ABC | Volume 114, Nº4, Abril 2020

Artigo Original Souza et al. Descenso pressórico do sono em chagas agudo Arq Bras Cardiol. 2020; 114(4):711-715 Conclusions: In patients with acute Chagas disease, a significant absence of the physiological fall in both systolic and diastolic blood pressure was observed during sleep, and some of the patients showed nocturnal increase in these parameters. These findings suggest autonomic changes in the acute phase of Chagas disease. (Arq Bras Cardiol. 2020; 114(4):711-715) Keywords: Chagas Disease/physiopathology; Blood Pressure/physiology; Autonomic Nervous System/physiology; Blood Pressure Monitoring, Ambulatory/methods; Hypertension. Full texts in English - http://www.arquivosonline.com.br Introdução A doença de Chagas é uma zoonose causada pelo protozoário hemoflagelado Trypanosoma cruzi ( T. cruzi ). A doença é endêmica em 21 países latino-americanos e gera alto impacto social dada sua morbimortalidade elevada. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima- se que haja de 6 a 7 milhões de pessoas infectadas em todo mundo, grande parcela delas na América Latina. 1 A forma clássica de transmissão vetorial ao homem vem diminuindo em zonas endêmicas na América Latina devido às iniciativas de controle da infecção. Porém, o desmatamento intenso na região Amazônica, associado às migrações populacionais provocam mudanças do cenário epidemiológico, ocorrendo aumento expressivo da transmissão oral. 2 Na transmissão por via oral, a apresentação clínica mais frequente da fase aguda inclui síndrome febril prolongada, frequentemente relacionada com surtos de microepidemia familiar, e diversos sintomas inespecíficos, característicos da forma vetorial, porém commaior morbidade e mortalidade. 3-5 Na forma crônica da doença de Chagas encontramos, na maioria dos pacientes, importantes alterações no sistema autônomo, com aumento da atividade simpática e diminuição da parassimpática; entretanto, à luz do atual conhecimento, são desconhecidas as possíveis alterações autonômicas durante o acometimento agudo. Muitos pacientes apresentam alterações na pressão arterial (PA), e a monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA) revela alterações na pressão arterial durante o sono, principalmente no descenso. Nos pacientes não chagásicos este evento tem sido interpretado como sinal de disautonomia e possível preditor de risco cardiovascular. 6 Em vista do declínio fisiológico da PA durante o sono estar relacionado com a regulação autonômica, é importante a MAPA na doença de Chagas aguda (DCA) para uma melhor compreensão do comportamento pressórico, sobretudo no período do sono. Portanto, o objetivo do presente estudo foi avaliar o comportamento da PA em pacientes com DCA, por meio da MAPA. Métodos Este foi um estudo de centro único realizado em hospital universitário. Foi realizada a MAPA em 54 pacientes (amostragem por conveniência) com DCA por contaminação oral, atendidos em ambulatório de referência em doenças infecciosas e parasitárias e um grupo controle com 54 participantes saudáveis, pareados por idade e gênero. O objetivo da utilização de um grupo controle neste estudo foi avaliar a prevalência da ausência do descenso noturno na população sem comorbidades, tendo em vista que essa variável não foi estudada na população brasileira. Os participantes eram saudáveis e sem nenhuma queixa ou história de qualquer doença, com exame clínico normal e sem uso de nenhuma medicação no período basal. Todos os participantes, ou representantes legais assinaram termo de consentimento informado. Foi utilizado para a monitorização da pressão arterial o aparelho da marca Dyna-MAPA ® . Os critérios de inclusão foram: pacientes ambulatoriais com diagnóstico de DCA utilizando-se o critério clínico, parasitológico e/ou sorológico positivo somado ao vínculo epidemiológico de acordo com protocolo do ministério da saúde, disponível em: http:// portalms.saude.gov.br/saude-de-a-z/doenca-de-chagas. Os critérios de exclusão foram: presença de diabetes mellitus , doenças neurológicas, hipertensão arterial, doença cardiovascular prévia, outras infecções em curso, distúrbio hematológicos como anemia, uso de drogas ilícitas, doenças com comprometimento da função renal, disfunções de tireoide, gravidez, alcoolismo ou outras alterações sistêmicas de relevância. Para o grupo controle foram analisadas as MAPAs de indivíduos normotensos. O exame foi solicitado não por suspeita de hipertensão, e sim para avaliação periódica de saúde. Não foram incluídos pacientes com qualquer tipo de doença cardíaca. Foram avaliadas as seguintes variáveis pela MAPA: pressão arterial sistólica (PAS) e pressão arterial diastólica (PAD) no período de 24 horas, na vigília e no período do sono, e descenso do sono. O descenso fisiológico para a PAS e PAD foi considerado quando houvesse redução ≥ 10% na média dos valores registrados no período de vigília. Considerou-se como período de vigília na MAPA o período entre 8 horas às 20 horas e período de sono entre 20 horas e 8 horas do dia seguinte, de acordo com as recomendações das Diretrizes Brasileiras de MAPA e Monitorização Residencial da Pressão Arterial (MRPA III) de 2011. 7 Este estudo foi aprovado pelo comitê de ética do Hospital Universitário João de Barros Barreto, sob Nº CAAE 01278918.4.00000017, e foi conduzido atendendo a resolução 466/12 e de acordo com os princípios éticos da Declaração de Helsinque. Análise estatística Na análise estatística foi utilizado o teste do qui-quadrado para comparação dos indivíduos que não apresentaram descenso noturno da PA entre o grupo de pacientes versus grupo controle. Considerou-se o valor de p < 0,05 como estatisticamente significativo. Variáveis categóricas foram apresentadas como frequências, número absoluto e porcentagens. Variáveis com distribuição normal foram apresentadas como média e desvio padrão. Utilizaram-se o 712

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