ABC | Volume 114, Nº4, Abril 2020

Artigo Original Souza et al. Descenso pressórico do sono em chagas agudo Arq Bras Cardiol. 2020; 114(4):711-715 teste de Kolmogorov-Smirnov e a inspeção de normalidade por histograma, assim como a curtose e nível de assimetria. A análise estatística foi realizada com o SPSS 23.0 para Windows (IBM Corp. Lançado em 2015, IBM SPSS Statistics para Windows, Versão 23.0, Armonk, NY: IBM Corp). Resultados No total de 54 pacientes com infecção aguda por T. cruzi , a idade média foi de 36,2 ±10,4 anos, onde 30 erammulheres (idade média 34,7 ± 19,0 anos) e 24 homens (idade média 38,3 ± 19,7 anos). A MAPA revelou que 40 pacientes (74,0%) apresentavam ausência de descenso sistólico do sono, sendo que 29 (53,7%) não apresentavam descenso diastólico. A ausência concomitante de descenso sistólico e diastólico ocorreu em 29 pacientes (53,7%); 7 (12,9%) apresentaram ascensão noturna da PAS e 10 (18,5%) pacientes da PAD. Como pode ser visto na Tabela 1, não foram identificadas diferenças estatisticamente significativas para as médias das pressões sistólicas e diastólicas nas 24 h, na vigília e no sono dos pacientes com DCA e do grupo controle. Na Tabela 2, encontramos diferenças significativas quando comparamos o grupo de pacientes ao grupo controle, notadamente na variável descenso sistólico e diastólico do sono, em ambos os sexos. Discussão Na fase crônica da doença de Chagas, as alterações do sistema nervoso autônomo são bem conhecidas, caracterizadas por perda neuronal e lesão do sistema parassimpático, com consequente aumento da atividade simpática. 8 Estudos realizados empacientes coma forma indeterminada da doença de Chagas demonstraram predominância de atividade parassimpática, a qual foi correlacionada com disfunção autonômica. 9 Resultados de um interessante estudo apontaram para a existência de uma relação entre as alterações na modulação autonômica e a função endotelial em pacientes com a DCA. 10 Lesões do sistema nervoso central foram observadas em estudos anatomopatológicos de paciente com DCA, sendo descritas lesões sistêmicas e à distância ocasionada pelo parasita em células ganglionares. 11,12 Em todas as fases da doença de Chagas pode-se demonstrar o acometimento do sistema nervoso autônomo, e as alterações do controle autonômico parassimpático não foram correlacionadas com sintomas cardiovasculares por testes funcionais em humanos. 13 A perda do controle autonômico na cardiopatia chagásica crônica foi descrita em estudo caso-controle que avaliou a correlação entre inervação simpática, alterações de perfusão e anormalidade de parede ventricular, mostrando que o comprometimento da função simpática cardíaca ocorre em fase precoce no curso evolutivo Tabela 2 – Número de pacientes com alterações na monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA) no grupo controle e no grupo com doença de Chagas aguda Controle Doença de Chagas aguda Mulheres (n=30) Homens (n=24) Total (n=54) Mulheres (n=30) Homens (n=24) Total (n=54) Ausência de descenso sistólico do sono 5 4 9 (16,6%) 20 20 40 (74,0%)* Ausência de descenso diastólico do sono 4 3 7 (12,9%) 9 20 29 (53,7%)* Ausência de descenso sistólico e diastólico do sono 4 3 7 (12,9%) 16 12 28 (51,8%)* Ascensão sistólica da pressão no sono 0 1 1 (1,8%) 5 2 7 (12,9%)* Ascensão diastólica da pressão no sono 0 1 1 (1,8%) 5 5 10 (18,5%)* Dados apresentados como números absolutos e percentuais. Teste do qui-quadrado para comparações entre os grupos doença de Chagas aguda e controle, sendo consideradas diferenças significativas quando p<5% (*). Tabela 1 – Pressões arteriais médias nas 24h, na vigília e durante o sono de 54 pacientes normotensos com doença de Chagas aguda e 54 pacientes normotensos sem doença de Chagas (controle) Controle DCA 24h vigília sono 24h vigília sono Média 114,1±10,3 117,3±10,4 100,9±10,0 111,0±10,6 112,7±10,5 105,1±11,7 PAS mmHg Média 68,9±7,6 71,3±8,1 59,2±7,5 66,9±7,0 68,3±7,2 62,2±8,1 PAD mmHg Dados são expressos como média e desvio padrão. PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; DCA: doença de Chagas aguda. 713

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