ABC | Volume 113, Nº5, Novembro 2019

Artigo Original Congo et al. Fibrilação auricular de novo no IAMSST Arq Bras Cardiol. 2019; 113(5):948-957 p < 0,001) (Figura 3). Embora a FA de novo tenha estado associada à maior incid ncia de complicações e mortalidade intra-hospitalar, pela análise multivariada, a FA de novo não foi encontrada como um preditor independente de mortalidade intra-hospitalar [OR 1,19 (0,62–2,27), p = 0,608]. Identificamos idade, acidente vascular cerebral prévio, IAMcSST com localização inferior e bloqueio AV completo como preditores independentes de FA de novo (Tabela 8). Discussão Esses dados populacionais refletem a experi ncia abrangente de uma comunidade em um ambiente de “vida real”, sendo mais representativos dos pacientes tratados na prática clínica do que as populações incluídas em ensaios clínicos randomizados. Na nossa população, encontrou-se FA de novo em 5,8% dos pacientes hospitalizados por IAMcSST, o que se coaduna com dados publicados recentemente. 1,7 No entanto, esse número é inferior à maioria dos estudos publicados anteriormente, sugerindo que, apesar da população apresentar idade cada vez mais avançada e maior preval ncia de comorbilidades, a incid ncia de FA no cenário de infarto agudo do miocárdio diminuiu. 8,9 Encontrou-se FA de novomais frequentemente empacientes com idade mais avançada, do sexo feminino, com maior preval ncia de comorbidades, incluindo hipertensão, diabetes, acidente vascular cerebral prévio e insufici ncia cardíaca prévia e, portanto, maiores escores CHA 2 DS 2 ‑VASc. De acordo com Schmitt et al., 1 a revascularização por intervenção coronariana percutânea tem estado associada a um declínio notável na incid ncia de FA. 1 No entanto, um dos principais achados do presente estudo é que a FA de novo como fator complicador do quadro de IAMcSST é independente da estratégia de reperfusão. A reperfusão foi realizada com sucesso em ambos os grupos, sem diferença em relação ao tipo de reperfusão e nenhuma diferença no número de vasos acometidos ou tratados entre os dois grupos. Esse fato está de acordo com o estudo OACIS, onde a FA como fator complicador da evolução clínica do infarto do miocárdio parece ser independente do tratamento com trombolíticos ou intervenção coronária percutânea (ICP). 10,11 No entanto, parece haver um efeito favorável da terapia de reperfusão precoce na prevenção de FA de novo, como também foi sugerido por um estudo anterior. 8 O uso de dispositivos de trombectomia, que podem sugerir uma causa cardioembólica, foi mais frequentemente utilizado em pacientes que desenvolveram FA, levantando a questão de que alguns pacientes com FA de novo podem ter tido FA paroxística não diagnosticada. 12 Não há dados suficientes que indiquem prefer ncias para o controle da frequ ncia ou ritmo na FA como fator complicador do IAMcSST. Além dos betabloqueadores, o uso de medicamentos antiarrítmicos geralmente se limita à amiodarona. 13 Em nossa população, dois terços dos pacientes que desenvolveram FA de novo iniciaram tratamento com amiodarona. A escolha da terapia antitrombótica ficou a critério do médico assistente e reflete uma ampla variedade de estratégias terap uticas em um ambiente de “vida real”. Considerando as diretrizes mais recentes publicadas pela Sociedade Europeia de Cardiologia, a recomendação é que pacientes com IAMcSST com indicação de anticoagulação oral, como na FA, devem ser considerados para terapia tripla com aspirina, clopidogrel e anticoagulante oral por 1–6 meses. 13,14 Como mostrado na Tabela 5, nesta população, apenas 16,1% estavam sob terapia tripla na alta, 10,2% com ácido acetilsalicílico (AAS), clopidogrel e antagonistas da vitamina K, e 5,9% com AAS, clopidogrel e anticoagulantes orais (NOACs). Essa baixa frequ ncia de terapia tripla em pacientes com IAMcSST vem sendo relatada em outros estudos, como o estudo APEX-AMI, onde 10,6% dos pacientes com FA de novo hospitalizados por IAMcSST estavam sob terapia tripla. 15 Dezessete por cento dos pacientes do grupo 2 utilizavam inibidores da P2Y 12 além do clopidogrel e nenhum deles utilizava anticoagulantes no momento da alta hospitalar. Vale ressaltar que 6,1% dos pacientes tratados com aspirina durante a internação não estavam recebendo aspirina quando receberam alta, sugerindo que foi escolhida uma estratégia semelhante à do ensaio WOEST, que também é corroborada por uma metanálise que sugere que a combinação de antagonistas da vitamina K e monoterapia antiplaquetária é a melhor escolha para pacientes com FA submetidos à ICP, considerando tanto a eficácia quanto a segurança. 16,17 Stenestrand et al., 18 e Lopes et al., 15 mostraram que apenas uma pequena porcentagem de pacientes com FA e IAM recebeu terapia de anticoagulação oral na alta hospitalar (30% e 43,4%, respectivamente). Nossos resultados mostram menor frequ ncia de anticoagulação: apenas 20,6% dos pacientes com diagnóstico de FA durante a internação hospitalar receberam anticoagulação oral na alta hospitalar. Quarenta e cinco por cento dos pacientes em anticoagulação na alta hospitalar recebiam NOACs. Figura 2 – Terapia de reperfusão. FA: fibrilação atrial; ICP: intervenção coronariana percutânea. 83,2 81,9 92,6 97,3 ICP Terapia de Reperfusão Fibrinólise TERAPIA DE REPERFUSÃO Sem FA FA de novo 7,4 2,7 Valores percentuais (%) 952

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