ABC | Volume 114, Nº1, Janeiro 2020

Artigo Original Marques et al. Mortalidade hospitalar na endocardite infecciosa Arq Bras Cardiol. 2020; 114(1):1-8 hemocultura negativa, evidência de obstrução valvar na ecocardiografia e evolução clínica com insuficiência cardíaca ou choque séptico. A cirurgia cardíaca foi um fator protetor da mortalidade hospitalar (Quadro 4). O modelo 2, que incluiu o organismo Streptococcus gallolyticus , apresentou desempenho preditivo numericamente mais baixo, como descrito na tabela 5. Discussão Os fatores associados ao aumento do risco de mortalidade hospitalar em nossa coorte foram: desenvolvimento de insuficiência cardíaca ou choque séptico, obstrução valvar no ecocardiograma, etiologia do Staphylococcus aureus , endocardite negativa para hemocultura e ausência de tratamento cirúrgico. A taxa de mortalidade hospitalar observada foi de 31,2%, valor ligeiramente superior ao relatado na literatura (15-30%). 3-9 Reconhece-se que um dos principais fatores protetores da mortalidade é a cirurgia cardíaca, e isso foi significativo emnossa coorte. 3,7,11-13 Diferentemente de outros estudos em que 40 a Continuação Microbiologia – nº (%) Endocardite infecciosa com hemocultura negativa 16 (17,4) 13 (31) 29 (21,6) 0,077 Espécie estafilocócica 25 (27,2) 17 (40,5) 42 (31,3) 0,124 Staphylococcus aureus 15 (16,3) 15 (35,4) 30 (22,4) 0,012* Staphylococcus epidermidis 5 (5,4) 1 (2,4) 6 (4,5) 0,665 Outros estafilococos coagulase-negativos 4 (4,3) 1 (2,4) 5 (3,7) 1,000 Espécie Estreptocócica 34 (37) 7 (16,7) 41 (30,6) 0,018* Estreptococos do grupo Viridans 14 (15,2) 3 (7,1) 17 (12,7) 0,193 Streptococcus gallolyticus 12 (13) 1 (2,4) 13 (9,7) 0,063 Streptococcus milleri 2 (2,2) 1 (2,4) 3(2,2) 1,000 Espécies Enterocócicas 12 (13) 4 (9,5) 16 (11,9) 0,560 Bactérias Gram-negativas 2 (2,2) 3 (7,1) 5 (3,7) 0,177 Fungos 2 (2,2) 1 (2,4) 3 (2,2) 1,000 Grupo HACEK 1 (1) 0 (0) 1 (0,7) 1,000 Achados ecocardiográficos – nº (%) Vegetação 74 (80,4) 32 (76,2) 106 (79,1) 0,776 Regurgitação da válvula 50 (54,3) 19 (45,2) 69 (51,5) 0,539 Destruição da válvula 19 (20,7) 7 (16,7) 26 (19,4) 0,722 Obstrução da válvula 3 (3,3) 5 (11,9) 8 (6) 0,05* Abscesso 8 (8,7) 10 (23,8) 18 (13,4) 0,009* Pseudoaneurisma 5 (5,4) 0 (0) 5 (3,7) 0,320 Aneurisma da válvula 3 (3,3) 0 (0) 3 (2,2) 0,554 Fístula Intracardíaca 4 (4,3) 2 (4,8) 6 (4,5) 1,000 Tratamento – nº, (%) Apenas tratamento médico 52 (56,5) 38 (90,5) 90 (67,2) < 0,001* Cirurgia cardíaca 40 (43,5) 4 (9,5) 44 (32,8) * Variável estatisticamente significante. EI: endocardite infecciosa; DP: desvio padrão. 50% dos pacientes são submetidos a cirurgia cardíaca, 4,6,8,11,13,14 em nosso centro apenas 32,8% foram submetidos à cirurgia. Isso pode ser parcialmente justificado pela ausência de um Departamento de Cirurgia Cardíaca em nosso centro, o que pode dificultar e atrasar a discussão apropriada comos cirurgiões cardíacos e, posteriormente, pode influenciar negativamente as taxas de mortalidade hospitalar. A associação da mortalidade com outros fatores como choque séptico e insuficiência cardíaca encontrados em nossa coorte é bem conhecida e esperada. 3,5,8,13 Os fatores microbiológicos que aumentaram o risco de mortalidade hospitalar foram: endocardite relacionada ao Staphylococcus aureus , como previsto, 8,15 e hemocultura negativa para endocardite 14 (possivelmente devido à dificuldade no diagnóstico e administração de terapia oportuna e direcionada no último grupo de pacientes). A obstrução valvar foi associada a maior mortalidade, e em metade dos pacientes foi relacionada à degeneração da prótese, seguida pela presença de grandes vegetações. Nas duas etiologias, a obstrução valvar pode contribuir para o agravamento da condição clínica do paciente, isto 5

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=