ABC | Volume 113, Nº5, Novembro 2019

Minieditorial Automonitorização com ou sem Telemonitorização: Seria a Nova Era do Diagnóstico e Conduta da Hipertensão? Self-Monitoring with or Without Telemonitoring: Is a New Time for Diagnosis and Management Hypertension? Cibele Isaac Saad Rodrigues 1, 2 Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde - Departamento de Medicina - Área de Nefrologia, 1 Sorocaba, SP – Brasil Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), 2 São Paulo, SP – Brasil Minieditorial referente ao artigo: Prevalência de Hipertensão Mascarada e do Avental Branco em Pre‑Hipertensos e Hipertensos Estágio 1 com o uso da TeleMRPA Correspondência: Cibele Isaac Saad Rodrigues • Rua Joubert Wey, 290. CEP 18030-070, Vila Boa Vista, Sorocaba, SP – Brasil E-mail: cisaad@pucsp.br; cibele.sr@gmail.com Palavras-chave Doenças Cardiovasculares; Telemedicina; Hipertensão/ prevenção e Controle; Hipertensão do Jaleco Branco; Hipertensão Mascarada; automonitorização da Hipertensão. DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20190701 De acordo com as diretrizes do American College of Cardiology (ACC)/ American Heart Association (AHA) de 2017, sobre a prevenção, detecção, avaliação e conduta na hipertensão arterial (HA) em adultos, 46% dos adultos americanos são hipertensos. 1 No Brasil, como os níveis de pressão arterial (PA) sistólica e diastólica que definem a hipertensão 2 diferem da Diretriz ACC/AHA, este percentual é de cerca de 25%, de acordo com o VIGITEL. 3 A hipertensão é importante questão de saúde pública e o principal fator de risco para doenças cardiovasculares, acidente vascular cerebral e doença renal cr nica. As doenças cardíacas e o acidente vascular cerebral estão entre os problemas de saúde mais prevalentes e onerosos do mundo, sendo que o controle da PA é a intervenção mais eficaz para salvar vidas, prevenindo comorbidades deletérias, mas apenas aproximadamente metade dos indivíduos apresentam controle pressórico mesmo nos países em desenvolvimento. 1,2,4 A PA é um dos parâmetros de monitorização mais importantes na clínica médica. A medida adequada da PA é ponto crucial no diagnóstico e na conduta da hipertensão arterial na prática clínica, em consultórios ou fora deles. 5 A monitorização residencial da PA com dispositivos automáticos validados torna-se uma alternativa à monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA), recomendada como o método preferencial de medida da PA fora do consultório na maioria das diretrizes 1,2,5,6 devido à sua maior precisão, capacidade ímpar de medir a PA noturna, identificando hipertensos non-dippers e risers ( reverse dipping ), detecta a variabilidade circadiana e parece correlacionar-se melhor com prognóstico. Em contraste com a MAPA, a monitorização residencial da pressão arterial (MRPA) é bem tolerada, mais facilmente disponível, de menor custo, apresentando também uma associação mais forte com o risco renal e cardiovascular, em comparação com a pressão medida no consultório. Além disso, a MRPA pode conferir maior autonomia ao paciente, além de um papel mais ativo no tratamento de sua doença cr nica, sendo útil para monitorar a eficácia do tratamento anti-hipertensivo, melhorando assim o controle da PA, diminuindo a inércia terap utica. No entanto, as evid ncias científicas atuais demonstraram que a MRPA, embora seja custo efetiva e se constitua em boa abordagem, é subutilizada nos Estados Unidos e em outros países, 7 estando disponíveis alguns poucos ensaios clínicos bem elaborados. O estudo TASMINH4, 8 realizado pelo National Institute for Health Research do Reino Unido, recentemente publicado na Lancet, constatou que a automonitorização, com ou sem telemonitorização, quando utilizada por médicos clínicos na atenção básica para prescrever medicamentos anti-hipertensivos para indivíduos com PA não controlada, encontrou níveis de PA sistólica significativamente menores no grupo de intervenção em comparação com a prescrição pautada por medidas feitas no consultório. Os resultados mostraram que a automonitorização com ou sem telemonitorização auxilia a conduta da hipertensão na atenção básica. O Telescot 9 é um ensaio clínico escoc s que incluiu sete estudos sobre a implementação da telemonitorização no contexto da atenção primária para a conduta de longo prazo da hipertensão, diabetes e outras doenças cr nicas. Os resultados mostraram alto índice de aprovação por parte dos pacientes, que consideraram a utilidade desta nova estratégia em conferir-lhes autonomia. Os médicos também considerarama telemonitorização algo encorajador; no entanto, alguns expressaram críticas às características do software, o que pode denotar obstáculos à ampla implementação da telemonitorização na rotina de cuidados diários. No estudo “Prevalence of Masked and White-Coat Hypertension in Pre-Hypertensive and Stage 1 Hypertensive Patients with the Use of TeleMRPA” [Preval ncia de Hipertensão Mascarada e do Avental Branco em Pré‑Hipertensos e Hipertensos Estágio 1 com o uso da TeleMRPA] desta edição, Barroso WKS et al. 10 utilizaram a estratégia da MRPA associada à telemedicina (plataforma TeleMRPA). A amostra foi composta por 1.273 participantes, dos quais 58,1% eram mulheres, com idade média de 52,4 ± 14,9 anos, índice de massa corporal médio de 28,4 ± 5,1 kg/m 2 . A PA casual medida no consultório foi maior que a MRPA (+7,6 mmHg para pressão sistólica e +5,2 mmHg para pressão diastólica (p < 0,001). Os autores encontraram 558 (43,8%) indivíduos 976

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