ABC | Volume 113, Nº5, Novembro 2019

Artigo Original Costa-Mateu et al. Cateterismo com estratégia de um cateter Arq Bras Cardiol. 2019; 113(5):960-968 Tabela 2 – Indicações do procedimento e características angiográficas Total de procedimentos (n = 1953) Estratégia de um cateter (n = 252) Estratégia de dois cateteres (n = 1701) Valor de p Indicação de cineangiocoronariografia 0,684 Doença isquêmica do coração crônica, n (%) 610 (31,2%) 74 (29,4%) 536 (31,5%) Síndrome coronariana aguda, n (%) 615 (31,5%) 77 (30,6%) 538 (31,6%) Valvopatia, n (%) 372 (19,0%) 49 (19,4%) 323 (19,0%) Cardiomiopatia, n (%) 272 (17,1%) 43 (17,1%) 229 (13,5%) Outros, n (%) 84 (4,3%) 9 (3,6%) 75 (4,4%) Lesão do tronco da coronária esquerda, n (%) 155 (7,9%) 21 (8,3%) 134 (7,9%) 0,803 Número de vasos acometidos 0,359 Um vaso, n (%) 634 (32,5%) 83 (32,9%) 551 (32,4%) Dois vasos, n (%) 294 (15,1%) 32 (12,7%) 262 (15,4%) Três vasos, n (%) 234 (12,0%) 25 (9,9%) 209 (12,3%) Desfechos A Tabela 3 apresenta os dados comparativos relacionados aos desfechos. O grupo da estratégia de um cateter recebeu menos quantidade de contraste iodado que o grupo da estratégia de dois cateteres [77 (60–105) mL vs. 92 (64–120) mL; p < 0,001]. Além disso, o grupo da estratégia de um cateter apresentou menos espasmo radial (6,0% vs. 8,9%, p < 0,001) e procedimentos coronários mais curtos [tempo de fluoroscopia: 3,9 (2,2–8,0) min vs. 4,8 (2,9–8,3) min, p = 0,001] que o grupo da estratégia de dois cateteres. Não foram observadas diferenças entre as estratégias de um cateter e dois cateteres na transição da via de acesso (3,6% vs. 4,9%, p = 0,360) e na necessidade de cateteres complementares para concluir a cineangiocoronariografia (15,9% vs. 12,5%, p = 0,132). Além disso, não houve diferenças na exposição a radiações ionizantes, avaliadas como DAP [3488 (2556–5369) mGy.m2 vs. 3711 (2393–5762) mGy.m2; p = 0,831] e kerma no ar [582 (407–917) mGy vs. 641 (424–974) mGy; p = 0,165]. Em relação à análise econ mica, a estratégia de um cateter reduziu os custos diretos atribuíveis aos procedimentos coronarianos [149 (140–160) € /procedimento vs. 171 (160–183) € /procedimento; p < 0,001] em comparação com a estratégia convencional. Discussão Os principais achados da nossa investigação foram que a estratégia de um cateter, com cateteres TIG, está associada à redução do espasmo radial, consumo de contraste iodado, duração do procedimento coronariano e custos econ micos na cineangiocoronariografia. O espasmo radial é uma complicação relativamente comum durante a coronariografia por cateterismo pela via radial, e sua incid ncia é variável, variando de 5% a 30%. 12-16 Essa complicação reduz o conforto do paciente e o sucesso do procedimento, 1,13 e quando envolve a necessidade de mudança da via de acesso para o acesso femoral, está relacionada ao aumento das complicações vasculares. 17 Embora a taxa global de espasmo radial na nossa investigação (9,0%) estivesse na faixa inferior aos estudos que avaliaram esse item em procedimentos coronarianos, a estratégia de um cateter permitiu reduzir a incid ncia de espasmo radial (estratégia de um cateter: 5,2% vs. estratégia de dois cateteres: 9,3%, p = 0,022). Esses resultados estão de acordo com tr s dos mais recentes ensaios clínicos randomizados, demonstrando uma redução no espasmo radial pela estratégia de um cateter. 7,18,19 Diversos fatores, como idade, sexo feminino, múltiplas punções radiais e diâmetro radial, estão relacionados ao espasmo radial. 4,14–16,20 Além disso, a troca de cateteres durante o acesso pela via radial temestado associada à indução de espasmo radial, provavelmente relacionada à repetida estimulação da artéria radial. 4 Como resultado, o espasmo radial não está associado apenas ao desconforto do paciente, falha do procedimento e morbimortalidade, mas também à grande dificuldade de se lidar com cateteres coronarianos. Isso leva a mais testes radiológicos para conseguir a canulação dos óstios coronarianos e, portanto, a um incremento no tempo de fluoroscopia e na quantidade total de contraste iodado. Os agentes radiológicos iodados estão relacionados a diversas complicações, destacando a nefropatia induzida por contraste (NIC). A NIC, que afeta 1% a 33% dos pacientes encaminhados para cineangiocoronariografia invasiva, é uma das causas mais comuns de insufici ncia renal adquirida em pacientes cardiológicos. 20–24 O desenvolvimento de NIC após um procedimento coronariano invasivo está associado à longa perman ncia hospitalar, aumento acentuado da morbimortalidade, bemcomo aumento dos custos de saúde. 22,24 Estudos clássicos demonstraram que o volume de contraste iodado utilizado em procedimentos coronarianos invasivos está intimamente relacionado ao surgimento de NIC. 21,23,26 Até o momento, a maioria dos estudos sobre a prevenção da NIC não se concentrou em técnicas específicas para reduzir a administração de contraste. Apenas um estudo observacional recente mostrou redução da NIC secundária a uma técnica específica para diminuir a administração de contraste utilizando-se a angiografia 964

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