ABC | Volume 113, Nº6, Dezembro 2019

Artigo Original Calça et al. Reparo da válvula aórtica e função renal Arq Bras Cardiol. 2019; 113(6):1104-1111 comDRC moderada e depois de seis meses em pacientes com DRC grave em comparação com o valor da TFGe pré‑TAVI. O grupo com DRC grave também apresentou melhora na sobrevida a curto e a longo prazo neste estudo. Acredita-se que esses resultados foram causados por uma recuperação do débito cardíaco e uma redução da congestão venosa após a substituição da valva aórtica, levando a uma melhor perfusão e, consequentemente, função renal. Estes dados sugerem que uma melhora na função renal de pacientes com DRC G3-5 é esperada, o que pode ter implicações importantes na seleção de indivíduos para o tratamento de doenças da valva aórtica. O prognóstico da substituição da valva aórtica a curto e a longo prazo em pacientes com DRC antes do procedimento, muitas vezes, põe em dúvida o benefício do reparo valvar nestes pacientes. Recentemente, alguns estudos têmmostrado que o mau prognóstico associado com a DRC é influenciado pelo estágio da doença. 5,6,15-18 Gibson e seu grupo de trabalho 19 revelaram que a TFGe < 60 mL/min/1,73 m 2 é uma importante preditora de mortalidade pós-TAVI (HR 5,0; IC95% 1,87–13,4; p=0,001), bem como no seguimento de curto prazo (HR 2,98; IC95% 1,85–4,80; p < 0,001). Outro estudo recente 20 mostra que, para pacientes com TFGe < 60 mL/min/1,73 m 2 , uma variação de apenas 5 mL/min/1,73 m 2 na TFGe já faria uma diferença mensurável no risco de morte, de TRS, ou ambos em 30 dias e em 1 ano de seguimento.Nguyen et al., 21 mostraram que a piora na função renal foi associada ao aumento da mortalidade intra-hospitalar, tempo de internação e tempo de permanência na unidade de terapia intensiva em pacientes submetidos à cirurgia de substituição da valva aórtica, mas não nos que passaram pelo TAVI. O presente estudo contradiz esses dados. Não houve diferença na mortalidade entre os pacientes comDRC G3-5 quando comparados com os semDRC ou com DRC G1-2 antes do TAVI. Sobre a administração de contraste, os três grupos não apresentaram diferenças quanto ao volume recebido; assim, o volume não foi um preditor de piora da TFGe após um mês e um ano. O valor preditivo do volume de contraste para a disfunção renal após o TAVI é controverso: 15,22,23 em uma meta-análise com mais de 3.800 pacientes pós-TAVI, o uso maior de contraste não foi claramente associado a um aumento no risco de IRA. 24 Contudo, foi encontrada uma diferença no tipo de contraste administrado no Grupo 1: a maioria dos pacientes com DRC G1-2 basal recebeu Iomeron® e este meio de contraste iodado foi preditor de piora da TFGe. O contraste iodado é dividido em três grupos de acordo com sua osmolaridade. Iomeron® é um meio de contraste de baixa osmolaridade caracterizado por valores entre 300‑900 mOsm/kg H 2 O. 25 O Visipaque® é isosmolar, tendo um nível de osmolaridade semelhante ao do sangue (290 mOsm/kg H 2 O) e estrutura dimérica, diferente dos meios de contrate monoméricos de baixa osmolaridade. 25 Apesar dos muitos anos de experiência na utilização de contraste iodado, a exata patogênese da nefropatia induzida por contraste (NIC) permanece desconhecida. As causas podem incluir o efeito osmótico dos meios de contraste sobre os rins, os níveis Tabela 5 – ANOVA de medidas repetidas: comparações pareadas (Grupo 2) (I) TFGe (J) TFGe Diferença Média (I-J) Erro Padrão Sig. † Intervalo de Confiança de 95% para a Diferença † Limite inferior Limite superior TFGe pré-TAVI TFGe 1 mês após o TAVI -4,716 2,019 0,079 -9,728 0,295 TFGe 1 ano após o TAVI -7,201* 2,007 0,002 -12,184 -2,219 TFGe 1 mês após o TAVI TFGe pré-TAVI 4,716 2,019 0,071 -0,295 9,728 TFGe 1 ano após o TAVI -2,485 2,178 0,779 -7,893 2,923 TFGe 1 ano após o TAVI TFGe pré-TAVI 7,201* 2,007 0,002 2,219 12,184 TFGe 1 mês após o TAVI 2,485 2,178 0,779 -2,923 7,893 *A diferença média é significativa ao nível 0,05. † Ajustado para comparações múltiplas: Bonferroni. TFGe: taxa de filtração glomerular estimada; TAVI: implante percutâneo de válvula aórtica (transcatheter aortic valve implantation). Tabela 6 – ANOVA de medidas repetidas: comparações pareadas (Grupo 3) (I) TFGe (J) TFGe Diferença Média (I-J) Erro Padrão Sig. † Intervalo de Confiança de 95% para a Diferença † Limite inferior Limite superior TFGe pré-TAVI TFGe 1 mês após o TAVI -10,453 4,670 0,119 -22,938 2,031 TFGe 1 ano após o TAVI -13,923* 4,944 0,037 -27,138 -0,708 TFGe 1 mês após o TAVI TFGe pré-TAVI 10,453 4,670 0,119 -2,031 22,938 TFGe 1 ano após o TAVI -3,470 2,658 0,631 -10,576 3,636 TFGe 1 ano após o TAVI TFGe pré-TAVI 13,923* 4,944 0,037 0,708 27,138 TFGe 1 mês após o TAVI 3,470 2,658 0,631 -3,636 10,576 *A diferença média é significativa ao nível 0,05. † Ajustado para comparações múltiplas: Bonferroni. TFGe: taxa de filtração glomerular estimada; TAVI: implante percutâneo de válvula aórtica (transcatheter aortic valve implantation). 1109

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