ABC | Volume 113, Nº6, Dezembro 2019

Artigo Original Reyna et al. Dilatação das coronárias na doença exantemática Arq Bras Cardiol. 2019; 113(6):1114-1118 Introdução Até alguns anos atrás, a presença de exantema e febre em crianças era diagnosticada como uma das doenças exantemáticas febris (DEFs), complexo que inclui sarampo, rubéola e escarlatina. Assim, considerava-se que, na maioria dos casos, os sintomas se desapareceriam com tratamento sintomático. 1 Uma vez que o calendário de vacinação tornou‑se universal, a epidemiologia das DEFs mudou, de modo que a doença de Kawasaki (DK), antes vista como exceção entre essas doenças, tornou-se a primeira doença a ser considerada diante de sinais clínicos como febre persistente e exantema. As anormalidades nas artérias coronárias são as complicações mais graves da DK. 2,3 Além de febre e exantema, as DEFs e a DK apresentam outras características clínicas em comum, tais como hiperemia conjuntival, adenomegalias e, em alguns casos, descamação da pele e edema de extremidades, o que apoia a suspeita de DK, em qualquer de suas formas. 4,5 É um paradoxo o fato de que, quando a apresentação clínica de DK incompleta é confundida comdoenças autolimitadas como as DEFs, a ocorrência de uma complicação cardiovascular grave pode ser negligenciada. 6 Estudos têm demonstrado mecanismos fisiopatológicos e sinais clínicos em comum entre as DEFs e a DK 7 e, por isso, alguns agentes infecciosos foram propostos como causadores da DK. Isso implica que pacientes que receberam o diagnóstico de DEFs, e que não fecharam os critérios para DK, poderiam desenvolver anormalidades coronárias. 7,8 Embora sejam consideradas causas incomuns para doença cardíaca em pacientes pediátricos, a mortalidade em alguns casos tornam tais anormalidades relevantes na prática clínica. 9 Diante do exposto, neste estudo, nosso objetivo foi avaliar se as dimensões das artérias coronárias de crianças com doença febril e sem critério diagnóstico para DK estão alteradas. Métodos Em um estudo transversal, incluímos pacientes com idade inferior a 10 anos, com diagnóstico de DEF atendidos no ambulatório pediátrico de dois hospitais pertencentes aos Serviços de Saúde da empresa Petróleos Mexicanos no México. Os pais das crianças assinaram o termo de consentimento para participar do estudo. Para descartar o diagnóstico de DK, usamos os critérios estabelecidos pelo American Heart Association (AHA), 10 incluindo os casos que poderiam ser considerados como DK atípica ou incompleta. Todos os pacientes foram submetidos a uma ecocardiografia nas primeiras duas semanas da doença, usando o aparelho Vivid 7 General Electric®. Foram incluídos pacientes com exantema e febre ≥ 38 o C com duração de pelo menos um dia. Crianças com doenças prévias, tais como hipertensão arterial, história familiar de doenças cardíacas, cardiopatia congênita, crianças com peso corporal acima do percentil 95 ou abaixo do percentil 5 para idade, e crianças em uso de esteroides por pelo menos um mês antes da doença não foram incluídas. Para estabelecer uma comparação com pacientes com DK, fizemos a revisão dos ecocardiogramas e dos prontuários médicos eletrônicos de pacientes com diagnóstico de DK detectado pelo Serviço de Cardiologia Pediátrica durante os últimos cinco anos. 11 Os pacientes que atingiram os critérios da AHA para DK foram incluídos na análise, e a seleção da amostra foi então realizada por conveniência. Avaliação das artérias coronárias A ecocardiografia foi realizada conforme descrito por Muniz et al., 12 Ectasia coronariana (EC) foi definida como a presença de dilatação da artéria coronária >1,5 vez no diâmetro, detectada no ecocardiograma, quando comparada aos segmentos adjacentes normais das mesmas artérias de acordo com o escore Z da artéria coronária. 11 O escore Z médio para cada segmento da artéria coronária foi 0, com desvio padrão de 1. Análise estatística A comparação das médias das dimensões das artérias coronárias foi realizada pelo teste z unicaudal e intervalo de confiança de 95%. Características clínicas e demográficas foram analisadas pelo teste t de Student não pareado ou teste exato de Fisher, dependendo da variável, com uma diferença de p<0,05. Não foram realizados ajustes nas análises, uma vez que o propósito do estudo foi exploratório. A análise dos resultados foi realizada pelo programa Stata versão 13. Aspectos éticos O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa de ambos os hospitais. Os pais das crianças incluídas no estudo assinaram o termo de consentimento. Resultados Foram incluídos 34 pacientes: 22 (64,7%) com diagnóstico de DEF sem critério para DK; 11 foram diagnosticados com exantema viral, sendo os mais comuns a síndrome pé-mão-boca (n = 5; 22,7%) e exantema súbito (n = 4; 18,1%). Havia também um caso de escarlatina e um caso de síndrome de Gianotti-Crosti. Os demais 12 pacientes foram diagnosticados com DK. Em relação à distribuição das crianças por sexo, no grupo DEF, 13 (59%) eram do sexo masculino e 9 (40,9%) do sexo feminino; no grupo DK, 9 (75%) eram do sexo masculino e 3 (25%) eram do sexo feminino. Quanto à idade, no grupo DEF, a idade média foi de 41,3 meses (7 a 120 meses), e no grupo DK, a idade média foi de 18,1 meses (6 a 36 meses). Outras variáveis clínicas e demográficas estão descritas na Tabela 1. Critérios para DK Em relação aos critérios diagnósticos para DK na nossa amostra, encontramos que a média de duração da febre foi de 3,6 ± 2 dias; somente seis indivíduos (27,2%) apresentaram o critério de febre ≥ 5 dias. A média do pico de temperatura corporal foi 38,3 o C. Todos os indivíduos apresentaram exantema, uma vez que esse foi um dos critérios de inclusão no estudo. Um deles apresentou hiperemia de conjuntiva, nenhum 1115

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