ABC | Volume 114, Nº4, Abril 2020

Minieditorial Galectina-3 na Pericardite Constritiva Crônica: Informações Precisas para o Bom Médico Galectin-3 in Chronic Constrictive Pericarditis: Accurate Information for The Good Doctor Wolney de Andrade Martins 1, 2 Universidade Federal Fluminense, Departamento de Medicina Clínica, 1 Niterói, RJ – Brasil Complexo Hospitalar de Niterói, 2 Niterói, RJ – Brasil Minieditorial referente ao artigo: Galectina-3 em Pacientes com Pericardite Constritiva Crônica Correspondência: Wolney de Andrade Martins • Universidade Federal Fluminense, Departamento de Medicina Clínica – Rua Marques do Paraná, 303, 6º andar. CEP 24030215, Centro, Niterói, RJ – Brasil E-mail: wolney_martins@hotmail.com Palavras-chave Galectina-3; Biomarcadores; Pericardite Constritiva; Pericárdio; Inflamação; Cardiomiopatia Restritiva. A galectina-3 (Gal-3), que agora é conhecida como um novo biomarcador, percorreu o caminho científico rigoroso da sua descoberta até a validação. Estudos experimentais e clínicos descreveram sua elevação em diversas situações, como tumores, insuficiência renal e insuficiência cardíaca. 1 Sua administração causou fibrose miocárdica e insuficiência cardíaca (IC). Sua supressão ou inibição genética impediu a fibrose e a remodelamento, ou seja, a relação de causa e efeito foi comprovada. 2 Níveis elevados de Gal-3 mostram um pior prognóstico, pois preveem a morte súbita. A galectina-3 foi preditora independente no curto e médio prazo de internações e de mortalidade em pacientes com IC, principalmente naqueles com insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP). 3 O biomarcador pode auxiliar o clínico em seus impasses diagnósticos, na aferição do prognóstico e até na orientação da terapia. A ICFEP é um exemplo em que toda ajuda é bem-vinda. Múltiplas comorbidades, quadros menos típicas, especialmente em idosos e obesos, podem ser confusas. A ICFEP é uma das situações em que a Gal-3 pode auxiliar muito na confirmação diagnóstica. 4 Fernandes et al., 5 apresentam um estudo de caso- controle no qual compararam 33 pacientes com pericardite constritiva crônica (PCC), predominantemente idiopática, com voluntários saudáveis. A justificativa era que a fibrose presente na PCC elevava os níveis de Gal-3 e isso estava relacionado a alterações morfológicas e funcionais típicas da PCC. Houve confirmação do diagnóstico de PCC por métodos de imagem, ecocardiografia e ressonância cardíaca, além de cirúrgicos. Foi um estudo difícil de realizar e somente foi possível em um centro de referência. Os resultados foram negativos e há inúmeras explicações possíveis. Uma amostra seletiva de pacientes com PCC idiopática é indicada pelos autores. Sabemos que a pericardite tuberculosa, que é de suma importância em áreas onde a tuberculose é endêmica, tem um curso clínico mais grave, com uma evolução comum de fibrose e constrição. A própria Gal-3 tem limitações devido à sua não-especificidade. É encontrada em processos inflamatórios e fibróticos nos pulmões, rins, fígado, pâncreas, e em pacientes com câncer, entre outros. Historicamente, buscou-se o diagnóstico diferencial entre pericardite constritiva e cardiomiopatias restritivas através de parâmetros clínicos e laboratoriais. É plausível supor que a Gal-3 deva ser maior na segunda situação clínica, devido à magnitude do envolvimento miocárdico e intersticial. Em teoria, a Gal-3 também poderia esclarecer qual extensão do quadro clínico é devida à disfunção miocárdica nas cardiomiopatias ou restrição diastólica na pericardite constritiva. Ou seja, ainda existem inúmeras perguntas sem respostas baseadas em evidências. 6 Considerando um paciente com um quadro clínico de insuficiência ventricular direita ou na investigação de ascites e valores “normais” de Gal-3, a publicação de Fernandes et al. 5 permite inferir pontos a favor do diagnóstico de PCC em detrimento de cardiomiopatias restritivas ou outras doenças. O estudo de Fernandes et al., 5 nos trouxe a novidade da medida da Gal-3 em uma situação muito específica, como a PCC. Isso mostrou claramente que não houve aumento significativo da Gal-3 ou uma associação com parâmetros morfológicos ou funcionais. A qualidade da pesquisa de Fernandes et al., aqui publicada nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, reside não apenas em sua originalidade, mas também em seus critérios metodológicos e rigor em relação a suas conclusões. O presente estudo levanta novas questões. Haveria uma diferença entre as etiologias da PCC? Haveria aplicabilidade da Gal-3 na diferenciação com cardiomiopatias restritivas? E a utilidade das dosagens seriadas de Gal-3? Parafraseando o Dr. AlanMaisel, um renomado pesquisador de biomarcadores em cardiologia, “o biomarcador tornará o médico ruim, pior e o bom médico, melhor”. 7 Portanto, as informações agora incorporadas na literatura pelos autores serão muito úteis para nós, desde que utilizadas dentro de um sentido clínico crítico. DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20200163 690

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