ABC | Volume 114, Nº4, Abril 2020

Artigo Original Schmidt et al Aptidão física e qualidade de vida na ICFEP Arq Bras Cardiol. 2020; 114(4):701-707 Associação entre aptidão física e qualidade de vida A correlação parcial entre as dimensões da QV e os componentes da aptidão física é apresentada na Tabela 3. Um melhor escore total do MLHFQ foi diretamente correlacionado com o teste 8FUG (r = 0,563; p = 0,008) e inversamente correlacionado com o TC6M (r = -0,539; p = 0,012). Em relação ao MLHFQ físico, este foi diretamente correlacionado com os resultados do teste 8FUG (r = 0,529; p = 0,014) e inversamente correlacionado com o TC6M (r = -0,478 p = 0,028). Por fim, o MLHFQ emocional foi diretamente correlacionado com o teste 8FUG (r = 0,597; p = 0,004). A tabela 4 mostra a análise de regressão multivariada para as dimensões da QV. Todos os modelos foram ajustados para idade, sexo e classe funcional da NHYA como potenciais fatores de confusão. Para o escore total do MLHFQ, o 8FUG foi o único parâmetro de aptidão física que permaneceu como preditor independente ( β = 0,651; p = 0,001). Da mesma forma, para a dimensão física do MLHFQ, o 8FUG foi o único componente da aptidão física que permaneceu como preditor independente ( β = 0,570; p = 0,04). Finalmente, para oMLHFQ emocional, o 8FUG foi o único componente da aptidão física que permaneceu como preditor independente ( β = 0,611; p = 0,002). Discussão Os dados fornecidos pelo nosso estudo indicam que a aptidão física está positivamente correlacionada com a QV em pacientes com ICFEP. Além disso, o equilíbrio dinâmico e a mobilidade foram os únicos componentes da aptidão física independentemente associados ao escore total da QV e às dimensões física e emocional. Esses achados sugerem que esse componente específico da aptidão física supera a ACR na avaliação da QV dos pacientes com ICFEP. Além disso, destaca a necessidade de estudar intervenções visando especificamente esses componentes de condicionamento físico para aumentar os ganhos de QV. Apesar da alta prevalência e do prognóstico ruim da ICFEP, terapias baseadas em evidências ainda precisam ser desenvolvidas para reduzir de forma efetiva a morbidade ou a mortalidade. 4,5 Esses pacientes geralmente são caracterizados por baixa QV21 e as diretrizes atuais de tratamento destacam a importância de se melhorar o bem-estar dos pacientes. 5 A aptidão física é um constructo com múltiplos componentes 8 e vários estudos demonstram que é um dos principais determinantes da QV na ICFEP. 6,7 Nossos resultados corroboram esse achado, uma vez que observamos que o escore total da QV correlacionava-se fortemente com a aptidão física (por exemplo, equilíbrio dinâmico e mobilidade e ACR) em pacientes com ICFEP. Como a aptidão física pode influenciar a QV, estratégias direcionadas à aptidão física podem potencialmente melhorar a QV, independentemente de outros benefícios à saúde. 22 Uma metanálise recente mostrou que a combinação de treinamento físico de resistência com medicamentos cardiovasculares fornece uma melhora clinicamente relevante na capacidade de exercício e QV em pacientes com ICFEP. 23 Entretanto, a aptidão física e a QV são constructos multicomponentes e multidimensionais, respectivamente, e é crucial determinar qual dimensão/componente está melhor relacionado entre si para maximizar possíveis melhorias na QV. Estudos anteriores demonstraram que a ACR está principalmente associada à dimensão física, mas não necessariamente ao escore total ou dimensão emocional da QV. 7,10 Observamos que a ACR (avaliada pelo TC6M) e o equilíbrio dinâmico e mobilidade (avaliado pelo teste 8FUG) foram ambos associados às dimensões físicas da QV. Além disso, o equilíbrio dinâmico e a mobilidade foram o único componente da aptidão física associado à dimensão emocional da QV, enquanto a força da parte superior do corpo (avaliada pelo Teste de força de preensão manual) e a composição corporal não foram associadas a nenhuma dimensão. Além disso, análises multivariadas mostraram que o equilíbrio dinâmico e a mobilidade foram o único componente da aptidão física independentemente associado a todas as dimensões da QV, explicando 42% de variação no escore total da QV, 32% da dimensão física e 37% da dimensão emocional da QV. Assim, de todos os componentes da aptidão física, o equilíbrio dinâmico e a mobilidade parecem ser os que melhor avaliam a QV em pacientes com ICFEP. Coletivamente, nossos dados sugerem que a melhora do componente específico da aptidão física do equilíbrio Tabela 2 – Correlação bivariada entre parâmetros de aptidão física Equilíbrio dinâmico e mobilidade Força na parte superior do corpo Aptidão cardiorrespiratória Composição corporal 8FUG Preensão manual TC6M IMC % MG MLG 8FUG -0,478 (0,018) (0,018) -0,816 (<0,00) -0,030 (0,888) 0,184 (0,389) -0,221 (0,299) Preensão manual -0,478 (0,018) 0,390 (0,060) 0,017 (0,939) -0,362 (0,082) 0,284 (0,179) TC6M -0,816 (<0,00) 0,390 (0,060) -0,074 (0,733) -0,161 (0,453) 0,010 (0,964) IMC -0,030 (0,888) 0,017 (0,939) -0,074 (0,733) 0,566 (0,004) 0,533 (0,007) MG 0,184 (0,389) -0,362 (0,082) -0,161 (0,453) 0,566 (0,004) -0,258 (0,224) MLG -0,221 (0,299) 0,284 (0,179) 0,010 (0,964) 0,533 (0,007) -0,258 (0,224) 8FUG: teste 8-foot up and go; TC6M: teste de caminhada de 6 minutos; IMC: índice de massa corporal; MG: massa gorda; MLG: massa livre de gordura. Dados são r (p). 705

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