ABC | Volume 113, Nº6, Dezembro 2019

Artigo Original Calça et al. Reparo da válvula aórtica e função renal Arq Bras Cardiol. 2019; 113(6):1104-1111 mais altos de fatores vasoconstritores, tais como a adenosina ou a endotelina, os níveis reduzidos de vasodilatadores, como o óxido nítrico e prostaciclina, e o efeito tóxico das moléculas de contraste nos túbulos renais. 25 De acordo com as diretrizes do American College of Radiology , o iodixanol isosmolar não apresenta evidência de superioridade ao contraste de baixa osmolaridade com relação à incidência de NIC. 26 De qualquer forma, a diferença no contraste administrado pode ser um dos fatores que contribuírampara os piores resultados dos pacientes do Grupo 1 , embora não haja dados suficientes para comprovar essa suposição, especificamente, se esses pacientes tiveram IRA depois do procedimento. Outra hipótese que poderia explicar a variação da função renal em pacientes comDRC G1-2 é que, antes do reparo da valva aórtica, eles não toleravam o uso de inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA) ou de antagonistas do receptor da angiotensina II (ARA-II) e, dessa forma, o tratamento pôde ser otimizado após o procedimento, explicando, assim, a variação da TFG. Foi encontrada uma incidência de novas diálises de 2,4% (cinco pacientes) após um ano de seguimento em todas as categorias da DRC, sem diferença estatística entre elas. Um estudo recente nesta área mostrou uma diferença entre os pacientes que iniciaram diálise de acordo com o estágio de DRC, com uma incidência de 1,2%, 3,74%, 14,6% e 60,1% de DRC 1-2, DRC 3, DRC4 e DRC 5, respectivamente. 18 Dada a baixa incidência de pacientes que iniciaram diálise no período de seguimento após o TAVI, não há como tirar conclusões estatisticamente relevantes; no entanto, acredita-se que alguns desses resultados merecem destaque: (i) a média de idade destes pacientes foi 80 ± 5,96 anos, semelhante à média de idade de toda a população analisada (81,8 ± 7,5 anos); (ii) quase todos os pacientes morreram (4 de 5); (iii) todos os pacientes tinham insuficiência cardíaca crônica, o que provavelmente contribuiu para este desfecho. As principais limitações deste estudo dizem respeito à sua natureza observacional e retrospectiva. A utilização de prontuários de pacientes para a coleta de dados também é uma limitação, pois possibilita que alguns dados estejam ausentes ou mal codificados. Além disso, um número significativo de pacientes foi excluído, o que pode introduzir um viés sistemático relacionado aos pacientes incluídos no estudo. Adicionalmente, a CrS varia dia-a-dia com frequência por sofrer influência de inúmeros fatores, tais como o estado de hidratação, medicação ou comorbidades. Estas variações na CrS afetam significativamente a função renal estimada. O presente estudo também apresenta algumas limitações quanto ao seguimento dos pacientes: curto período de seguimento (um ano); o declínio da função renal com a idade pode ser um fator de confusão no verdadeiro benefício da substituição da valva aórtica nestes pacientes; e outras covariáveis importantes não incluídas neste estudo (tais como a gravidade da estenose aórtica, eventos intraprocedimento, incluindo a hipotensão, e IRA após o procedimento). Em suma, a associação entre resultados piores em pacientes com DRC submetidos ao TAVI está bem estabelecida, enquanto o potencial de reversibilidade da função renal após a substituição da valva aórtica ainda não foi bem investigado. Apesar das limitações, este estudo fornece algumas evidências significativas de reversibilidade da DRC após a substituição da valva aórtica, provavelmente devido à melhora na perfusão renal pós-procedimento. São necessários novos estudos randomizados e controlados envolvendo mais pacientes e com maior tempo de seguimento para avaliar a reversibilidade da DRC após a substituição da valva aórtica. Conclusões O presente estudo sugere que a correção da estenose aórtica está associada à melhora da função renal em pacientes com DRC moderada a grave, revelando algumas evidências significativas de reversibilidade da DRC após a substituição da valva aórtica. A confirmação deste efeito de ‘reversibilidade da DRC’ é clinicamente importante, na medida em que pode contribuir para aprimorar o processo de tomada de decisão, refinando a estratificação de risco nestes grupos mais delicados de pacientes e, talvez, tornar-se uma das indicações para o TAVI. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa e Redação do manuscrito: Calça R; Obtenção de dados: Calça R, Teles RC, Brito J, Nolasco T, Almeida MD; Análise e interpretação dos dados e Análise estatística: Calça R, Teles RC, Branco P, Weigert A; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Teles RC, Branco P, Gaspar A, Neves JP, Mendes M, Weigert A, Machado DS. Potencial conflito de interesses Declaro não haver conflito de interesses pertinentes. Fontes de financiamento Opresente estudo não teve fontes de financiamento externas. Vinculação acadêmica Nãohávinculaçãodesteestudoaprogramasdepós‑graduação. Aprovação ética e consentimento informado Este artigo não contém estudos com humanos ou animais realizados por nenhum dos autores. 1110

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