ABC | Volume 114, Nº1, Janeiro 2020

Artigo Original Marques et al. Mortalidade hospitalar na endocardite infecciosa Arq Bras Cardiol. 2020; 114(1):1-8 Tabela 5 – Modelo multivariável de regressão logística dos preditores de mortalidade hospitalar - Modelo 2 (incluindo o organismo Streptococcus gallolyticus ) Variable OR IC95% p Nagelkerke R 2 Insuficiência cardíaca anterior 3,48 0,80-15,13 0,097 0,614 Febre 0,46 0,13-1,56 0,211 Staphylococcus aureus 4,05 0,87-19,00 0,076 Streptococcus gallolyticus 0,94 0,05-17,76 0,965 Hemoculturas negativas 5,32 1,14-24,92 0,034* Obstrução valvar na ecocardiografia 11,97 1,27-112,91 0,030* Abscesso em ecocardiografia 3,73 0,84-16,62 0,085 Insuficiência cardíaca 4,80 1,27-18,23 0,021* Choque séptico 16,03 3,59-71,53 < 0,001* Eventos embólicos 1,90 0,51-7,05 0,340 Cirurgia cardíaca 0,17 0,04-0,72 0,017* AUROC < 0,001 0,88-0,97 0,923 * Variável estatisticamente significante. IC: intervalo de confiança. é, com insuficiência cardíaca, com sintomas congestivos ou baixo débito cardíaco, os quais podem levar à disfunção de múltiplos órgãos e à morte. A valva aórtica foi a mais afetada (57,5%), diferentemente de outras séries em que a mais afetada foi a valva mitral. 9 A EI do lado direito foi observada em 14,2%, valor superior aos 5 a 10% relatados. 11,16 Isso pode ter ocorrido devido à maior incidência de consumidores de drogas ilícitas (13,4%) em comparação com outras séries, 3,7-9,17 o que pode ser justificado pelas características culturais e sociais de nossa população, o que também pode contribuir para a maior taxa de mortalidade observada. A endocardite valvar protética ocorreu em 25%, na faixa descrita na literatura (10 a 30%). 3,7,8,13,14 A EI associada à assistência médica representa até 30% dos casos de EI, 8,13 e neste estudo ocorreu em 22,4%. Os agentes das espécies estafilocócica e estreptocócica foram os microrganismos mais isolados (cerca de 30%), conforme esperado. 3,7,8,15 A hemocultura negativa para EI ocorreu em 21,6%, proporção que se sobrepõe aos dados encontrados na literatura (2,1- 35%) 8,14,18 O ecocardiograma transesofágico (ETE) foi realizado em 88% dos pacientes. Os demais pacientes não tinham condições clínicas para realizar um ETE ou morreram antes da realização do exame. Os dois principais achados ecocardiográficos foram vegetações (79,1%) e regurgitação valvar (51,5%). Devido à falta de PET/TC 18F-FDG e disponibilidade de SPECT/TC com leucócitos radiomarcados em nosso centro, apenas 1 paciente realizou PET/TC 18F-FDG (em outro centro), e nenhum realizou SPECT/TC com leucócitos radiomarcados. Conforme esperado, a insuficiência cardíaca foi o principal evento adverso observado durante a internação (48,5%). 3,8 Complicações, tempo de internação e mortalidade permanecem altas na EI, 1 e nossos dados destacam esses fatos. Este estudo identificou os aspectos de alto risco em pacientes com endocardite em nossa coorte. A identificação precoce desses pacientes pode ser útil na melhora dos desfechos, através do manejo mais próximo e com a realização mais rápida de cirurgia cardíaca, quando indicada. Esses resultados são importantes não apenas para os médicos, já que destacam os fatores de risco de morte, mas também para os cirurgiões cardíacos, pois demonstraram o bom impacto no prognóstico da cirurgia cardíaca. É importante continuar com investigações adicionais para identificar outros fatores que possam minimizar os níveis de mortalidadeda EI, alémdeutilizar os tratamentosmais conhecidos. Limitações Este estudo teve um desenho retrospectivo e as informações foram limitadas a prontuários médicos. A ausência de dados sistematicamente coletados (como medidas ecocardiográficas), derivada do desenho do estudo, impossibilitou estimar com maior profundidade o impacto da EI em outras importantes variáveis da saúde. Este estudo também foi realizado em um único centro sem cirurgia cardíaca no local, e a variação regional no diagnóstico, tratamento e microbiologia local da EI podem ter influenciado os resultados impedindo a robustez das conclusões. É improvável que o poder do tamanho amostral tenha sido adequado para avaliar a mortalidade hospitalar e os fatores de risco. O viés de referência, particularmente em pacientes não aceitos para cirurgia cardíaca, precisa ser reconhecido como uma limitação. Conclusões De acordo com nossos dados, os fatores de risco para mortalidade hospitalar foram: desenvolvimento de insuficiência cardíaca ou choque séptico, evidência de obstrução valvar no ecocardiograma, etiologia do Staphylococcus aureus ou hemocultura negativa para endocardite. O tratamento invasivo 7

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