ABC | Volume 114, Nº4, Abril 2020

Artigo Original Albuquerque et al. Polimorfismo Ser49Gly na insuficiência cardíaca Arq Bras Cardiol. 2020; 114(4):616-624 Tabela 3 – Análise multivariada: fatores preditores de óbito Variável p odds ratio Cópia do Alelo Gly 0,030 0,37 (0,15 a 0,91) NYHA final 0,002 2,14 (1,32 a 3,45) FEVE final 0,002 0,94 (0,91 a 0,98) Creatinina 0,051 1,52 (1,00 a 2,31) Baixa adesão 0,346 1,50 (0,65 a 3,46)) FC final 0,124 1,03 (0,99 a 1,07) NYHA: classe funcional da New York Heart Association; FEVE: fração de ejeção de ventrículo esquerdo; FC: frequência cardíaca Figura 1 – Número de óbitos de acordo com os polimorfismos genéticos do receptor β1 Ser49Gly. Os dados foram expressos em frequências absolutas e relativas. Na comparação entre os genótipos Ser-Ser × Ser-Gly × Gly-Gly: *p = 0,026, teste qui-quadrado. 54* (44,3%) 12* (23,5%) 1* (20,0%) Gly-Gly (n = 5) Ser-Gly (n = 52) Ser-Ser (n = 122) 60 50 30 40 20 10 0 de brancos entre o presente estudo e o de Pereira et al., 16 há diferença do seu perfil genético. Assim, a etnia avaliada pela cor da pele isoladamente não explicaria o alto percentual do genótipo Gly-Gly observado por esses autores. Reforçando esse ponto, estudos internacionais mostraram acentuada semelhança com a presente coorte quanto à distribuição genotípica do PG-R β 1: 7,9,17 63 a 73% de indivíduos Ser‑Ser, 27 a 35% Ser-Gly e 0 a 3% Gly-Gly, embora tenham sido realizados com outras etnias. O desenvolvimento de mais estudos nacionais pode ser interessante para avaliar a distribuição genotípica desse polimorfismo genético na nossa população. Outro aspecto ainda mais relevante é a interpretação clínica desse PG. Nesse caso, foi possível demonstrar que o Gly-Gly teve associação significativa com ummarcador clínico substituto: NYHA final (p=0,014). Indivíduos portadores desse genótipo tiveram melhor evolução clínica: nenhum paciente desse grupo apresentou uma classe funcional avançada no final do seguimento. Apesar de ser relativamente pequeno (cinco indivíduos), o maior tempo de seguimento em relação aos demais trabalhos permitiu a distinção de comportamentos clínicos entre os genótipos. Como não havia diferença das características basais entre os três PG, inclusive de tratamento, a diferença da NYHA final observada nesse estudo sugere a contribuição da influência genética na fisiopatologia da cardiopatia. Assim, a genotipagem poderia indicar um subgrupo de pacientes com IC com pior evolução clínica. Esse achado é inédito na literatura, uma vez que não há publicações em pacientes com IC relacionando o PG‑R1‑Ser49Gly a variáveis clínicas evolutivas como a classe funcional pela NYHA. Por isso, não é possível confrontar esse resultado com outras populações, o que seria interessante para validação desse achado. Apesar do seu reconhecido valor prognóstico, a classe funcional da NYHA é um marcador inexato da gravidade da IC. A falta de reprodutibilidade interexaminador já foi descrita e pode limitar sua acurácia. 21 Ela também traduz apenas um aspecto clínico da síndrome. É possível que, no futuro, seja mais interessante estudar a relação do genótipo com escores clínicos mais completos como o MAGGIC, 22 no qual há a combinação das variáveis clínicas, laboratoriais e ecocardiográficas. No presente estudo, a elevada taxa de mortalidade observada, 37,6%, deve-se provavelmente ao tempo de acompanhamento prolongado. Para efeito de comparação, Biolo et al. 10 registraram 27,9% de óbitos no Rio Grande do Sul, e Pereira et al., 16 12,3% de mortalidade no Rio de Janeiro. Apesar da disparidade dessas taxas, notam-se semelhanças nas características basais dessas populações: uma FEVE em torno de 30 a 35%, a maioria (65 a 75%) dos pacientes em NYHA I ou II e uma excelente terapêutica adotada. A diferença mais significativa entre os três trabalhos reside no seu tempo de acompanhamento: 80,4 meses no presente estudo, 39,8 meses 10 e 23 meses 16 nos estudos citados, respectivamente. 621

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