ABC | Volume 113, Nº5, Novembro 2019

Artigo Original Saraiva et al. Valores normais para novas técnicas ecocardiográficas Arq Bras Cardiol. 2019; 113(5):935-945 Introdução Novas técnicas ecocardiográficas v m sendo cada vez mais utilizadas no diagnóstico e prognóstico de diversas doenças cardíacas. 1-3 No entanto, muitos dos novos índices derivados dessas técnicas carecem de valores de refer ncia em diferentes populações. As funções ventricular esquerda (VE), atrial esquerda (AE) e ventricular direita (VD) podem ser avaliadas tanto pela ecocardiografia tridimensional (E3D) quanto pela análise da deformação ( ε ) pela ecocardiografia bidimensional por speckle tracking (EST). Os valores de refer ncia para alguns dos índices derivados dessas técnicas podem ser encontrados em diretrizes recentes, mas ainda estão ausentes em muitas delas. 1 Consequentemente, estudos referentes à avaliação da função VE, AE e VD em diferentes condições exigem grupos controle, que podem não representar uma amostra real e consistente de uma população normal. Além disso, a população brasileira é frequentemente sub-representada em estudos que avaliaram valores de refer ncia para esses parâmetros. Portanto, estudamos novos parâmetros ecocardiográficos e sua correlação com a idade em brasileiros sem doença cardiovascular conhecida. Métodos Indivíduos estudados Trata-se de um estudo transversal prospectivo que recrutou participantes entre os indivíduos encaminhados à nossa instituição, com resultado negativo para doença de Chagas em dois testes sorológicos diferentes, sem doenças conhecidas, exame físico normal, eletrocardiograma normal e ecocardiogramas com função sistólica ventricular esquerda global e segmentar normal e aus ncia de valvopatia importante. Obteve-se informações sobre raça/etnia por autodescrição. O estudo foi realizado no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), da Fundação Oswaldo Cruz, localizado na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. O INI é uma instituição pública dedicada à pesquisa clínica sobre doenças infecciosas e um centro de refer ncia para o diagnóstico e tratamento da doença de Chagas. O presente artigo é proveniente do nosso projeto “Análise do desempenho cardíaco por novas técnicas ecocardiográficas em pacientes com doença de Chagas”. 4,5 Utilizamos uma amostra por conveni ncia. Ecocardiograma Os estudos foram realizados usando sistema de ultrassom (Vivid 7, GE Medical Systems, Milwaukee, WI) equipado com transdutores phased-array M4S e transdutor matriz de 1,5 a 4-MHz. Conforme recomendado, foram obtidas as dimensões cardíacas medidas por ecocardiograma modoM, bidimensional e Doppler. 1,6 Os ecocardiogramas foram revisados offline e as análises de ε bidimensional e E3D foram realizadas com o software Echopac PC workstation versão 108.1.12 (GE Medical Systems) com plug-in de análise de volume VE 4D (Tomtec Imaging Systems Gmbh). O mesmo software projetado para calcular a ε do VE foi usado para analisar a ε do VD e AE. Todos os clipes bidimensionais analisados foram adquiridos em alta taxa de quadros (>60 quadros/s). Os estudos foram adquiridos por um ecocardiografista e analisados por dois ecocardiografistas. Análise de deformação bidimensional Análise de deformação do AE A ε do AE foi determinada conforme descrito anteriormente 7 por meio de projeções apicais de 4 e 2 câmaras. O início da onda P foi utilizado como ponto de refer ncia, o que permitiu o reconhecimento do pico da ε global positiva do AE (LAScd), que correspondeu à função de conduto do AE, pico da ε global negativa do AE (LASct), que correspondeu à função contrátil do AE, e a soma dos valores anteriores (LASr), que corresponderam à função de reservatório do AE. Análises de deformação bidimensionais do VE e VD A ε longitudinal global do VE (SLG-VE), a ε circunferencial global do VE (SCG-VE) e a ε radial global do VE (SRG-VE) foram calculadas como descrito anteriormente. 4,5 Os valores de SCG-VE e SRG-VE foram a média da média de pico das medidas SCG-VE e SRG-VE obtidas nas projeções eixo curto nos níveis basal, médio e apical. A medida SLG-VE foi a média da média de pico da medida SLG-VE obtida nas projeções de 4, 2 e 3 câmaras. Se a qualidade do tracking não fosse boa em dois segmentos da mesma janela acústica, a projeção era excluída do cálculo da ε global do VE. A ε longitudinal do VD (SLG-VD) foi calculada por meio da projeção apical de quatro câmaras focada. A ε da parede livre do VD (SLPL-VD) foi calculada como a média dos segmentos basal, médio e apical da parede livre do VD. Cálculo da torção ventricular esquerda A torção e o twist do VE foram calculados como descrito anteriormente. 5 O twist do VE foi definido como a diferença líquida da rotação do VE (VErot) entre os planos apical e basal de eixo curto, obtida pela análise por EST e a torção do VE foi definida como o twist do VE dividido pelo comprimento longitudinal diastólico final do VE. A VErot no sentido anti‑horário, vista do ápice, foi expressa como um valor positivo. Análises do volume e função do AE e VE pela E3D As imagens ecocardiográficas tridimensionais de volume total durante quatro batimentos foram adquiridas em apneia no final da expiração a partir de projeções apicais. A taxa de volume variou de 17 a 25 volumes/s. As imagens tridimensionais do AE foram analisadas conforme descrito anteriormente. 5 O software mostrou volumes máximos e médios do AE e o volume do AE pré‑contração foi obtido a partir da análise das curvas tempo‑volume. A fração de esvaziamento total do AE foi calculada como [(volume máximo do AE – volume mínimo do AE)/volume máximo do AE] x 100. A fração de esvaziamento do AE ativa foi calculada como [(volume pré-contração do AE – volume mínimo do AE)/volume pré-contração do AE] x 100. A fração de esvaziamento passiva do AE foi calculada como [(volume máximo do AE – volume pré-contração do AE)/volume máximo do AE] x 100. 936

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