ABC | Volume 114, Nº4, Abril 2020

Artigo Original Scherr et al. Interleucina 18, proteína precursora do trombo DAC Arq Bras Cardiol. 2020; 114(4):692-698 com ou sem necrose miocárdica, ressaltando também que as concentrações se correlacionam à gravidade da disfunção miocárdica. Estudaram uma casuística de 53 pacientes, admitidos em unidade cardiointensiva com dor torácica e alteração do segmento ST, de forma sequencial; após análise da troponina, esses pacientes foram selecionados para o grupo de AI ou de IAM. Os pacientes pertencentes ao grupo de AI apresentaram valor médio de IL-18 de 214,7 (116,6 a 297,0) pg/mL, e os pertencentes ao grupo de IAM apresentaram valor médio de 164,6 (53,6 a 602,5) pg/mL. Esses pacientes foram comparados a mais dois grupos: um com doença arterial coronariana estável ( n =9) e outro grupo ( n =11) sem lesão coronariana (grupo-controle). Observou-se que os valores médios das concentrações de IL-18 no grupo- controle (46,8 [34,2 a 68,2] pg/mL) foram significativamente diferentes daqueles dos pacientes com angina estável (85,7 [56,0 a 157,7] pg/mL, p<0,01), sugerindo que as concentrações de IL-18 em pacientes com doença arterial coronariana estável podem estar associadas à presença de doença arterial coronariana avançada. No grupo de pacientes com angina instável, as concentrações médias de IL-18 foram significativamente maiores do que no grupo-controle (p<0,001) ou no grupo com angina estável (p=0,001). No grupo de pacientes com IAM, as concentrações médias de IL- 18 também foram significativamente superiores às do grupo- controle (p<0,001) ou do grupo com angina estável (p<0,01). As concentrações de IL-18 não diferiram significativamente entre o grupo com angina instável e o grupo com IAM. 13 No mesmo estudo, observou-se que as concentrações séricas de IL-18 estão significativamente correlacionadas à gravidade da disfunção miocárdica, avaliadas pela determinação da fração de ejeção (FE) ventricular; a FE média entre os grupos foi de 55% e os valores médios da IL-18 foram de 46,8 pg/ mL para pacientes sem lesão coronariana, 85,7 pg/mL para pacientes com angina estável, 214 pg/mL para aqueles com angina instável e 164,6 pg/mL para pacientes com IAM. Na comparação com os resultados encontrados neste estudo, observou-se que a FE média entre os grupos foi de 65,09%, e os valores médios da concentração de IL-18 forammaiores no Grupo I quando comparados aos do Grupo II e aos do Grupo III, porém nesta população ( n =119) obteve-se distribuição da função sistólica dentro da normalidade para todos os grupos, sendo que o Grupo I apresentou discreta redução da prevalência de indivíduos com FE normal, sem significado estatístico. Também se observou que as concentrações de IL-18 entre os pacientes com DAC crônica e sem lesão coronariana foram estatisticamente equivalentes, não se replicando os resultados anteriores. Blankenberg et al. 14 evidenciaramem seu estudo prospectivo, realizado com uma coorte de 1229 pacientes com doença coronariana documentada e acompanhados pelo tempo médio de 3,9 anos, que 95 pacientes morreram por causas cardiovasculares e que as concentrações médias de IL-18 no soro foram significativamente maiores nos pacientes que tiveram evento cardiovascular fatal do que naqueles que não apresentaram tal evento (68,4 pg/mL × 58,7 pg/mL, p<0,001). Nesse estudo foram incluídos pacientes com angina estável ( n =855) e pacientes com angina instável ( n =373) e avaliado o valor preditivo da IL-18 em relação a morte cardiovascular. Observou-se que, em ambos os grupos, houve nítido aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais de acordo com o valor médio da IL-18, porém o grupo dos pacientes com angina instável apresentou valor mais elevado desse marcador. Os autores chamam atenção para essa última análise, pois o grupo de angina instável tem um tamanho amostral menor do que o grupo dos pacientes com angina estável; portanto, o nível de IL-18 no soro pode ser identificado como forte preditor independente de morte por causas cardiovasculares em pacientes comDAC, independentemente do estado clínico à admissão. Esse resultado corrobora fortemente as evidências experimentais de inflamaçãomediada pela IL-18, possibilitando a aceleração e vulnerabilidade da aterosclerose. 14 Estudos evidenciam que o aumento da IL-18 no soro está associado também a alguns fatores de risco, como diabetes melito (DM) tipo 2 e síndrome metabólica, além da gravidade da aterosclerose. 15 Suchanek et al. 16 analisaram o aumento das concentrações de IL-18 no soro em pacientes com DAC e DM tipo 2. Os autores avaliaram um grupo de 130 pacientes com DAC avançada (pelomenos duas lesões coronarianas, uma delas com estenose >70%), tendo sido selecionados 43 com diagnóstico prévio de DM em tratamento e outro grupo com 31 pacientes saudáveis (grupo-controle). Os grupos foram pareados de forma semelhante para idade, IMC, DLP, tabagismo; observou- se maior concentração de IL-18 em pacientes com DAC (463,48±111,7 pg/mL) quando comparados ao grupo-controle (248,99±103,69 pg/mL), porém os pacientes com DAC e DM apresentarammaior concentração de IL-18 quando comparados aos pacientes com DAC sem DM (500 pg/mL × 430 pg/mL, p=0,04). Os mecanismos responsáveis pela elevação da IL-18 em pacientes diabéticos não foram totalmente esclarecidos, Tabela 2 – Valores médios dos biomarcadores IL-18 e TpP dos grupos estudados Biomarcadores Grupo I Grupo II Grupo III Teste estatístico p Comp 2 a 2 IL-18 (pg/ml) 1325,44 353,81 633,25 F=6.61 0,002 GI>GII (±1860,13) (±273,65) (±993,93) GII=GIII GI>GIII TpT (µg/mL) 35,86±28,36 25,66±12,17 18,0±8,45 F=9,31 0,000 GI>GII GII=GIII GI>GIII 696

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