ABC | Volume 114, Nº4, Suplemento, Abril 2020

Correlação Anatomoclínica Favarato e Benvenuti Insuficiencia cardiaca após infarto do miocrdio e rotura de cordas tendineas Arq Bras Cardiol 2020; 114(4Supl.1):47-56 região da safenectomia; colite aguda pseudomembranosa; pancreatite por citomegalovírus; esteatose hepática; septicemia com múltiplos infartos pulmonares (causa do óbito). (Dr. Luiz Alberto Benvenuti) Comentários O presente caso refere-se a uma mulher de 56 anos de idade que foi submetida a plástica da valva mitral e cirurgia de revascularização do miocárdio cerca de 2 meses e meio antes do óbito. A paciente apresentava insuficiência cardíaca congestiva, prolapso da valva mitral com insuficiência severa 11 e obstrução coronariana detectada à cineangiocoronariografia, sendo a maior lesão localizada na artéria descendente posterior (obstrução de 90%). Foi submetida a correção cirúrgica da valvopatia (plástica com ressecção quadrangular da cúspide posterior), ocasião em que se verificou a presença de grande comunicação interatrial, medindo 15 mm, na fossa oval. É interessante notar que a associação entre prolapso da valva mitral e comunicação interatrial não é comum, tendo sido relatada muitos anos atrás em trabalho publicado no mesmo periódico. 12 Após a cirurgia, a paciente evoluiu com insuficiência mitral residual, classificada como de grau moderado aos exames de imagem. Na autopsia verificamos acentuada retração da cúspide posterior na região da plástica, o que impedia a correta coaptação das cúspides e fundamentava a insuficiência residual. Não havia endocardite infecciosa, cuja possibilidade foi cogitada clinicamente e constitui uma das complicações do prolapso valvar. 13 O fechamento da comunicação interatrial e a revascularização do miocárdio não apresentavam complicações. Deve-se salientar que a coronariopatia era de origem aterosclerótica e não tinha grandes repercussões miocárdicas, havendo apenas discreta miocardiosclerose do ventrículo esquerdo. A paciente apresentou infecção de tecidos moles na região da safenectomia e septicemia com hemocultura positiva para estafilococos, com progressivo agravamento do quadro clínico até o óbito. Na autopsia, confirmamos a presença de infecção aguda purulenta no local da safenectomia, com áreas de necrose. Não foi possível a identificação segura da presença de bactérias, o que certamente se deve à antibioticoterapia prolongada, provável causa da colite aguda pseudomembranosa encontrada. Não houve exame detalhado do sistema venoso do membro inferior, que poderia ter identificado tromboflebite séptica, provável origem dos êmbolos que ocasionaram os infartos pulmonares, considerados a causa terminal do óbito. Em trabalho de revisão publicado recentemente, trombose venosa profunda e tromboembolia pulmonar foram detectadas em 1,62% e 0,38% de 3 milhões de pacientes submetidos a cirurgia cardíaca e estiveram associadas a maior mortalidade. 14 Foi achado de autopsia pancreatite por citomegalovírus, que, entretanto, não apresentou repercussões clínicas significativas. É importante salientar que não se tratava de infecção generalizada por citomegalovírus, que foi identificado apenas no parênquima pancreático. A infecção pancreática por citomegalovírus é rara, tendo sido relatados muito poucos casos até o momento, tanto em pacientes imunodeprimidos quanto em imunocompetentes. 14 (Dr. Luiz Alberto Benvenuti) 1. Thygensen K, Alpert JS, Jaffe AS, Chaitman Br, Bax JJ, Morrow DA, et al. Fourth universal definition of myocardial infarction (2018). Eur Heart J. 2019; 40(3):237-69. 2. Kang J, Das B. Emergent Presentation of Decompensate Mitral Valve Prolapse and Atrial Septal Defect. West J Emerg Med. 2015; 16(3):432-4. 3. Avierinos JF, Gersh BJ, Melton III LJ, Bailey KR, Shub C, Nishimura RA, et al. Natural history of asymptomatic mitral valve prolapse in the community. Circulation. 2002;106(11):1355-61. 4. Delling FN, Rong J, Larson MG, Lehman B, Fuller D, Osypiuk E, et al. The evolution of mitral valve prolapse: insights from The Framingham Heart Study. Circulation. 2016; 133(17):1688-95. 5. Gabbay U, Yosefy C. The underlying causes of chordae tendinae rupture: a systematic review. Int J Cardiol. 2010; 143(2):113-8. 6. Shiraishi I, Nishimura K, Sakaguchi H, Abe T, Kitano M, Kurosaki K, et al. Acute rupture of chordae tendineae of the mitral valve in infants: a nationwide survey in Japan exploring a new syndrome. Circulation. 2014; 130(13):1053-61. 7. Habib G, Lancellotti P, Antunes MJ , Bongiorni MG, Casalta JP, Del Zotti F, et al. Task Force for the Management of infective endocarditis of the European Society of Cardiology Members. 2015 ESC Guidelines for management of infective endocarditis. Eur Heart J. 2015;36(44):3075-123. 8. ChavezLO,LeonM,EinavS,VaronJ.Beyondmuscledestruction:asystematic reviewofrhabdomyolysisforclinicalpractice.CriticalCare.2016;20(1):135. 9. TaylorRM,TujiosS, JinjuvadiaK,DavernT,ShaikhOS,HanS,etail.Shortand Long-Term Outcomes in Patients with Acute Liver Failure Due to Ischemic Hepatitis. Dig Dis Sci. 2012; 57(3):777-85. 10. Burke KE, Lamont JT. Clostridium difficile infection: A Worldwide Disease (Review). Gut and Liver. 2014; 8(1):1-6. 11. Hayek E, Gring CN, Griffin BP. Mitral valve prolapse. Lancet. 2005; 365(9458)507-18. 12. Frem AS, Bittencourt LA, Carvalhal-Filho SS et al. Association of mitral valve prolapseand interatrialcom munication:Reportofthecase.ArqBrasCardiol . 1979;32(2):113-6. 13. Khoury H, Lyons R, Sanaiha Y, Rudasill S, Shemin RJ, BenharASh P. Deep venous thrombosis and pulmonar embolism in cardiac surgical patients. Ann Thorac Surg. 2019 Nov 7; piiS0003-4975(19)31629-7. 14. Chan A, Bazerbachi F, Hanson B, Alraies MC, Duran-Nelson A. Cytomegalovirus hepatitis and pancreatitis in the immunocompetent. Ochsner J. 2014;14(2):295-9. Referências Este é um artigo de acesso aberto distribuído sob os termos da licença de atribuição pelo Creative Commons 56

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=