ABC | Volume 114, Nº1, Janeiro 2020

Artigo Original Almeida et al. Remodelamento do ventrículo esquerdo na atenção primária Arq Bras Cardiol. 2020; 114(1):59-65 Tabela 1 – Características demográficas e clínicas dos indivíduos selecionados caracterizadas pelos padrões de remodelamento do ventrículo esquerdo Variáveis Geometria normal n = 423 Hipertrofia excêntrica n = 186 Hipertrofia concêntrica n = 14 Remodelamento concêntrico n = 13 Valor de p (*) Idade (anos) 56 (50-64) 58 (47-70) 63 (55-71) 61 (53-71) < 0,0001 Feminino (%) 57,4 71,5 78,6 53,8 0,005 Não branco (%) 63,5 63 57 61,5 0,812 PAS (mmHg) 133,7 (121-147) 133 (115,5-134,9) 144,5 (126-175) 135,6 (120,2-156) 0,148 PAD (mmHg) 82,3 (74,3-90,0) 76 (73,5-91) 83,5 (75,9-91,5) 80 (72-90) 0,385 PP (mmHg) 517 (42-60) 51 (36-59) 60 (47-59) 55 (46-67) 0,004 FC (bpm) 70 (63-78) 72 (65-80) 74 (64-83) 69 (61-77) 0,468 IMC (kg/m 2 ) 27,2 (24,5-30,6) 28,6 (19,4-35,8) 26,8 (23,4-30,6) 27,7 (24,3-30,7) 0,881 Glicemia (mg/dL) 101 (92-113) 107 (92-125) 104 (92-125) 100 (92-115) 0,734 TFG (mL/min) 83,4 (71,7-96,1) 84,1 (74,6-92,8) 67,7 (53,6-85,0) 82,3 (67,2-94,1) 0,021 Ácido úrico (mg/dL) 5,2 (4,3-6,4) 4,5 (3,8-5,9) 4,6 (3,9-5,9) 5,0 (4,1-6,1) 0,266 Colesterol (mg/dL) 214 (188-243) 201 (157-221) 208 (184-250) 215 (185-245) 0,507 Alb/Creat (mg/g) 9,3 (5,5-18,7) 8,0 (5,2-170,1) 16,2 (9,9-42,9) 11,8 (6,2-38,9) 0,018 sod/creat na urina 120,9 (77-160) 108,3 (48-200) 145,4 (77-235) 126,2 (89-185) 0,205 BNP (pg/mL) 14 (10-25) 17 (11-41) 35 (14-120) 21 (11-42) < 0,0001 Albuminúria (mg) 10,5 (5,4-20,8) 8,5 (4,4-65,4) 13,7 (5,8-30,8) 12,8 (7-34,5) 0,049 Hipertensão (%) 54,6 63,4 71,4 53,8 0,150 Diabetes (%) 24,3 23,7 50,0 30,8 0,159 DAC (%) 8,7 7,5 14,3 15,4 0,657 Obesidade (%) 28,7 32,3 28,6 46,2 0,488 PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; PP: pressão de pulso; FC: frequência cardíaca; IMC: índice de massa corporal; TFG: taxa estimada de filtração glomerular; Razão Alb/Creat: albumina/creatinina; razão sod/creat: sódio/creatinina; BNP: peptídeo natriurético do tipo B; DAC: doença arterial coronariana; (*) p = diferença entre os padrões de remodelamento realizados com o teste Kruskall-Wallis 1-way ANOVA para múltiplas comparações (todos os pares) e teste qui‑quadrado de Pearson para diferenças de proporção. 13 (2%). Os dados demográficos dos indivíduos estão listados na Tabela 1. As variáveis idade, sexo, escolaridade, pressão alta, pressão de pulso, razão albumina/creatinina e relação sódio/creatinina na urina foram estatisticamente significantes entre os padrões de remodelamento. Hipertensão e diabetes mellitus foram as comorbidades mais prevalentes em pacientes com hipertrofia concêntrica, enquanto doença arterial coronariana e obesidade ocorreram commaior frequência no grupo com remodelamento concêntrico (Tabela 1). A tabela 2 lista as principais alterações ecocardiográficas. A Tabela 3 apresenta a razão de chances bruta e ajustada da hipertrofia excêntrica versus geometria normal, o único padrão de remodelamento com prevalência suficiente para atingir potência adequada para a realização de uma análise múltipla. As variáveis sexo, idade, escolaridade e razão albumina/creatinina mostraram relação com o risco de hipertrofia excêntrica mesmo após o ajuste. A Figura 1 mostra a distribuição dos padrões de remodelamento do ventrículo esquerdo em pacientes sem alterações na função renal (A); em pacientes com alterações subclínicas demonstradas por microalbuminúria (B); e naqueles com doença renal estabelecida (C). Discussão No presente estudo, com indivíduos atendidos na atenção primária com 45 anos ou mais, o principal padrão de alterações geométricas ventriculares foi a HVE excêntrica. A mudança foi mais prevalente emmulheres, pacientes idosos, pacientes com menor nível educacional e pacientes com hipertensão e disfunção renal. As diferenças observadas neste estudo em comparação com outros estudos na Europa e nos Estados Unidos podem ser explicadas por razões semelhantes às relatadas no estudo de Schvartzman et al. 3 A estatura dos brasileiros é menor que a dos europeus e caucasianos norte-americanos, impactando a massa do VE indexada pela superfície corporal. O remodelamento ventricular ao longo da vida ocorre como resposta adaptativa ao envelhecimento, exposição a fatores de risco para doenças cardiovasculares e lesão do miocárdio. 11 Um estudo realizado na comunidade com 4492 participantes (idade média de 51 anos e 59% de mulheres) mostrou que 64% apresentavam geometria normal, 18% remodelamento concêntrico, 13% hipertrofia excêntrica e 5% hipertrofia concêntrica. Nossos dados são semelhantes aos da população com geometria normal (64 vs. 67%), mas diferentes em relação 61

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