeito cumulativo de diferentes modalidades da AF, como estudado por Ribeiro Jr. & Fernandes, 10 contribui para a proteção à HA. A AFO deve ser avaliada com cautela e profundidade, de maneira a se encontrar situações ótimas das atividades físicas, de forma a utilizá-la em benefício da saúde, e não como um mecanismo deletério para o trabalhador. 1. Sharman JE, La Gerche A, Coombes JS. Exercise and cardiovascular risk in patients with hypertension. Am J Hypertens. 2015;28(2):147-58. 2. Thompson PD, Baggish A. Exercise and sports cardiology. In: Mann DL, Zipes DP,LibbyP,BonowRO.Braunwald’sheartdisease:atextbookofcardiovascular medicine. 10 th ed. Philadelphia: Elsevier Saunders; 2015. p. 1771-8. 3. Thompson PD. Exercise prescription and proscription for patients with coronary artery disease. Circulation . 2005;112(15):2354-63. 4. Ghorayeb N, Stein R, Daher DJ, Silveira AD, Oliveira Filho JA, Ritt LEF, et al. Atualização da Diretriz em Cardiologia do Esporte e do Exercício da Sociedade Brasileira de Cardiologia e da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e Esporte – 2019. Arq Bras Cardiol. 2019:112(3):326-8. 5. MalachiasMVB,SouzaWKSB,PlavnikFL,RodriguesCIS,BrandãoAA,Neves MFT, et al. 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Arq Bras Cardiol. 2016;107(3 Suppl 3):1-83. 6. Précoma DB, Oliveira GMM, Simão AF, Dutra OP, Coelho OR, Izar MCO, et al. Atualização da Diretriz de Prevenção Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2019. Arq Bras Cardiol. 2019;113(4):787-891. 7. Whelton PK, Carey RM, Aronow WS, Casey Jr DE, Collins KJ,Himmelfarb CD, et al. 2017 ACC/AHA/AAPA/ABC/ACPM/AGS/APhA/ASH/ASPC/NMA/ PCNAGuideline for the prevention, detection, evaluation andmanagement of High Blood Pressure in adults: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on clinical practice guidelines. Hypertension. 2018;71(6):e13-e115. 8. HuG, JousilahtiP,AntikainenR,Tuomilehto J.Occupational,commutingand leisure-time physical activity in relation to cardiovascular mortality among finnish subjects with hypertension. Am J Hypertens. 2007;20(12):1242-50. 9. Holtermann A, Krause N, van der Beek AJ, Straker L. The physical activity paradox: six reasons why occupational physical activity (OPA) does not confer the cardiovascular health benefits that leisure time physical activity does. Br J Sports Med. 2018;52(3):149-50. 10. Ribeiro Jr. UES, Fernandes RCP. Hipertensão Arterial em trabalhadores: O efeito cumulativo das dimensões da atividade física sobre este agravo; Arq Bras Cardiol. 2020; 114(5):755-761. 11. Salmon J, Owen N, Bauman A, Schmitz MK, Booth M. Leisure-time, occupational, and household physical activity among professional, skilled, and less-skilled workers and homemakers. Prev Med . 2000;30(3):191-9. 12. Li J, Loerbroks A, Angerer P. Physical activity and risk of cardiovascular disease: what does the new epidemiological evidence show? Curr Opin Cardiol. 2013;28(5):575-83. 13. Straker L, Mathiassen SE, Holtermann A. The “Goldilocks Principle”: designing physical activity at work to be “just right” for promoting health . Br J Sports Med. 2018;52(13):818-9. Referências Este é um artigo de acesso aberto distribuído sob os termos da licença de atribuição pelo Creative Commons 763

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=