ABC | Volume 114, Nº4, Suplemento, Abril 2020

Relato de Caso Alencar Neto et al. Um Caso de Síndrome do Bloqueio de Ramo Esquerdo Doloroso Arq Bras Cardiol 2020; 114(4Supl.1):34-37 uma possível causa para essa síndrome, mas logo essa suposição se mostrou incorreta. O início/fim imediatos da dor são incompatíveis com isquemia. 4 A nitroglicerina se mostrou ineficaz 2 e, às vezes, induziu o BRE devido à taquicardia. Muitas vezes, o resultado do exame de imagem nuclear era negativo e o vasoespasmo também havia sido descartado. 5,6 A melhor teoria até agora é a proposta por Virtanen et al., 3 que, por meio da avaliação de ventriculografias, especulou que a dor poderia ser induzida pelo movimento sistólico anormal do septo. A presença do eixo inferior em uma série de casos de maneira uniforme fez com que os autores presumissem a existência de um padrão de contratilidade específico. Shvlikin et al., 7 propuseram critérios para o diagnóstico da síndrome do BRE doloroso (Tabela 1). 7 De forma semelhante à onda T da memória cardíaca de pacientes com marcapasso, o BRE crônica apresenta ondas T de menor amplitude do que a BRE aguda. Em estudo prospectivo, uma relação S/T < 2,5 em derivações precordiais se mostrou eficaz (100% sensibilidade e 89% especificidade) para distinguir entre o BRE de início recente ou crônico, 8 um dos itens dos critérios propostos na Tabela 1. A paciente a qual se refere este artigo foi encaminhada ao EEF por conta de uma hipótese equívoca de taquicardia supraventricular com aberrância. Durante o estudo, com a estimulação atrial contínua, tivemos a oportunidade de registrar o momento exato do bloqueio de ramo esquerdo e a imediata queixa sobre a mesma dor previamente referida pela paciente como sendo crônica. Ao traçarmos uma comparação com os critérios propostos por Schvilkin et al., 8 verificamos que nosso caso se encaixa em todos os critérios, com a exceção de um: o “critério do eixo inferior”. Entretanto, outras publicações também mostraram um complexo QRS superior. 9,10 A relação S/T foi igual a 1,33 em V2 (Figura 3), compatível com um BRE de início agudo. A paciente apresentou início abrupto de dor, conforme registrado pelos membros da nossa equipe no laboratório de eletrofisiologia. O desaparecimento dos sintomas ocorreu imediatamente após o desaparecimento do BRE. O ECG basal de 12 derivações estava normal. Um teste de esforço descartou a isquemia miocárdica e a angiotomografia revelou artérias coronárias normais. Tanto a ecocardiografia quanto a ressonância cardíaca estavam normais, com exceção das causas secundárias da angina. Conclusão Relatamos um caso de BRE doloroso de uma paciente encaminhada ao EEF. O início abrupto da dor assim que o bloqueio do ramo esquerdo ocorre é incompatível com a isquemia. Além disso, a paciente foi submetida a exames que descartaram o comprometimento coronário e miocárdico. A melhor hipótese para a fisiopatologia dessa síndrome é a dissincronia dolorosa do coração resultante do BRE de início agudo. Até onde sabemos, este é o primeiro relato de caso sobre essa síndrome em uma revista médica brasileira. Figura 3 – Relação S/T < 1,8 em V2. 36

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