ABC | Volume 114, Nº4, Abril 2020

Minieditorial Como Saber se uma Mudança é uma melhoria? O (Não Tão) Novo Conhecimento Científico que todo Médico deve Aprender, Dominar e Liderar How Do We Know a Change is an Improvement? The (Not So) New Scientific Knowledge Every Physician Should Learn, Master and Lead Alexandre Siciliano Colafranceschi 1,2, 3 Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 1 Rio de Janeiro, RJ - Brasil Instituto Nacional de Cardiologia, 2 Rio de Janeiro, RJ - Brasil Hospital Pró Cardíaco, 3 Rio de Janeiro, RJ – Brasil Minieditorial referente ao artigo: Análise de >100.000 Cirurgias Cardiovasculares Realizadas no Instituto do Coração e a Nova Era com Foco nos Resultados Correspondência: Alexandre Siciliano Colafranceschi • Instituto Nacional de Cardiologia - Cirurgia Cardíaca - Rua das Larangeiras, 374. CEP 22240-002, Rio de Janeiro, RJ – Brasil E-mail: alexandre.siciliano@gmail.com Palavras-chave Procedimentos Cirúrgicos Cardiovasculares/tendências; Melhoria da Qualidade; Segurança do Paciente; Mortalidade Hospitalar; Banco de Dados. Os cirurgiões cardiotorácicos têm uma rica história de melhora da qualidade e um forte caráter de transparência e inovação, permitindo a rápida difusão de padrões, técnicas e referências em todo o mundo. A nível nacional, poucas especialidades médicas contribuíram tanto para o desenvolvimento do conhecimento quanto a cirurgia cardíaca brasileira. Desde o trabalho intenso desenvolvido por décadas por cirurgiões pioneiros como Euryclides Zerbini e Adib Jatene até os líderes mais contemporâneos da área, o Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – InCor – está definitivamente no coração desta jornada. 1 Nesta edição da Arquivos Brasileiros de Cardiologia, o trabalho de Mejia et al,. 2 tem o mérito de levar em consideração a evolução do número de cirurgias cardiovasculares realizadas no InCor durante um período de 35 anos. O número total é notável: foram analisados mais de 100.000 procedimentos de coração aberto. Afinal, o número médio de procedimentos/ano é 2.964, – ou mais de 11 procedimentos por dia de trabalho. Destaca-se o fato de o número total de procedimentos estar aumentando, principalmente devido ao aumento das cirurgias valvares e à correção das cardiopatias congênitas. Além disso, há uma redução de 7% no volume de cirurgias de revascularização do miocárdio no mais recente período estudado. Além de descrever o volume de procedimentos cirúrgicos de diferentes doenças cardiovasculares ao longo de cinco períodos diferentes durante os 35 anos de dados, outro objetivo do estudo de Mejia et al., 2 foi avaliar o impacto das ações realizadas de um programa de melhoria contínua da qualidade na mortalidade por cirurgia cardiovascular. Não está claro, no entanto, como os períodos foram selecionados para as análises. A iniciativa de melhora da qualidade no InCor, denominada “Programa de Melhora Contínua da Qualidade” (PMCQ), foi consolidada em 2016 com uma clara missão de diminuir a mortalidade cirúrgica operatória cardiovascular. Ela faz parte da Unidade Cirúrgica de Qualidade e Segurança do Paciente Cirúrgico (UCQSP) como um departamento da Divisão Cirúrgica Cardiovascular do InCor. De acordo com os autores, esta unidade visa apoiar a construção da cultura de segurança, promover a transparência, padronizar o treinamento, melhorar o trabalho das equipes e monitorar o desempenho cirúrgico. 2 Quando o InCor visa apoiar a construção de uma cultura de segurança, fica claro que eles estão na direção certa. Como afirma Robert Lloyd, 3 vice-presidente do Institute for Healthcare Improvement , “Qualidade” não é um departamento. Uma organização só fará melhoras significativas e sustentáveis quando as pessoas em todos os níveis sentirem um desejo e uma responsabilidade compartilhados para melhorar processos e resultados todos os dias. Após a análise dos dados, os autores concluíram que houve uma diminuição significativa da mortalidade operatória (mais próxima dos padrões internacionais) nos grupos estudados após a implementação do programa de melhora da qualidade no InCor. A questão que permanece é, como sabemos que as alterações feitas após a consolidação do PMCQ resultaram em uma melhoria na mortalidade cirúrgica? Dirigir esforços na coleta, análise e aplicação de dados dos resultados cirúrgicos a fim de melhorar a qualidade e reavaliar condutas e procedimentos é fundamental para as iniciativas de melhora da qualidade. Entretanto, misturar medidas de prestação de contas ou pesquisa com medidas de melhora é contraproducente. 4 Os conceitos modernos de Melhora de Qualidade (QI, Quality Improvement ) tiveram sua origem nas medidas do Controle Estatístico de Processo (CEP), desenvolvidas por Walter Shewart na década de 1920. O casamento dessas técnicas com uma filosofia de gerenciamento geral de Edwards Deming, Joseph Juran e outros resultou no movimento da qualidade, conhecido por vários termos e acrônimos (TQM - Total Quality Management, CQI - Continuous Quality Improvement , etc.). Embora tenham DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20200249 613

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