ABC | Volume 113, Nº6, Dezembro 2019

Artigo Original Avila et al. Gravidez e cardiopatias congênitas complexas Arq Bras Cardiol. 2019; 113(6):1062-1069 Tabela 2 – Classificação da Organização Mundial de Saúde modificada (mOMS) de risco à gravidez para cardiopatias congênitas OMS I Risco não aumentado de morte e baixa morbidade: lesões estruturais não complicadas, leves ou discretas (estenose pulmonar, defeitos do septo atrial ou ventricular, canal arterial patente); lesões não complexas corrigidas com sucesso (defeito do septo atrial “ostio secundum”, defeito do septo ventricular; canal arterial persistente, drenagem anômala das veias pulmonares); OMS II Risco pequeno de mortalidade e morbidade materna: defeito do septo atrial ou ventricular, Tetralogia de Fallot operada; OMS III Risco significativo de mortalidade e morbidade materna: ventrículo direito sistêmico (e.x transposição congenitamente corrigida das grandes artérias, transposição das arteriais após procedimentos de Mustard ou Senning); circulação de Fontan, cardiopatia congênita cianogênica; outras cardiopatias complexas; OMS IV Risco muito elevado de mortalidade e alta morbidade materna: hipertensão arterial pulmonar de qualquer causa; disfunção ventricular grave; insuficiência cardíaca com FEVE < 30%; lesões obstrutivas graves do coração esquerdo, coartação de aorta grave FEVE: fração de ejeção do ventrículo esquerdo dos dados categóricos foi avaliada pelo método do qui‑quadrado, e, quando necessário, utilizou-se o teste exato de Fisher. A distribuição das variáveis quantitativas quanto à normalidade foi avaliada com o teste de Kolmogorov-Smirnov. As variáveis com distribuição normal foram apresentadas com média e desvio padrão e comparadas com o teste t de Student para amostras independentes. As variáveis não paramétricas foram apresentadas com mediana e intervalo interquartílico e comparadas com o teste de Mann-Whitney. Os valores de p < 0,05 foram considerados significativos. O software SPSS versão 18.0 foi utilizado para o cálculo estatístico. Esta pesquisa foi aprovada pela Comissão de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo - protocolo 4563/17/063. Resultados Análise da casuística As características básicas das 40 pacientes no início da gestação estão expostas na Tabela 3. As lesões cardíacas estruturais de base, a cirurgia corretiva prévia ou não e os resultados obstétricos e fetais das 42 gestações estão apresentados na Tabela 4. A análise da lesão cardíaca estrutural ou funcional registrada no início da gestação (Tabela 4) mostrou: ventrículo direito hipoplásico nos casos 2, 16, 20, 23 e 26; disfunção ventricular esquerda (FE < 50%) nos casos 11 e 20; estenose valvar, infundibular ou supravalvar com gradiente acima de 50 mmHg nos casos 14, 20, 24, 25, 26, 30, 31, 35 e 37; insuficiência valvar importante nos casos 17, 19, 27, 28 e 32. Oito pacientes (20,0%) não haviam sido operadas, e a análise anatomofuncional mostrou que 16 (40%) foram consideradas com um coração com função univentricular. Resultados materno-fetais Considerou-se sucesso materno-fetal em 17 casos (40,5%), quando a mãe e o recém-nascido saudável obtiveram alta hospitalar após o parto sem complicações. A Figura 1 mostra a evolução e as complicações materno-fetais. Insuficiência cardíaca ocorreu nos casos 5, 6, 15, 24 e 41 (Tabela 4) e foi tratada comhospitalização, rigor nas medidas higienodietéticas, furosemida, carvedilol ou metoprolol associado ou não ao digital, quando indicados. Houve necessidade da cardioversão elétrica no tratamento do flütter atrial no caso 21 (Tabela 4). O tempo de internação hospitalar para o tratamento das complicações ou para o planejamento do parto variou entre 21 e 68 dias (média de 45 dias). Houve duas mortes maternas (4,7%) devido a causas obstétricas como hemorragia após o parto e pré-eclâmpsia, respectivamente casos 34 e 38 (Tabela 4). As complicações obstétricas estão apresentadas na Figura 1. As perdas fetais corresponderam a: abortos (casos 12, 17 e 34), natimorto (caso 34) e neomortos (casos 14, 16, 35) dois dos quais prematuros (Tabela 4). A idade gestacional do parto foi, em média, 37 semanas; 24 (54,5%) foram cesáreas por indicação obstétrica ou em função da piora progressiva do quadro clínico materno. Dentre os recém-nascidos vivos, houve dois casos de cardiopatia congênita (4,7%): um deles com recorrência da cardiopatia materna (caso 25) e o outro de tetralogia de Fallot (caso 32). Nenhum deles foi prematuro. Dentre as variáveis de presunção da evoluçãomaterno-fetal, a hipoxemia teve significativa correlação ao maior insucesso da gravidez, enquanto a cirurgia prévia (ser ou não operada) e a função univentricular não tiveram relação com a evolução materna nem com a fetal, como mostra a Tabela 5. Discussão Este estudo corresponde a uma das maiores séries de gestação em portadora de CCC acompanhada sob protocolo Tabela 3 – Características das pacientes do estudo no início da gestação. n = 40 mulheres Estado clínico Idade em anos, média ± dp 16 a 41 (média 24,5 ± 3,4) Saturação periférica de O 2 (%) 76 a 99 (média 88,5) Hemoglobina (mg/dL) 10,5 a 22,0 (média 14,8) Hematócrito (%) 32 a 69 (média 47) Classe funcional (NYHA) (%) I e II: 35 pacientes (79%) III: 9 pacientes (21%) IV: 0 paciente (0%) Submetidas a cirurgia corretiva/paliativa 34 pacientes (77,3%) Não operadas 8 pacientes (20%) Hipoxemia (StO 2 < 92%) 19 (47,5%) Dp: desvio padrão; NYHA: New York Heart Association; StO 2 : saturação de oxigênio (medida pela oxímetro digital) 1064

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