ABC | Volume 113, Nº5, Novembro 2019

Artigo Original Barroso et al. Telemedicina no diagnóstico da hipertensão arterial Arq Bras Cardiol. 2019; 113(5):970-975 Introdução A preval ncia de hipertensão arterial (HA) na população adulta brasileira é alta e varia de acordo com a população estudada e o método de avaliação (31% a 35,8%). 1 Por esta razão, o diagnóstico preciso dos diversos cenários relacionados ao comportamento da PA é fundamental para a estratificação adequada do risco cardiovascular, assim como para a definição das melhores estratégias de tratamento. 1,2 Nesse contexto, deve-se considerar a possibilidade da normotensão, da hipertensão mascarada (HM), da hipertensão do avental branco (HAB) e da HA sustentada. 3 Define-se a HM pela presença de PA normal no consultório mas elevada fora dele; já a HAB é definida pelo encontro de valores elevados no consultório e normais nas medidas domiciliares. Vale ressaltar que HM, HAB e HA são altamente prevalentes e se relacionam com aumento de morbidade e mortalidade cardiovasculares. 4 Devem, portanto, ser investigadas e diagnosticadas e, para isso, é fundamental a utilização de métodos capazes de monitorizar a PA fora do ambiente do consultório médico. 5,6 Para as medidas domiciliares da PA podemos utilizar a monitorização ambulatorial (MAPA) ou residencial (MRPA), esta última com a possibilidade de oferecer as informações necessárias para o diagnóstico adequado com maior comodidade e melhor relação custo-benefício. 7 Ainda, em relação à MRPA, a inserção na rotina do paciente da medida habitual de sua pressão arterial (PA) tem demonstrado aumento na adesão ao tratamento medicamentoso. Esse benefício parece ser ainda maior quando se utilizam plataformas de telemedicina. 8,9 A identificação adequada da HM e da HAB é tão importante que as principais diretrizes de HA recomendam a utilização de MAPA ou MRPA na investigação diagnóstica sempre que possível, com nfase ao seu emprego nas alterações iniciais da PA. 1,2,3,7 O presente trabalho é o primeiro estudo nacional que teve como objetivo avaliar a preval ncia de HM e do avental branco pela MRPA em pacientes pré-hipertensos e hipertensos estágio 1. Método Esse estudo foi submetido e aprovado pelo Comit de Ética em Pesquisa Humana do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás com o número CAEE 99691018.7.0000.5078. Trata-se de um estudo retrospectivo em que foram avaliados os dados de todos pacientes que realizaram exames na plataforma TeleMRPA (www.telemrpa.com) de maio de 2017 a setembro de 2018. Do total, foram selecionados aqueles que realizaram o exame para fins de diagnóstico e não estavam em uso de fármacos anti-hipertensivos. Os critérios de inclusão foram idade maior que 18 anos; avaliados na plataforma TeleMRPA, sem uso de fármacos anti-hipertensivos e que apresentassem, pela medida casual (média de duas medidas) realizada na clínica no primeiro dia do protocolo, as PAS e PAD com critérios para o diagnóstico de pré-hipertensão (PH) – PAS ≥ 120 mmHg e/ou PAD ≥ 80 mmHg e PAS < 140 mmHg e PAD < 90 mmHg; ou HA estágio 1 – PAS ≥ 140 mmHg e/ou PAD ≥ 90 mmHg e PAS < 160 mmHg e PAD < 100 mmHg, de acordo com a Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (DBHA). 1 A plataforma TeleMRPA foi desenvolvida como ferramenta de laudo a distância por telemedicina, com características que permitem a análise e o filtro do banco de dados de acordo com as perguntas científicas que se pretende investigar. Houve uma preocupação em desenvolver e aprimorar o algoritmo matemático com vistas a possibilitar uma grande qualidade nos dados analisáveis, seja para a interpretação do exame, seja para a construção de projetos de pesquisa. Nesse contexto, o banco de dados protege os dados de identificação do paciente e das clínicas ou unidades de saúde. Os coinvestigadores receberam, antes do início da inclusão de dados na plataforma, treinamento sobre as evid ncias científicas e metodologia da MRPA, assim como aparelhos automáticos da marca Omron para as medidas da PA. O protocolo utilizado para a obtenção das medidas residenciais segue a recomendação da diretriz brasileira de MRPA, 7 que orienta realizar duas medidas no primeiro dia no consultório ou na clínica (essas medidas não são utilizadas para análise da média residencial) e seis medidas ao dia em quatro dias consecutivos (tr s pela manhã e tr s à noite), em um total de 24 medidas para o cálculo da média. Esta é considerada normal quando menor que 135/85 mmHg (Tabela 1). 1,2,7,8 Recomenda-se, no primeiro dia, no momento da retirada do aparelho na unidade de saúde, que o paciente seja orientado sobre o manuseio correto do aparelho de medida da PA, assim como a técnica para a medida adequada e confiável. Essa orientação segue a normativa da DBHA. 1 Posteriormente, o próprio paciente (ou cuidador/acompanhante) é orientado a medir por duas vezes ao dia a sua PA, seguindo o protocolo de medidas descrito anteriormente. Os dados dos pacientes, assim como os valores da PA, foram inseridos na plataforma TeleMRPA e analisados para as seguintes variáveis: Dados sociodemográficos: sexo, idade, distribuição da amostra e comportamento da PA por regiões geográficas. Dados antropométricos: IMC com a fórmula de Quetelet (IMC = peso em kg/altura em metros 2 ). Pressão arterial: média da PA na clínica (primeiro dia), média da PA residencial (segundo a quinto dias) e médias da PA no período da manhã e da noite, média da pressão de pulso e variabilidade da PA. Banco de dados e análise estatística O banco de dados foi estruturado em Excel ® (Microsoft) com os dados importados da plataforma TeleMRPA; os códigos numéricos foram digitados por tr s investigadores com posterior cruzamento de dados para identificar e corrigir eventuais erros de digitação. As variáveis contínuas foram apresentadas com média e desvio padrão e as categóricas com frequ ncias absoluta e relativa. Para verificar a distribuição dos dados das variáveis contínuas foi utilizado o teste de Kolmogorov-Smirnov. Para comparar as medidas de PA entre as medidas casual e MRPA foi utilizado o teste t pareado. Para comparar as frequ ncias de HA mascarada entre pré-hipertensos estágio 1 e estágio 2 foi empregado o qui quadrado, que também foi 971

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