ABC | Volume 114, Nº4, Suplemento, Abril 2020

Correlação Anatomoclínica Favarato e Benvenuti Insuficiencia cardiaca após infarto do miocrdio e rotura de cordas tendineas Arq Bras Cardiol 2020; 114(4Supl.1):47-56 pseudomembranosa, recebeu prescrição de ciprofloxacino e metronidazol. O exame físico revelou frequência respiratória de 22 incursões por minuto, frequência cardíaca de 134 bpm, pressão arterial de 105x80 mmHg, saturação de oxigênio de 98% em uso de 2L/min de O 2 . Ausculta pulmonar mostrava estertores crepitantes até o terço médio; o ritmo cardíaco era regular em dois tempos, sem sopros; o abdome apresentava discreta distensão, com presença de ruídos hidroaéreos; havia edema dos membros inferiores, bilateral +++/4+, sem sinais de trombose venosa profunda. A radiografia de tórax (21/5/2017) revelou campos pulmonares livres e cardiomegalia (Figura 6). Os exames laboratoriais revelaram: hemoglobina, 8,2 g/dL; hematócrito, 25%; leucócitos, 22.750/mm³ (94% neutrófilos, 3% linfócitos, 3% monócitos); plaquetas, 217.000/mm³; ureia, 147 mg/dL; creatinina, 3,21 mg/dL; proteína C reativa, 49,19 mg/L; sódio, 133 mEq/L; potássio, 3,7 mEq/L; lactato, 34 mg/dL. Apresentou episódio convulsivo e recebeu fenitoína. Houve assistolia, a qual não respondeu às manobras de reanimação, e a paciente veio a óbito (22h55 min de 21/5/2017). Aspectos clínicos Paciente de 55 anos, com hipertensão arterial e insuficiência cardíaca há um ano e com dor precordial e parada cardiorrespiratória havia cinco meses, evoluiu com insuficiência cardíaca e insuficiência mitral por prolapso de valva mitral e rotura de cordas. A impressão diagnóstica é de que a insuficiência cardíaca por valvopatia mitral precedeu o episódio de dor precordial e dispneia intensa. Quanto ao episódio de dor precordial, discute-se se teria sido realmente infarto do miocárdio ou episódio de rotura de corda tendínea com agravamento súbito da insuficiência mitral e edema agudo de pulmão. A mais recente classificação de infarto do miocárdio (a quarta definição universal) introduziu um novo conceito: myocardial injury – lesão miocárdica sem infarto, na qual ocorre elevação de marcador de lesão (a troponina), mas sem configurar infarto, pela inexistência concomitante de quadro clínico sugestivo de alterações eletrocardiográficas e de motilidade de parede. Tal situação pode estar presente em grande número de estados clínicos – anemia, taquicardia ventricular, insuficiência cardíaca, doença renal, hipotensão e choque, hipoxemia. A nova definição incluiu dois tipos de lesão miocárdica: a aguda, com curva de troponinas, elevação e queda; e a crônica, com elevação mantida da troponina. 1 Na mesma publicação, nota-se que há um contínuo entre “lesão miocárdica isolada” e infarto tipo 2, pois as condições que os originam são as mesmas, dependendo apenas da intensidade e da ocorrência das alterações eletrocardiográficas e ecocardiográficas e de quadro clínico compatível com diagnóstico de infarto. Figura 6 - Radiografia de tórax (21/5/2017) mostrando campos pulmonares livres e cardiomegalia. 51

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