ABC | Volume 114, Nº4, Abril 2020

Minieditorial Ribeiro Equilíbrio, qualidade de vida e insuficiência cardíaca Arq Bras Cardiol. 2020; 114(4):708-710 o pico de consumo de oxigênio durante o teste de exercício cardiopulmonar não foi avaliado e, portanto, não é possível determinar se existe uma associação entre uma medida máxima ou limitada por sintomas da capacidade de exercício e qualidade de vida, bem como se o equilíbrio ainda está associado à qualidade de vida ao controlar também o consumo máximo de oxigênio. Apesar do pequeno tamanho amostral predominantemente composto por mulheres (71%) com comprometimento funcional leve e a amostragem por conveniência, este estudo gerou dados interessantes que podem ser utilizados para informar futuros e maiores estudos nessa área. Uma análise secundária dos estudos RELAX e NEAT-HFpEF, recentemente publicada, 13 avaliou diferenças de sexo na capacidade de exercício (TC6M) e na qualidade de vida ( Minnesota Living With Heart Failure Questionnaire ) em 323 pacientes com ICFEp (158 homens e 165 mulheres) e encontrou diferentes determinantes da qualidade de vida entre mulheres e homens. Curiosamente, a qualidade de vida foi associada à disfunção diastólica, cardiopatia isquêmica e capacidade de exercício em homens, enquanto emmulheres, somente o índice de massa corporal e a idade predizem a qualidade de vida. O equilíbrio dinâmico e a mobilidade poderiam ser um dos determinantes da qualidade de vida emmulheres com ICFEp? O estudo de Schmidt et al., 12 deu alguns esclarecimentos a respeito dessa questão, pois recrutou uma amostra composta predominantemente por mulheres (71%), utilizaram as mesmas ferramentas para avaliar a qualidade de vida e a capacidade de exercício e concluíram que o equilíbrio dinâmico e a mobilidade superam a capacidade de exercício na avaliação da qualidade de vida em pacientes com ICFEp. Coletivamente, esses achados reforçam a importância da realização de estudos emmulheres com ICFEp para identificar determinantes de sua qualidade de vida. As altas taxas de mortalidade, morbidade, rehospitalização cardiovascular e por insuficiência cardíaca e uso e custos de assistência médica associados ao aumento da prevalência de insuficiência cardíaca sinalizam claramente a necessidade de melhorar as estratégias de tratamento. O estudo de Schmidt et al., 12 certamente deixa o leitor com a sensação de que há um aspecto importante do cuidado médico em ICFEp que pode estar faltando em pacientes idosos. Como um preditor independente de qualidade de vida, todos os pacientes idosos devem ser testados quanto a equilíbrio dinâmico e mobilidade? Os déficits de equilíbrio são potencialmente tratáveis, e a identificação e o tratamento desses déficits podem melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Uma investigação mais detalhada commaior tamanho de amostra é necessária para fortalecer ou refutar as conclusões de Schmidt et al., 12 e ajudar os médicos a decidir se testam ou não o equilíbrio diariamente. O estudo de Schmidt et al., 12 ao sugerir o equilíbrio dinâmico e a mobilidade como os determinantes mais importantes da qualidade de vida (dimensões física e emocional), levanta também outra questão pertinente: é hora de incluir o treinamento de equilíbrio nos programas de reabilitação cardíaca de pacientes com ICFEp? A reabilitação cardíaca baseada no exercício é uma recomendação da classe 1A para pacientes com insuficiência cardíaca; 2 em pacientes com ICFEp os benefícios são multidimensionais; por exemplo, um programa de reabilitação cardíaca baseado em exercício melhora a capacidade de exercício, a função diastólica e a qualidade de vida. 14-16 Entretanto, os programas tradicionais de reabilitação cardíaca não abordam completamente as deficiências funcionais de múltiplos domínios, comuns em pacientes idosos com ICFEp, particularmente aquelas relacionadas a equilíbrio e mobilidade funcional. A resposta à pergunta acima mencionada pode ser dada em estudos que avaliem o impacto de programas de reabilitação cardíaca de múltiplos domínios, projetados para também melhorar o equilíbrio e a mobilidade funcional (além de outros objetivos, como melhorar a capacidade de exercício) administrados por uma equipe multidisciplinar; e avaliar se um programa que engloba exercícios específicos de equilíbrio e mobilidade funcional, além de exercícios aeróbicos e de resistência, é mais eficaz para melhorar o equilíbrio e a qualidade de vida, diminuir o risco e a taxa de quedas e reduzir as hospitalizações cardiovasculares e não cardiovasculares. Em resumo, a atual contribuição de Schmidt et al., 12 nesta edição dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, aumenta a conscientização e fornece evidências para indicar a avaliação do equilíbrio dinâmico e da mobilidade em pacientes idosos com ICFEp. Entretanto, antes que isso seja implementado na rotina clínica, seus achados precisam ser fortalecidos em estudos futuros. Agradecimentos O iBiMED é uma unidade de pesquisa apoiada pela Fundação Portuguesa de Ciência e Tecnologia (REF: UID/ BIM/04501/2020) e fundos FEDER / Compete2020. 1. Vos T, Flaxman AD, Naghavi M, Lozano R, Michaud C, Ezzati M, et al. Years lived with disability (YLDs) for 1160 sequelae of 289 diseases and injuries 1990-2010: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2010. Lancet .2012; 380(9859): 2163-96. 2. Ponikowski P, Voors AA, Anker SD, BuenoH, Cleland JG, Coats AJ, et al. 2016 ESC Guidelines for the diagnosis and treatment of acute and chronic heart failure: The Task Force for the diagnosis and treatment of acute and chronic heart failure of the European Society of Cardiology (ESC). Developed with the special contribution of the Heart Failure Association (HFA) of the ESC. Eur J Heart Fail . 2016; 18(8): 891-975. 3. Owan TE , Redfield MM. Epidemiology of diastolic heart failure. Prog Cardiovasc Dis . 2005; 47(5): 320-32. 4. Shah KS, XuH, Matsouaka RA, Bhatt DL, Heidenreich PA, Hernandez AF, et al. Heart FailureWith Preserved, Borderline, and Reduced Ejection Fraction: 5-Year Outcomes. J Am Coll Cardiol . 2017;70(20):2476-86. Referências 709

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