ABC | Volume 113, Nº6, Dezembro 2019

Artigo Original Reyna et al. Dilatação das coronárias na doença exantemática Arq Bras Cardiol. 2019; 113(6):1114-1118 Tabela 1 – Características clínicas e demográficas dos pacientes com doenças exantemáticas febris (DEFs) e pacientes com doença de Kawasaki (DK) Variáveis DEF (n = 22) DK (n = 12) Valor de p Homens (%) 59 75 0,02 Idade, em meses (média) 41,3 18,1 0,05 Duração da febre, em dias (média) 3,6 6,5 0,06 Temperatura máxima ( o C) 38,3 38,7 0,9 Exantema 22(100) 12 (100) 1 Conjuntivite 2(6,2) 12 (100) 0,03 Adenomegalia cervical 0(0) 12 (100) -------- Inchaço e vermelhidão das mãos e plantas dos pés, n (%) 0(0) 12 (100) -------- Descamação da pele, n (%) 0(0) 12 (100) ----------- Edema lingual, n (%) 0(0) 12 (100) ----------- Tempo entre o diagnóstico e a realização da ecocardiografia, em dias (média) 12 25,3 0,05 Dilatação da artéria coronária, n (%) 6 (27,2) 4(33,3%) 0,4 deles apresentou edema ou descamação nos pés, mãos ou língua, ou gânglios aumentados. A comparação com pacientes com DK está apresentada na Tabela 1, a qual mostra que a frequência de alguns problemas clínicos é maior nos pacientes com DK, incluindo adenomegalia cervical, inchaço e eritema nas mãos e planta dos pés, e descamação na pele e edema da língua. Não foi observada diferença nessas porcentagens em comparação às observadas nos pacientes com dilatação da artéria coronária. Avaliação das artérias coronárias em indivíduos com DEF Medidas da artéria coronária esquerda (ACE), da artéria coronária direita proximal (ACDP), da artéria coronária direita média (ACDM), da artéria coronária direita distal (ACDD), da artéria circunflexa, e da artéria coronária descendente anterior (ACDA) estavam disponíveis em 22 pacientes com DEF. A ACDP mostrou a maior dilatação (escore Z médio = 0,45 ± 0,63, p < 0,005), seguida da ACE (escore Z médio = 0,14 ± 1,0, p < 0,05) (Tabela 2). De acordo com os escores Z da artéria coronária, seis (27,2%) dos pacientes diagnosticados com DEF mostraram dilatação em pelo menos um dos ramos da artéria coronária. A comparação entre os grupos encontra‑se na Tabela 3. Discussão Estudos prévios relataram casos de aumento nas dimensões das artérias coronárias em indivíduos com algumas doenças tais como poliarterite nodosa, doença periodontal, febre botonosa causada pela Rickettsia , tifo murinho, e febre reumática. Além disso, observou-se que as dimensões das artérias coronárias das crianças com febre prolongada, e que não preenchiam os critérios de DK, são maiores que as de indivíduos saudáveis, mas menor que crianças com DK. 12-15 Esses resultados estão de acordo com os de nosso estudo. Encontramos uma alta de porcentagem de indivíduos com DEF e dilatação da artéria coronária, mas a dimensão de suas artérias coronárias era menor que as de indivíduos diagnosticados com DK. Sabe-se que alterações nas artérias coronárias estão presentes em 20% dos casos diagnosticados com DK. 16 Em nosso estudo, a porcentagem de dilatação da artéria coronária em indivíduos com DEF e sem critério para DK foi de 26% segundo o escore Z Esse resultado indica que alterações na artéria coronária são mais comuns nas DEFs que na DK. Ainda, sugere que é provável que muitos dos casos diagnosticados como DK atípica ou incompleta (com base na presença de alteração da artéria coronária) poderia ser, na verdade, outra DEF. Apesar de a patogênese da dilatação das artérias coronárias nas DEFs não ter sido elucidada, ela poderia estar relacionada com uma maior demanda de oxigênio pelo miocárdio devido à febre e taquicardia. O consequente aumento de fluxo sanguíneo nas artérias coronárias ocorre pela dilatação compensatória dessas artérias. Outro mecanismo potencial de dilatação envolveria proteínas patogênicas que se ligariam a células endoteliais, ativando vias de resposta imune que produzem citocinas e promovem mais danos celulares. Esses achados deixam claro que a etiologia das alterações nas artérias coronárias não é única. Existe um mecanismo fisiopatológico comum capaz de causar danos temporários e permanentes. Assim, os danos nas artérias coronárias devem ser avaliados com cuidado para o diagnóstico de DK. Uma ecocardiografia deveria ser realizada em crianças diagnosticadas com DEF, e o início de um tratamento profilático deveria ser considerado. Ainda, esses resultados têm implicações que devem ser definidos e discutidos. Apesar do pequeno número de participantes, esses resultados são importantes e levantam algumas questões: 1. A ecocardiografia deveria ser realizada em todos os pacientes diagnosticados com DEFs? 2. Se forem detectadas alterações nas artérias coronárias, deve-se administrar gama globulina aos pacientes? 1116

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