ABC | Volume 114, Nº5, Maio 2020

Minieditorial Influência da Atividade Física na Hipertensão Arterial em Trabalhadores Influence of Physical Activity on Arterial Hypertension in Workers Cláudio L. Pereira da Cunha 1 Universidade Federal do Paraná (UFPR),1 Curitiba, PR – Brasil Minieditorial referente ao artigo: Hipertensão Arterial em Trabalhadores: O Efeito Cumulativo das Dimensões da Atividade Física sobre esse Agravo Correspondência: Cláudio L. Pereira da Cunha • Universidade Federal do Paraná - Clinica Médica - Rua Olavo Bilac, 181. CEP 80440-040, Curitiba, PR – Brasil E-mail: cpcunha@cardiol.br Palavras-chave Hipertensão; Exercício; Fatores de Risco; Atividade Física; Epidemiologia; Trabalhadores; Limpeza Urbana. A atividade física (AF) regular é um dos mais importantes fatores para a prevenção primária da hipertensão arterial (HA) e para melhora da sobrevida a longo prazo desses pacientes.¹ Seus benefícios se espalham para além da HA, propiciando melhoras também aos portadores de doença arterial coronariana, diabetes, dislipidemias, disfunção renal, depressão, doença pulmonar obstrutiva, osteoartrite, entre outras.¹ “Atividade física”, de modo literal, se refere a qualquer movimento do corpo; no entanto, em estudos epidemiológicos que avaliam seu contexto na saúde, tem relação com atividades que produzam aumentos substanciais do consumo de oxigênio (O 2 ). A AF pode ser realizada tanto durante o trabalho quanto no lazer e recreação, sendo todas as modalidades utilizadas no estudo dos efeitos da AF na saúde cardiovascular.² A AF desenvolvida para melhorar a saúde ou obter benefícios no desempenho é considerada “exercício”.² Os exercícios são classificados em “aeróbicos” e “resistivos” (ou de resistência). Os exercícios aeróbicos primariamente estressam o sistema de transporte de O 2 e incluem atividades como caminhadas, corridas, natação e ciclismo. Os exercícios de resistência, por sua vez, estressam o sistema muscular esquelético, como o levantamento de peso; podem ser resistivos dinâmicos ou estáticos (isométricos). O treinamento com exercícios realizados repetidamente podem aumentar o desempenho do sistema cardiovascular (treinamento com exercícios aeróbicos) ou do sistema muscular esquelético (treinamento com exercícios resistivos).³ Tais divisões dos tipos de AF são relativamente arbitrárias, visto que os exercícios têm componentes aeróbicos ou resistivos predominantes mas não absolutos. A atividade aeróbica da corrida, por exemplo, também provoca melhora da força muscular das pernas, enquanto o exercício resistivo de levantamento de peso também cursa com envolvimento do sistema de entrega do O 2 , um componente aeróbico. 4 O treinamento aeróbico reduz a pressão arterial (PA) casual de pré-hipertensos e hipertensos. Além disso, reduz a PA na vigília de hipertensos e diminui a PA em situações de estresse físico, mental e psicológico. 5 O treinamento aeróbico é recomendado como forma preferencial de exercício para a prevenção e tratamento da HA, com grau de recomendação I, nível de evidência A, na 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. 5 Além da aptidão aeróbica, outros componentes da aptidão física estão associados ao prognóstico; estudos com força e potência muscular também têm demonstrado associações à mortalidade. As diretrizes recomendam a prática regular e combinada dos exercícios aeróbicos e resistidos . 6,7 A AF pode ser realizada no trabalho, no seu deslocamento, em trabalhos domésticos ou em práticas físicas de lazer. 8 Não há consenso sobre o benefício à saúde que cada uma dessas modalidades de AF pode propiciar, qual a contribuição que cada tipo pode oferecer ou até mesmo quais prejuízos podem determinar. 8,9 Nesta edição dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia , Ribeiro Jr. e Fernandes 10 analisam o efeito cumulativo de diferentes modalidades de AF na HA de trabalhadores. Estudam 1.070 participantes vinculados a 2 empresas com características de exigência física bem distintas: 624 trabalhadores em limpeza urbana e 446 em indústria de calçados. Em todos os trabalhadores é avaliada sua AF em diferentes modalidades: ocupacional (AFO), doméstica (AFD) e de lazer (AFL). Analisa-se a ocorrência de HA, considerando como principal variável o número de modalidades de AF que o trabalhador executava (AFO, AFD e/ou AFL), e conclui-se que há efeito cumulativo das diversas formas de AF na proteção à HA. Nesta pesquisa 10 são incluídas classes profissionais que caracterizammuito bem comportamentos opostos em relação ao grau de AFO, envolvendo grande número de trabalhadores braçais da limpeza urbana e outros pouco ativos na indústria manufatureira convencional. Todavia, não se avaliou a AF de deslocamento, mais facilmente analisável e frequentemente valorizada em tais estudos, 8 e incluiu-se a AFD, presente no mundo real, mas com quantificação mais difícil, notadamente nesta amostra populacional com quase 80% do sexo masculino. Na análise multivariada, a AF foi avaliada em suas três modalidades (AFO, AFD e ADL), e os trabalhadores ativos nos três tipos de AF compuseram o primeiro grupo, os ativos em duas modalidades formaram outro grupo e, no terceiro, ficaram os trabalhadores inativos ou ativos em apenas um tipo de AF. Essa divisão é passível de críticas: por exemplo, não impossível no mundo real, um empregado da fábrica de calçados (pouca AFO), pouco envolvido em AFD, mas que faz 1 hora de exercícios 5 vezes na semana (300 minutos na semana), seria classificado para o terceiro grupo (ativo em apenas uma modalidade de AF, junto com os inativos). 10 A contribuição da AFO no controle da HA é defendida pela maioria dos estudiosos, 2,8,11 mas não é uma opinião consensual. 9,12,13 Vários estudos epidemiológicos têmmostrado DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20200318 762

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