ABC | Volume 114, Nº4, Abril 2020

Posicionamento Posicionamento Luso-Brasileiro de Emergências Hipertensivas – 2020 Arq Bras Cardiol. 2020; 114(4)736-751 Sumário 1. Definição, Epidemiologia e Classificação das Emergências Hipertensivas ........................................................................................738 2. Aspectos Fisiopatológicos da Emergência Hipertensiva ..........739 2.1. Autorregulação do Fluxo Sanguíneo Cerebral ....................................739 3. Avaliação Clínica e Laboratorial ...................................................740 4. Tratamento das Emergências Hipertensivas: Princípios Gerais, Principais Fármacos e Dosagens ......................................................740 5. Encefalopatia Hipertensiva ............................................................741 5.1. Manifestações Clínicas .....................................................................741 5.2. Diagnóstico .......................................................................................741 5.3. Tratamento .......................................................................................742 6. Hipertensão Maligna ou Acelerada ..............................................742 7. Acidente Vascular Cerebral e Emergência Hipertensiva ...........743 7.1. Acidente Vascular Cerebral Isquêmico ..............................................743 7.2. Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico ..........................................744 8. Síndromes Coronarianas Agudas e Emergência Hipertensiva ......................................................................................744 9. Disfunção Ventricular Esquerda Aguda na Emergência Hipertensiva ..........................................................................................745 10. Síndromes Aórticas Agudas ........................................................745 10.1. Tratamento .....................................................................................745 11. Emergências Hipertensivas na Gestação ................................745 11.1. Tratamento .....................................................................................746 12. Emergências Adrenérgicas .........................................................746 13. Drogas Ilícitas e Emergência Hipertensiva ...............................747 14. Emergência Hipertensiva no Pós-Operatório de Cirurgia Vascular .................................................................................................748 Referências ...........................................................................................748 1. Definição, Epidemiologia e Classificação das Emergências Hipertensivas A emergência hipertensiva (EH) está integrada em um quadro nosológico mais geral denominado crise hipertensiva (CH). A CH representa situações clínicas que cursam com elevação aguda da pressão arterial (PA), geralmente níveis de PA sistólica (PAS) ≥ 180 mmHg e diastólica (PAD) ≥ 120 mmHg, que podem resultar ou não em lesões de órgãos-alvo (LOA) (coração, cérebro, rins e artérias). 1-5 A CH pode se apresentar sob duas formas distintas em relação à gravidade e ao prognóstico: a urgência hipertensiva (UH) e a EH. Casos de EH cursam com elevação acentuada da PA associada a LOA e risco imediato de morte, fato que requer redução rápida e gradual dos níveis tensionais em minutos a horas, com monitoramento intensivo e uso de fármacos por via endovenosa (EV). 1-5 Ela pode se manifestar como um evento cardiovascular, cerebrovascular, renal ou na gestação, na forma de pré-eclâmpsia ou eclâmpsia. Embora a definição clássica das duas apresentações da CH a descreva com valores acima dos 180/120 mmHg, atualmente o maior consenso se estabelece no conceito de que mais do que os valores é o dano ou o risco iminente de acometimento de órgãos-alvo que distingue a EH da UH. Assim, a UH caracteriza-se por elevações da PA, sem LOA e sem risco de morte iminente, fato que permite redução mais lenta dos níveis de PA em período de 24 a 48 horas. Atualmente, existe uma ampla discussão sobre a real existência do diagnóstico “urgência hipertensiva”. 6 Muitos preconizam que esta classificação necessita ser atualizada (se não abandonada) e que a maior importância diagnóstica é a observação dos sinais/sintomas e da disfunção aguda dos órgãos-alvo, mais do que no valor da PA. Outros acreditam que o termo correto deveria ser “elevação da PA sem LOA em evolução”. 5,7 Como visto, embora o nível de PA seja frequentemente muito elevado (≥ 180/120 mmHg), não é isso que define EH, mas o comprometimento dos órgãos-alvo. Portanto, o padrão numérico que define a CH é conceitual e serve como parâmetro de conduta, mas não deve ser usado como critério absoluto. Se a definição de CH hoje está mais universalmente aceita, a epidemiologia e prevalência desta condição são ainda questões de baixo conhecimento da comunidade científica. Na literatura, existem poucos estudos sobre o tema e todos eles com número limitado de participantes. Atualmente, discute-se a hipótese de a não adesão ao tratamento ser um dos fatores mais prevalentes na etiologia da CH, sem especificações quanto à separação entre UH e EH. Nos EUA, nos maiores estudos seriados a incidência de CH é de cerca de 4,8%, sendo 0,8% atribuída às EH. 8,9 Outros centros mostram que a CH responde por uma taxa variável de 0,45 a 0,59% de todos os atendimentos de emergência hospitalar e 1,7% das emergências clínicas, sendo a UH mais comum do que a EH. 10-12 Acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico e edema agudo de pulmao (EAP) são as situações clínicas mais encontradas nas EH. 10,11 Estima-se que cerca de 1% dos indivíduos hipertensos possa vir a apresentar uma CH ao longo da sua vida. 1,2 As situações clínicas envolvidas em uma EH, de acordo com as LOA, são mostradas na Tabela 1. A Tabela 2 mostra as principais situações relacionadas à UH. 738

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