ABC | Volume 114, Nº4, Abril 2020

Editorial Vida Fisicamente Ativa como Medida de Enfrentamento ao COVID-19 Physically Active Lifestyle as an Approach to Confronting COVID-19 Maycon Junior Ferreira, 1 Maria Cláudia Irigoyen, 2 Fernanda Consolim-Colombo, 2,3 José Francisco Kerr Saraiva, 4 Kátia De Angelis 1, 3 Laboratório de Fisiologia do Exercício - Departamento de Fisiologia - Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), 1 São Paulo, SP - Brasil Instituto do Coração (InCor) - Faculdade de Medicina - Universidade de São Paulo, 2 São Paulo, SP - Brasil Universidade Nove de Julho (UNINOVE), 3 São Paulo, SP - Brasil Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), 4 Campinas, SP - Brasil Correspondência: Kátia De Angelis • Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Edifício de Ciências Biomédicas, Departamento de Fisiologia (5º andar) - Rua Botucatu, 862. CEP 04023901, Vila Clementino, São Paulo, SP - Brasil E-mail: prof.kangelis@yahoo.com.br Palavras-chave Coronavirus-19; COVID-19; Exercício; Atividade Motora; Sedentarismo; Fatores de Risco; Prevenção e Controle. A rápida e incontrolável disseminação do novo coronavírus (SARS-CoV-2) pelo mundo aliada à sua gravidade fez com que, no dia 11 de março de 2020, o Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) caracterizasse a situação como pandemia. 1 Atualmente, nota-se um esforço cada vez mais intenso por parte das organizações de saúde e do poder público no sentido de conter o avanço e disseminação do SARS-CoV-2. O SARS-CoV-2 emerge como um novo subtipo de síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV) humana caracterizado por alta capacidade de transmissão e indução de quadros de infecção respiratória severa. Estudos recentes demonstraram alta prevalência de hipertensão arterial e diabetes em pacientes idosos acometidos pela COVID-19 que vieram a óbito em Wuhan, China, 2,3 epicentro do surto de SARS-CoV-2, o que sugere que tais comorbidades são importantes fatores de risco para o agravamento e pior prognóstico das complicações associadas ao COVID-19. Diante das recomendações de isolamento social atualmente impostas em vários países, incentivar a manutenção de uma rotina de vida fisicamente ativa por parte da população como uma medida preventiva para a saúde é fundamental durante esse período de enfrentamento contra a disseminação do vírus. Em um período de reclusão domiciliar a população tende a adotar uma rotina sedentária, o que favoreceria a um aumento no ganho de peso corporal e surgimento de comorbidades associadas a maior risco cardiovascular, como obesidade, aumento da pressão arterial, intolerância à glicose, bem como transtornos psicossociais como ansiedade e depressão. De fato, o comportamento sedentário, seja sentado, assistindo TV ou passando tempo em frente a dispositivos eletrônicos, foi associado a aumento do peso corporal em crianças, 4 adolescentes, 5 adultos e idosos 6 e aumento marcante do risco de mortalidade cardiovascular. 7 Por outro lado, o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e mortalidade mostra-se reduzido em indivíduos com hábitos de vida fisicamente ativos, como caminhadas de moderada intensidade. 8 Além disto, tem sido demonstrado que o risco de infecção do trato respiratório superior por coronavírus é potencialmente maior na presença de deficiência do sistema imunológico. 9 Neste sentido, a prática de exercício físico como medida benéfica para a melhora da imunidade é fortemente evidenciada na literatura. 10-12 O Colégio Americano de Medicina do Esporte divulgou recentemente um guia em que sugere que a atividade física de intensidade moderada deva ser mantida no período de quarentena em função do SARS-CoV-2, salientando a importância para a saúde de cada minuto fisicamente ativo. 13 Vale lembrar que as recomendações da OMS para indivíduos saudáveis e assintomáticos são de, no mínimo, 150 minutos de atividade física por semana para adultos e 300 minutos de atividade física por semana para crianças e adolescentes. 14 Esse tempo de atividade física deve ser acumulado durante os dias da semana, podendo ser dividido de acordo com a rotina do sujeito, sendo composto preferencialmente por atividades físicas de intensidade moderada e intensa. Ressaltamos a importância da orientação de profissionais do exercício físico para a adequação da prática de atividade física por parte da população. É fundamental que indivíduos que realizem exercícios físicos regularmente mantenham a prática, porém adequando-se à condição atual de restrições de circulação. Manter-se fisicamente ativo deve ser enfatizado ainda mais para indivíduos idosos, os quais comprovadamente apresentam mais comorbidades e maior risco cardiovascular, além de serem mais vulneráveis ao COVID-19. Populações com comorbidades cardiovasculares devem realizar atividades físicas diariamente, mantendo o tratamento farmacológico e respeitando suas eventuais limitações físicas e as recomendações de profissionais de saúde. A prática de exercícios físicos deve ser interrompida na presença de sintomas relacionados ao COVID-19 como febre, tosse seca e dispneia, quando em repouso. É importante destacar que o ambiente domiciliar e familiar também é propício para realização de atividade física. Desta forma, independentemente da faixa etária, devem ser recomendados à população alguns comportamentos e atitudes que ajudarão na manutenção de uma vida fisicamente ativa, da saúde física e mental e serão importantes para o enfrentamento deste momento de isolamento social, tais como: • realizar atividades físicas que sejam prazerosas, explorando espaços domiciliares e utensílios disponíveis para se movimentar; • realizar atividades de vida diária como limpeza, manutenção e organização dos espaços domésticos; DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20200235 601

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