ABC | Volume 114, Nº1, Janeiro 2020

Artigo Original Silva et al. Estratificação de risco com DAD escore reduzido Arq Bras Cardiol. 2020; 114(1):68-75 Introdução Globalmente, cerca de 36,7 milhões de pessoas estão infectadas com HIV, 1,8 milhão de casos são diagnosticados anualmente e 1 milhão de óbitos ocorrem a cada ano. 1 Estima-se que no Brasil 813.000 pessoas estejam infectados pelo HIV com 48.000 novos casos e 14.000 mortes no ano de 2016. 2 Durante as últimas décadas, o uso de terapia antirretroviral (TARV) levou à queda progressiva da mortalidade causada por doenças oportunistas e consequentemente houve incremento considerável da sobrevida destes pacientes. A AIDS tornou-se uma doença crônica e a ativação imunológica permanente causada pelo vírus HIV se traduz em um processo inflamatório sistêmico com repercussão significativa em diversos órgãos e sistemas, principalmente cardiovascular, cérebro, rim e ossos o que leva ao envelhecimento precoce desses pacientes. As doenças cardiovasculares despontaram como uma causa importante de morbimortalidade neste grupo de pacientes. Dados do estudo DAD ( Data Collection on Adverse Effects of Anti-HIV Drugs) , publicados em 2014, indicam que 11% das mortes de pacientes HIV positivos são causadas por doenças cardiovasculares. 3,4 Pacientes infectados pelo HIV possuem um risco 2 vezes maior que a população geral de apresentarem infarto e 4 vezes de morte súbita. 5,6 Além do risco aumentado, os portadores de HIV apresentam eventos cardiovasculares, em média, aproximadamente, 10 anos antes que a população geral. 7 Embora os escores de risco cardiovascular tradicionais como o Framingham tenham sido desenvolvidos para a população geral, a aplicação destes na população de pacientes HIV positivos ainda não está bem definida. 8 Baseado no estudo DAD, de cunho prospectivo e multicêntrico, formado pela colaboração de 11 coortes de pacientes HIV positivos, tratados em 212 clínicas dos Estados Unidos, Europa, Argentina e Austrália, foram desenvolvidos algoritmos especificamente para esta população. Inicialmente foi publicado o DAD escore em 2010 que considerava além de fatores de risco cardiovasculares clássicos, a contagem de CD4, o uso de Abacavir e o tempo de exposição aos inibidores de proteases e inibidores da transcriptase reversa nucleosídeos. 9 Com o objetivo de simplificar a estratificação de risco do paciente HIV positivo e devido à dificuldade de avaliação dos esquemas terapêuticos antirretrovirais prévios, foi proposta uma modificação do DAD escore publicada em 2016 que também avaliou os mesmos desfechos clínicos em 5 anos, mas que não utilizou como variáveis as classes e o tempo de exposição à TARV. 10 Oobjetivo desse estudo foi comparar os escores Framingham e DAD reduzido para avaliação de risco cardiovascular em pacientes HIV positivos e o potencial impacto na decisão clínica após avaliação de aterosclerose carotídea subclínica. Métodos População Foram incluídos 71 pacientes HIV positivos, assintomáticos, em uso de terapia antirretroviral regular, sem diagnóstico prévio de doenças cardiovasculares e em acompanhamento regular no Ambulatório de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Universidade Federal do Triângulo Mineiro em Uberaba, Minas Gerais. Avaliação clínica Os dados clínicos, demográficos e antropométricos destes pacientes foram obtidos mediante entrevista clínica e incluíram os fatores de risco para doença cardiovascular, a saber: idade (≥ 45 anos em homens e ≥ 55 anos em mulheres), tabagismo (em uso ou cessação nos últimos 30 dias), história familiar de doença arterial coronariana (DAC) precoce (infarto do miocárdio ou morte por DAC em parentes de primeiro grau , se homens < 55 anos e mulheres < 65 anos), hipertensão arterial sistêmica (diagnóstico prévio com uso de medicação anti-hipertensiva e/ou observação de níveis pressóricos > 140x90 mmHg), dislipidemia (diagnóstico prévio com uso de medicamentos para redução de níveis lipídicos e/ou alterações laboratoriais conforme diretrizes atuais e descritas a seguir), diabetes mellitus (diagnóstico prévio com uso de medicamentos para redução de glicemia e/ou observação de glicemia > 126 mmHg). O índice de massa corporal foi calculado pela relação entre o peso em quilogramas e o quadrado da altura emmetros e considerado normal de 18,5 a 24,9 Kg/m 2 , sobrepeso de 25,0 a 29,9 Kg/m 2 e obesidade ≥ 30,0. A circunferência abdominal foi medida em centímetros no nível da cicatriz umbilical e considerada anormal conforme diretriz de síndrome metabólica da IDF (International Diabetes Federation). 11 A pressão arterial foi medida durante avaliação clínica no ambulatório por meio de aparelho de medição de pressão arterial automático de braço OMRON (HEM-7113) conforme as diretrizes atuais de hipertensão arterial sistêmica e o grau de atividade dos indivíduos foi avaliado pelo IPAQ (Questionário Internacional de Atividade Física) versão curta, sendo considerado sedentário aquele indivíduo que realiza atividade física com duração < 10 minutos por semana. Avaliação laboratorial Todos os pacientes realizaram coleta de sangue mediante punção venosa periférica em jejum de 12 horas. Foram realizados hemograma, glicemia (VR = 60 a 99 mg/dL), colesterol total, triglicérides, HDL-colesterol, LDL-colesterol, ureia (VR ≤ 50 mg/dL), creatinina (VR = 0,4 a 1,4 mg/dL), sódio (VR = 136 a 145 mmol/L), potássio (VR = 3,5 a 5,1 mmol/L). A glicemia, colesterol total, LDL- colesterol e triglicérides foram considerados alterados se > 100 mg/dL, 200 mg/dL, 160 mg/dL e 150 mg/dL respectivamente e o HDL-colesterol considerado baixo quando < 40 mg/dL em homens e < 50 mg/dL em mulheres. As amostras de sangue foram processadas no Laboratório de Análises Clínicas do Hospital de Clínicas da UFTM. Colesterol total, HDL-colesterol e triglicerídeos foram determinados por método colorimétrico-enzimático em aparelho Cobas 6000 da Roche. O LDL-colesterol foi calculado pela fórmula [(colesterol total-HDLcolesterol)-(triglicerídeos/5)]. Estratificação de risco As estimativas de risco cardiovascular foram realizadas por meio dos escores DAD reduzido e Framingham 2008. 69

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