ABC | Volume 113, Nº6, Dezembro 2019

Artigo Original Elias Neto et al. Comportamento das grandes artérias durante a ortostase Arq Bras Cardiol. 2019; 113(6):1072-1081 Figura 3 – Desenho do mecanismo proposto para o comportamento da velocidade da onda de pulso em um indivíduo jovem saudável. A – Em decúbito dorsal, o componente refletido ocorre durante a diástole devido a uma menor VOP. B – Na posição ortostática, devido à força gravitacional, o ponto hidrostático indiferente se move para a aorta subdiafragmática, que possui raio menor e maior módulo elástico; portanto, a VOP aumenta, levando a um retorno mais precoce do componente refletido da onda de pulso, que então ocorre com um aumento do pulso sistólico. Assim, a morfologia da onda de pulso é alterada. 321x263 mm (72 x 72 DPI) Na realidade, embora se observe uma diminuição no coeficiente de reflexão com a utilização da nitroglicerina, observa-se, paradoxalmente, um aumento na rigidez aórtica. Essa rigidez aórtica secundária foi atribuída a uma possível ativação reflexa do sistema nervoso simpático. 25 A análise do comportamento da VOP nessa casuística também mostrou que o aumento da VOP correlacionou-se positivamente com a idade, demonstrando que, mesmo em idosos, que apresentam maiores valores iniciais de VOP, ocorreu um acréscimo adicional na posição ortostática (r 2  = 0,357, p < 0,001 em decúbito dorsal e r 2  = 0,406, p < 0,001 na posição ortostática). Na realidade, esse aumento adicional da VOP nos idosos resulta da adição de achados estruturais com o componente postural dinâmico. Outro aspecto curioso do presente estudo foi a descoberta de uma correlação negativa entre a FC e a VOP na posição ortostática (r = -0,36, p < 0,001). A idade foi a principal variável responsável pelo comportamento da FC na posição ortostática (r 2  = 0,27, p < 0,001). Com o objetivo de melhor compreender esse achado, também foi avaliada a correlação entre a FC medida durante o estresse ortostático e a VOP basal. Observou-se uma correlação negativa entre a FC e a VOP basal (r = –0,29, p < 0,01). Esse resultado mostra uma clara associação do padrão basal de complacência arterial com o nível de resposta da FC à posição ortostática. Estudos experimentais iniciais e estudos em seres humanos em decúbito dorsal relataram correlação positiva entre o aumento da FC e o aumento da rigidez aórtica 1,7,26–27 Entretanto, Wilkinson et al., 14 em um estudo que avaliou o comportamento da VOP e o índice de aumento invasivo em indivíduos saudáveis submetidos à estimulação atrial, não relataram alterações significativas na distensibilidade aórtica devido ao aumento da FC. 14 Além da falta de consenso sobre os efeitos da frequência cardíaca na VOP, os possíveis mecanismos que contribuem para as alterações da VOP com a frequência cardíaca ainda não foramcompletamente elucidados, emboramuitos pesquisadores tenham atribuído alterações na rigidez arterial, relacionadas à frequência cardíaca, à viscoelasticidade da parede arterial. Com a alta frequência cardíaca sendo um fator prognóstico independente da doença cardiovascular e sua associação com a hipertensão, a interação entre a frequência cardíaca e a VOP continua sendo relevante na avaliação do risco cardiovascular. 28 Embora uma primeira análise desses dados aponte para um potencial desacordo com os nossos achados, eles devem ser considerados como complementares entre si e analisados dentro de um contexto dinâmico, pois foram obtidos em condições fisiológicas muito distintas. Estudos transversais relataramque a FC basal não difere entre jovens e idosos emdecúbito dorsal. 29–30 Entretanto, a avaliação da FC de indivíduos saudáveis na posição sentadamostrou que a FC diminui coma idade emambos os sexos. Por outro lado, estudos que utilizaram o teste de inclinação para avaliar a adaptação cardiovascular ao estresse ortostático também relataram uma resposta significativamente menor da FC em idosos. 16 1078

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