ABC | Volume 114, Nº4, Abril 2020

Artigo Original Scherr et al. Interleucina 18, proteína precursora do trombo DAC Arq Bras Cardiol. 2020; 114(4):692-698 mas acredita-se que controle glicêmico deficiente, nefropatia diabética, obesidade e inflamação sejam considerados possíveis causas para justificar o aumento das concentrações séricas de IL-18 nesse perfil de pacientes. 16 No presente estudo, não se observou diferença estatística significativa quando se comparou o fator de risco DM entre os grupos de pacientes associado ao nível sérico de IL-18, evidenciando que as amostras de pacientes com SCA, DAC crônica e pacientes saudáveis eram semelhantes entre si. Em estudo observacional semelhante a este, porém com análise prospectiva, 194 pacientes, sendo 75 agudos e 119 crônicos, foram comparados a 68 controles. A análise de células da musculatura lisa da aorta desses pacientes revelou valores maiores para os coronariopatas do que para os controles, e que a IL-18 pode ser um fator de risco independente para DAC. 17 Em outro estudo com 118 pacientes coronariopatas submetidos a estudo angiográfico, composto por 67 em fase aguda e 51 com angina pectoris estável, os valores da IL-18 foram significativamente maiores entre os agudos em comparação aos crônicos, o que está em acordo com os resultados aqui apresentados. 18 Em relação à formação do trombo, Goetze evidencia a importância do aumento das concentrações de TpP nos pacientes com DAC, destacando a relevância de se ter um marcador de trombose em atividade para fornecimento de informações importante na SCA em curso. 19 Nesta mesma linha, Mega et al. 20 destacaram o valor prognóstico da TpP em pacientes com SCA, evidenciando que níveis aumentados de TpP estão associados a maior risco de morte e complicações isquêmicas, deixando claro que a incorporação de um marcador de coagulação ativada, como a TpP, em pacientes com doença cardiovascular estabelecida e com fatores de risco para DAC pode oferecer uma análise complementar valiosa na avaliação de risco de SCA. Realizado com 284 pacientes saudáveis e 2349 pacientes com SCA, esse estudo observou que a concentração média de TpP foi maior nos pacientes com SCA (8,9 µg/mL × 3,6 µg/mL, p<0,001), estando este fato correlacionado a pior prognóstico. 20 No presente estudo, observou-se que a dosagem de TpP foi significativamente maior nos pacientes com diagnóstico de SCA do que naqueles com DAC crônica e no grupo-controle (p<0,001). No entanto, por se tratar de estudo observacional, não houve avaliação prognóstica desses pacientes, o que impossibilitou melhor análise dos desfechos clínicos que pudessem estar correlacionados; faz parte do planejamento, contudo, a avaliação desses dados. Laurino et al. 21 estudaram uma coorte de 115 pacientes com sintomas sugestivos de IAM com menos de 6 horas de duração a partir do início da dor. Foram dosadas amostras de sangue dos pacientes em 0, 1, 2, 4, 8, 16 e 24 horas após a apresentação para alguns biomarcadores: creatina quinase total (CK total), CK-MB, mioglobina, troponina I e TpP. Os autores observaram aumento significativo das concentrações séricas de TpP em 15 dos 17 pacientes com IAM diagnosticado em 6 horas após início dos sintomas (p<0,001); em 2 dos 8 pacientes que apresentaram IAM após 6 horas do início dos sintomas (p<0,008); em 22 dos 35 pacientes com angina instável (p<0,001); e em 15 dos 30 pacientes com angina estável (p<0,001) e 3 dos 5 pacientes com fibrilação atrial (p<0,001); em 6 dos 9 pacientes com insuficiência cardíaca congestiva (p<0,001); e em 6 dos 11 pacientes com dor torácica não cardíaca (p<0,001).  As concentrações máximas de TpP em pacientes com IAM precederam as dos outros marcadores em 2 a 4 horas. 21 Portanto, a trombose aguda está associada a alterações clínicas significativas, incluindo o IAM. Um teste preciso, rápido e confiável para detecção do trombo seria uma ferramenta inestimável para os médicos no diagnóstico, monitoramento e tratamento dos pacientes com dor torácica aguda. 22 Estudos evidenciam o valor da TpP na mensuração do processo agudo trombótico, destacando a SCA, e outros relacionam os valores aumentados desse biomarcador na presença de alguns fatores de risco para DAC, tais como HAS e DM, em pacientes sem evidências de SCA. Por favorecerem um estado de hipercoagulabilidade, esses fatores de risco podem estar relacionados a um efeito pró-trombótico e desencadear um processo trombogênico ativo. A presença de DM tipo 2 pode estar associada a aumento dos valores séricos de TpP devido à predisposição desse perfil de pacientes para apresentar disfunção endotelial marcadamente aumentada, além de maior ativação sistêmica da coagulação, provocando alterações transitórias e favorecendo eventos cardíacos agudos. 22,23,24 A presença de HAS também pode conferir um meio hipercoagulável e pró-trombótico e favorecer descompensação aguda da doença arterial coronariana. 23,24 No presente estudo, observou-se que o DM e a HAS não conferiram diferença estatisticamente significativa entre os grupos estudados, e não tiveram influência no resultado final da dosagem de TpP em relação às diferentes fases da doença coronariana (presença de fator de risco, DAC crônica e SCA). Portanto, o resultado obtido não sofreu influência desses fatores de risco. Limitações do estudo O n amostral é pequeno, representando uma amostra de conveniência, que pode ser atribuído a dois fatores: a seleção dos pacientes realizada em hospitais que não apresentavam unidade de emergência aberta, dificultando a formação do grupo de pacientes agudos. Na análise das médias encontradas de IL-18 e TpP, verificou-se igualdade entre o grupo de pacientes crônicos e o grupo-controle. Fazendo uma avaliação crítica dessa observação, pode-se destacar que não houve realização de exames complementares (p. ex., Doppler de carótidas e vertebrais) ou ultrassonografia intracoronariana para descartar processo aterosclerótico em outros locais, o que poderá ter influenciado nesse resultado, não possibilitando melhor avaliação dos biomarcadores com a cronicidade ou ausência de aterosclerose. Fração de ejeção normal em todos os grupos excluiu pacientes mais graves, o que pode ter influenciado nos resultados. No presente estudo, apesar de se observar que os valores médios de IL-18 e de TpT no soro estavam mais elevados no grupo de pacientes agudos, quando comparado ao grupo com angina estável ou sem lesão coronariana, não se pode fazer uma avaliação prognóstica, tem como objetivo estimular continuidade da pesquisa para confirmar a hipótese e pretendendo fazer acompanhamento anual dos sujeitos desta amostra. 697

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=