ABC | Volume 114, Nº4, Abril 2020

Artigo Original Albuquerque et al. Polimorfismo Ser49Gly na insuficiência cardíaca Arq Bras Cardiol. 2020; 114(4):616-624 A média da classe funcional NYHA final foi menor que a inicial (2,15 ± 0,9 → 2,02 ± 1,0). Com relação ao caráter evolutivo, 24,9% evoluíram commelhora de classe funcional, 38,4% permaneceram estáveis e 36,7% com piora da NYHA. Não houve diferença significativa entre os PG-R β 1 e os valores médios da NYHA ou da mudança de classe funcional durante o seguimento clínico. Desfechos: óbitos e internações por insuficiência cardíaca Foram pesquisados desfechos clínicos – internação por IC e óbito – combinados e isoladamente. O desfecho combinado “internação por IC + óbito” ocorreu em 100 pacientes (56,2%). Ele foi mais frequente no grupo Ser-Ser (60,7%) sem diferença significativa quando comparado ao Ser-Gly (47,1%) ou Gly-Gly (40,0%). Com relação ao número de hospitalizações isoladamente, observou-se um total de 182 eventos em 74 pacientes, sem diferença significativa entre os PG-R β 1. Por último, foram analisados apenas os óbitos: 67 eventos – uma taxa de mortalidade global de 37,6%. O genótipo Ser-Ser correspondeu a 80,5% desse total e apenas 1,5% dos pacientes que morreram foram genotipados com Gly-Gly. Na análise comparativa da distribuição dos óbitos pelos PG, houve uma diferença significativa (p = 0,026) entre os genótipos Ser-Ser, Ser-Gly e Gly-Gly, com taxas de mortalidade de 44,3%, 23,5% e 20,0%, respectivamente. A Tabela 2 e a Figura 1 reproduzem esses achados. O impacto do PG-R β 1 na mortalidade desses pacientes foi demonstrado através de análise multivariada: o alelo Gly teve um efeito protetor independente de outros fatores, após o ajuste para NYHA final, FEVE final, creatinina, baixa adesão e frequência cardíaca final. A presença de cada cópia do alelo Gly foi associada à redução na chance de óbito de 63% (p = 0,03; odds ratio 0,37 – IC 0,15 a 0,91). Esses dados estão apresentados na Tabela 3. Foi possível apurar a causa mortis em 56% (34) dos casos: 61,8% foram relacionadas com a piora da IC; 29,4%, morte súbita; e 8,8%, outras causas. Não houve diferença entre os genótipos para a causa da morte. Discussão Este trabalho descreve a relação entre os genótipos do polimorfismo genético do receptor beta1 – Ser49Gly e a evolução clínica em 178 pacientes com IC, com seguimento médio de 6,7 anos. Trata-se de trabalho com genotipagem do Ser49Gly no contexto da IC com maior tempo de seguimento já publicado. Seu principal achado foi a associação do PG-R β 1 Gly-Gly com um efeito protetor para desfechos clínicos, com melhor evolução clínica avaliada pela classe funcional NYHA e menor risco de óbitos. Ao fazer a comparação com outras populações brasileiras, encontramos uma distribuição alélica relativamente semelhante: o alelo Gly esteve presente em 13 a 17% dos casos de IC. 10,16 Com relação aos genótipos, houve grande semelhança com o trabalho de 201 pacientes do Rio Grande do Sul, 10 mas uma diferença com a coorte com 146 pacientes de Niterói, no Rio de Janeiro. 16 É possível que com a intensa miscigenação da população brasileira, a cor da pele não seja um bom fator determinante do perfil genético, pois, apesar da similaridade no percentual Tabela 2 – Desfechos clínicos características da população do estudo total e pelos PG-Rβ1 Variável clínica * Total Polimorfismo genético receptor 1 Ser49Gly Ser-Ser (n = 122) Ser-Gly (n = 51) Gly-Gly (n = 5) p NYHA Final I 68 42 24 2 0,014 38,2% 34,4% 47,1% 40,0% II 57 45 9 3 32,0% 36,9% 17,6% 60,0% III 35 19 16 0 19,7% 15,6% 31,4% 0,0% IV 18 16 2 0 10,1% 13,1% 3,9% 0,0% Média 2,02 ± 1,0 2,07 ± 1,0 1,92 ± 1,0 1,6 ± 0,5 0,420 FEVE Final (%) 35,4 ± 13,3 35,1 ± 13,2 35,8 ± 13,4 39,6 ± 16,2 0,751 Internação n 74 54 18 2 0,55 % 41,6% 44,3% 35,3% 40,0% Óbito n 67 54 12 1 0,026 % 37,6% 44,3% 23,5% 20,0% Internação + óbito n 100 74 24 2 0,197 % 56,2% 60,7% 47,1% 40,0% *As variáveis numéricas estão expressas em média ± desvio-padrão; as variáveis categóricas em [n (%)]. PG-Rβ1: polimorfismo genético receptor β1 Ser49Gly; NYHA: classe funcional da New York Heart Association; FEVE: fração de ejeção do ventrículo esquerdo. 620

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