ABC | Volume 114, Nº1, Janeiro 2020

Artigo Original Gomes et al. Caracterização de dislipidemias infanto-juvenis Arq Bras Cardiol. 2020; 114(1):47-56 Tabela 1 – Valores de referência para lípides e lipoproteínas em crianças e adolescentes Variáveis Lipídicas Valores (mg/dL) Desejáveis Não desejáveis (1 dia a 23 meses) Não desejáveis (2 a 19 anos) CT < 170 ≥ 200 ≥ 170 LDL-C < 110 ≥ 130 ≥ 110 NHDL-C <123 ≥ 144* - TG 0-9 anos < 75 ≥100 ≥ 75** 10-19 anos < 90 ≥130 ≥ 90 HDL-C > 45 <35 ≤ 45 Valores de referência para 1d a 23meses: **TG ≥ 75 conforme atual DBD; *NHDL-C ≥ 144 1d a 19a. CT: colesterol total; LDL-C: colesterol da lipoproteína de baixa densidade; TG: triglicérides; HDL-C: colesterol da Lipoproteína de alta densidade; NHDL-C: não HDL-C. Resultados A Figura 1 mostra a distribuição dos cinco distritos de Saúde de Campinas com os respectivos números observados para resultados de exames utilizados, de indivíduos avaliados e suas frequências percentuais: Leste: 41.075 e 8.215 (13%); Noroeste: 61.900 e 12.380 (20%); Norte: 52.975 e 10.595 (17%); Sudoeste: 79.305 e 15.861 (25%) e Sul: 77.395 e 15.479 (25%). A metade dos exames foi originária das regiões sudoeste e sul. Na Tabela 2 está apresentada a caracterização demográfica dos indivíduos incluindo a origem dos atendimentos clínico‑laboratoriais. Os resultados das análises descritivas e comparativas estão mostrados nas Tabelas 3 e 4. Evidencia-se na Tabela 3 que entre os grupos etários, para os infantes o CT, TG, LDL-C, NHDL-C foram mais altos entre os grupos. O TG foi semelhante em crianças e adolescentes e o HDL-C apresentou mediana maior nas crianças em relação aos demais. Em relação ao sexo, o grupo feminino apresentou valores mais altos. Quando comparados por grupo de idade, os resultados também mostraram diferenças significativas para os parâmetros avaliados em ambos os sexos. Na tabela 4, evidencia-se que na região leste houve resultados mais altos para CT em comparação às outras regiões. Para as concentrações de LDL-C na região leste os resultados foram maiores do que a noroeste, sudoeste e sul; os valores de NHDL-C também foram mais altos nesta região em relação a sul e menores na noroeste em relação às demais. Nas regiões leste, norte e sudoeste a trigliceridemia foi mais alta do que na região noroeste e nas regiões leste e sudoeste maior do que na sul. O HDL-C na região sudoeste foi menor do que nas demais e maior na região leste em relação à sul. As frequências de dislipidemias, total e suas razões por sexo são evidenciadas na Tabela 5. As dislipidemias mais frequentes foram aumentos isolados de TG e redução de HDL-C. Por sexo, as frequências de dislipidemias foram maiores no sexo feminino. A Figura 2 apresenta as frequências de dislipidemias por idade. Observou-se que os infantes apresentaram maiores frequências de TG, NHDL-C aumentados e de dislipidemias isoladas bem como a maior prevalência da combinação de LDL-C e TG aumentados. Quanto às crianças, observaram-se maiores níveis de CT e LDL-C, e da combinação de TG aumentado e HDL-C reduzido; também houve maior frequência de no mínimo um tipo de dislipidemia mista. Já os adolescentes apresentaram maior número de resultados de HDL-C reduzido. A Figura 3 apresenta as frequências de dislipidemias por regiões de Campinas. As dislipidemias foram mais frequentes na região sudoeste de Campinas com relação às demais. Discussão O desenvolvimento da placa aterosclerótica está diretamente associado com o aumento de lipoproteínas NHDL-C e evidências sugerem que os fatores de risco cardiovascular encontrados na infância, como as dislipidemias, podem contribuir para a doença aterosclerótica ainda na infância e adolescência, assim como na vida adulta. 14 Neste sentido, o consórcio em andamento The International Childhood Cardiovascular Cohort (i3C) Consortium 15 tem como objetivo comum avaliar a associação da presença de fatores de risco na infância com os desfechos de morbidade e mortalidade por DCV no adulto. Resultados preliminares mostraram que a dislipidemia pediátrica prediz a dislipidemia 16 e também a maior espessura íntimo-medial de carótidas 17 em adultos. Além disso, a presença de fatores de risco desenvolvidos a partir dos nove anos de idade foi preditiva de aterosclerose subclínica em adultos. 18 No presente estudo, 67% dos resultados dos perfis lipídicos indicaram a presença de pelo menos um único tipo de dislipidemia bioquimicamente classificada. Este resultado é maior do que o observado em outros trabalhos nacionais: um deles, por exemplo, realizado na região nordeste do Brasil entre 2011 e 2012, envolvendo crianças e adolescentes (6-18 anos) e no qual se observou a frequência de 62% de dislipidemias à custa de aumentos de CT e/ou TG e/ou de LDL-C e/ou reduções de HDL-C. 19 Outro estudo, realizado na cidade de Londrina/PR com adolescentes (11‑16 anos), demonstrou que 61% dos indivíduos apresentaram 49

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