ABC | Volume 114, Nº1, Janeiro 2020

Artigo Original Aimole e Miranda Manejo do IAMCSST por médico recém-formado Arq Bras Cardiol. 2020; 114(1):35-44 foi realizada dentro de um ambiente hospitalar, com atores profissionais devidamente treinados e como aspecto psicológico do estresse emocional envolvido na execução da avaliação, semelhante, aquele encontrado no cenário real de atendimento a uma emergência. Portanto, a utilização destametodologia é um ponto forte desta investigação que merece ser destacado, pois apresenta umamaior validade, comparativamente, por exemplo, a aplicação de questionários padronizados. Esta metodologia é mundialmente difundida e empregada na maioria das escolas médicas nacionais. Deste modo, a maioria dos candidatos está familiarizada com este tipo de avaliação, que não é uma particularidade de nossa instituição. Apesar de um desempenho superior em alguns itens, o padrão de reposta dos candidatos formados em nossa instituição foi muito parecido com os demais concorrentes. A simulação é uma metodologia ativa de aprendizagem. Neste estudo, ela foi utilizada para avaliação dos candidatos, mas também pode ser utilizada para o ensino médico. Consideramos importante o desenvolvimento de um cenário padronizado de simulação realística no atendimento do IAMCSST ajustado para as particularidades do SUS do Brasil, como foi realizado nesta investigação, pois o mesmo poderá ser reproduzido em outras escolas médicas e utilizado no processo do ensino da abordagem desta importante patologia cardiológica. Um fato importante que precisa ser enfatizado durante a formação dos alunos de graduação é o aspecto da inserção do paciente dentro de uma rede hierarquizada do SUS, pois além de instituir o tratamento farmacológico adequado e disponível no local de atendimento, é importante a integração com a rede de urgência e emergências para a rápida transferência destes pacientes para centros de referência com condições de realizar a terapia de reperfusão. A maior parte dos alunos lembrou da administração dos antiagregantes plaquetários, por outro lado, uma proporção significativa não reforçou a necessidade de transferência imediata do paciente de maneira adequada como se esperaria em uma situação dessas. A inexistência de redes assistenciais bem organizadas 14 para o direcionamento dos pacientes com IAMCSST do pronto‑atendimento para os hospitais de referência, faz com que o médico do serviço primário tenha um papel central na gestão desta transferência. Somente 25% dos candidatos insistiu na transferênciamesmona ausência de vagas, por isso, é importante a discussão dos cenários clínicos integrados comaspectos gerenciais como da resolução do Conselho Federal deMedicina n ° 2077/14 para as urgências e emergências que dispõem sobre o conceito de vaga zero. É muito importante que o aluno de graduação em medicina tenha o entendimento que o tratamento desta patologia é tempo‑dependente, e que se pode mudar a história natural desde que o tratamento seja instituído precocemente, e por esta razão, ele deve insistir na transferência de um paciente com esta doença para umcentro capaz de fornecer a terapia de reperfusão mesmo na ausência de vagas hospitalares. O uso da telemedicina pode resolver a dificuldade na interpretação do eletrocardiograma por um médico recém‑formado, mas de nada adiantará, se o mesmo não tiver o conhecimento necessário para agilizar a transferência deste paciente dentro dos fluxos assistenciais estabelecidos em cada região. 15 A simulação já foi utilizada para avaliação do desempenho de estudantes de medicina no atendimento de cenários de emergência, como no atendimento do IAMCSST em outros países, porém pelo nosso conhecimento não encontramos nenhum estudo nacional que realizou investigação com metodologia semelhante. Um estudo mostrou que os alunos de graduação apresentam um pior desempenho no atendimento de um caso simulado de IAMCSST em comparação com outros cenários com pacientes estáveis. Um total de 143 alunos do quarto ano médico, a porcentagem de ações corretas foi 47,8% na estação do IAMCSST significativamente inferior as demais estações (p < 0,001). 16 Este fato é observado na prática, pois durante a graduação eles acabam tendo mais contato com pacientes estáveis, enquanto pacientes mais graves são manejados pelos médicos residentes. Por isso, a simulação é considerada uma alternativa interessante para o aprimoramento de competências e habilidades no atendimento de emergências durante a graduação. 17 Em uma interessante investigação comparando a simulação em pequenos grupos associada as atividades didáticas tradicionais e somente as atividades didáticas tradicionais em 291 alunos do quarto ano médico para o manejo de um paciente com IAMCSST observou-se uma significativa melhoria do desempenho dos alunos no grupo da simulação (53,5 ± 8,9% vs. 47,4 ± 9,8%; p < 0,001) principalmente nos itens relacionados ao exame físico (48,5 ± 16,2% vs. 37,6 ± 13,1%; p < 0,02) e ao diagnóstico (75,7 ± 24,2% vs. 64,6 ± 25,1%; p < 0,02). 18 Outro aspecto importante a ser enfatizado com o aluno de graduação é o aprimoramento da habilidade na comunicação, um número pequeno de candidatos (34%) mostrou uma comunicação efetiva com o paciente em relação a doença e ao tratamento preconizado. Muitas vezes, este item é negligenciado no atendimento de emergência, porém é uma etapa fundamental, pois o paciente tem o direito de saber o que está acontecendo e das estratégias de tratamento propostas. Além disso, o acesso a informação pode diminuir o nível de ansiedade e tensão emocional durante o quadro agudo. Destacamos algumas limitações desta investigação. Primeiro, como somente os candidatos aprovados na primeira fase do concurso (prova teórica) foram submetidos a avaliação prática, deve-se considerar a presença de um viés de seleção. Isto pode ter superestimado o desempenho dos candidatos nesta amostra selecionada e se a mesma avaliação fosse aplicada a uma amostra geral provavelmente o desempenho teria sido inferior ao observado. Contudo, como em algumas especialidades com menor concorrência, praticamente todos os candidatos inscritos foram aprovados para a prova prática, isto pode ter minimizado este efeito. Segundo, foi uma avaliação aplicada em um único centro (unicêntrico), porém havia representantes de diferentes regiões do país, entretanto, com predominância da região sudeste e nordeste, sem uma adequada distribuição amostral proporcional ao número de egressos das diferentes escolas médicas de todo o país. Deste modo, os seus resultados não podem ser extrapolados para todo o território nacional. Terceiro, foi esclarecido que o fibrinolítico não estava disponível no local de atendimento, assim como na maioria destas unidades em nosso país. Deste modo, a transferência imediata 42

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