ABC | Volume 114, Nº1, Janeiro 2020

Artigo Original Alegre et al. Açaí e isquemia-reperfusão miocárdica em ratos Arq Bras Cardiol. 2020; 114(1):78-86 Figura 3 – Estudo cardíaco isolado após isquemia-reperfusão miocárdica global. Painel A: C: grupo controle; A: grupo de açaí. O volume inicial representa o volume dentro do balão quando a pressão diastólica era zero; +dP/dt: taxa de desenvolvimento da pressão ventricular esquerda; -dP/dt: taxa de diminuição da pressão ventricular esquerda; * diferente do grupo C (p = 0,025). Painel B: Relação entre pressão diastólica e volume. A área sob a curva e a inclinação foram semelhantes entre os grupos. 180 140 120 100 80 60 40 20 0 180 140 120 100 80 60 40 20 0 4.000 3.000 2.000 1.000 0 2.500 2.000 1.000 1.500 500 0 C A C A C A C A * Volume inicial (microL) Pressão sistólica máxima (mmHg) + dP/dt máxima (mmHg/s) – dP/dt máxima (mmHg/s) A 30 25 20 15 10 5 0 0,10 0,12 0,14 0,16 0,18 Volume (mL) Pressão diastólica (mmHg) B Grupo controle Grupo açaí Curiosamente,apolpadeaçaíécompostapredominantemente por lipídios, que correspondema 48%. 46 A oferta demais lipídios poderia contribuir para o aumento da atividade da β -hidroxiacil CoA-desidrogenase no grupo tratado com açaí. Esse padrão foi observado no modelo experimental de infarto do miocárdio, que administrava dieta rica em lipídios. 47 Como esperado para o período de 30 minutos de isquemia, observamos uma grande área de infarto em nosso estudo, de aproximadamente 50% em ambos os grupos. Anteriormente, a suplementação de uma dieta rica emantocianinas emumestudo com modelo experimental de isquemia-reperfusão diminuiu a área miocárdica infartada. 48 No entanto, no presente estudo, a suplementação de açaí não reduziu o tamanho do infarto. Grandes infartos geralmente apresentam importante disfunção ventricular esquerda resultante do comprometimento dos processos celulares e de alterações na morfologia cardíaca. Oaumento do estresse oxidativo compromete a permeabilidade da membrana plasmática dos miócitos, a atividade das bombas iônicas na membrana plasmática e no retículo sarcoplasmático e o trânsito intracelular de cálcio, comprometendo tanto a sístole quanto a diástole. 7 Seria de esperar que a atenuação do estresse oxidativo fosse seguida por uma melhora na função ventricular esquerda, como demonstrado em diferentes modelos de dano miocárdico. 25,49,50 No entanto, este estudo evidenciou que a administração de açaí piorou a função diastólica após isquemia‑reperfusão cardíaca. Isso nos leva a inferir que a disfunção ventricular observada neste modelo depende de outros mecanismos além do dano oxidativo. Curiosamente, um estudo realizado para investigar o efeito do extrato de antocianina na isquemia-reperfusão cardíaca global de ratos sugere que a antocianina era cardioprotetora embaixas doses e poderia ser cardiotóxica em altas. 51 Além disso, a mudança que ocorre no metabolismo energético em situações de estresse tem papel protetor no miocárdio. 42 O fato de a suplementação de açaí impedir o uso de glicose e favorecer a manutenção do metabolismo miocárdico próximo ao normal pode ter interferido negativamente nesse mecanismo protetor adaptativo. Enquanto a isquemia induz alterações morfológicas e funcionais e a lesão de reperfusão pode exacerbar esses aspectos, a descoberta de novos fármacos, substâncias ou estratégias que minimizem o dano cardíaco é essencial. A quantidade de açaí que os ratos ingeriram foi equivalente a 600 mg para um ser humano de 60 kg, 52 quantidade plausível de ser ingerida por um ser humano. Portanto, o açaí pode ser uma estratégia potencial para atenuar a lesão de isquemia-reperfusão no cenário clínico. 84

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