ABC | Volume 113, Nº5, Novembro 2019

Minieditorial Ecocardiograma Transesofágico com Contraste na Dilatação Intravascular Pulmonar na Esquistossomose Hepatoesplênica Transesophageal Echocardiogramwith Contrast in Pulmonary Intravascular Dilation in Hepatosplenic Schistosomiasis Sandra Nívea dos Reis Saraiva Falcão 1,2, 3 Universidade de Fortaleza (Unifor), 1 Fortaleza, CE – Brasil Universidade Federal do Ceará, 2 Fortaleza, CE – Brasil Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes, 3 Fortaleza, CE – Brasil Minieditorial referente ao artigo: “Valor do Ecocardiograma Transesofágico com Contraste no Diagnóstico da Dilatação Vascular Intrapulmonar na Esquistossomose Hepatoesplênica” Correspondência: Sandra Nívea dos Reis Saraiva Falcão • Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará - Medicina Clínica - Rua Prof. Costa Mendes, 1608 4° andar. CEP 60416-200, Fortaleza, CE – Brasil E-mail: sn.falcao@uol.com.br Palavras-chave Ecocardiografia Transesofagiana/métodos; Dilatação Patológica; Esquistossomose; Síndrome Hepatopulmonar; Doença Hepática Cr nica/fisiopatologia. DOI: 10.5935/abc.20190234 A síndrome hepatopulmonar (SHP) é definida por defeito na oxigenação arterial induzido por dilatação vascular intrapulmonar (DVIP) associada a doença hepática. O componente vascular inclui dilatação capilar difusa ou localizada emenos comumente comunicações arteriovenosas pulmonares. 1 Uma abordagem sensível para detecção precoce de alteração da oxigenação arterial é o cálculo da diferença de pressão alvéolo-arterial de oxig nio (PA-aO 2 ). Essa diferença pode estar elevada antes da pressão de oxig nio arterial tornar-se anormal. 2 Ao nível do mar, a PA-aO 2 maior ou igual a 15 mmHg, é considerada anormal (esse limite muda para 20 mmHg em indivíduos acima de 64 anos). 3 Entretanto, o aumento da PA-aO 2 isoladamente não é suficiente para o diagnóstico de SHP, a presença de DVIP deve também estar presente e é definida quando o diâmetro do capilar pulmonar está na faixa de 15 a 60 microns. 1 O diagnóstico de DVIP pode ser realizado por cintilografia pulmonar com albumina macroagregada radio marcada com tecnécio 99 ou por angiografia pulmonar. Todavia, o ecocardiograma transtorácico com contraste de microbolhas (ETTc) é um método sensível, não invasivo e considerado padrão ouro. 4 A ETTc utiliza microbolhas obtidas a partir de solução salina agitada e infundida em veia periférica. Em condições normais apenas as câmaras cardíacas direitas são preenchidas pela presença do contraste e as microbolhas são filtradas no leito capilar pulmonar, cujo diâmetro médio é cerca de 10 micrometros. Na presença de DVIP, a dilatação dos capilares promove o shunt e permite a passagem das microbolhas para câmaras cardíacas esquerdas cerca de 4 a 6 batimentos após seu aparecimento nas câmaras direitas, quando isso acontece consideramos o ETTc positivo para presença de DVIP. 5 O aparecimento de contraste em câmaras esquerdas pode ocorrer precocemente (antes de 4 batimentos), sendo nesse caso diagnosticado presença de shunt intracardíaco (comunicação intra atrial ou foramen oval patente). A presença de microbolhas em câmaras cardíacas esquerdas pode ser graduada da seguinte forma semiquantitativa: grau 0, nenhuma bolha presente em átrio esquerdo; grau I, poucas e puntiformes bolhas presentes no átrio esquerdo; grau II, moderadas bolhas sem preencher completamente o átrio esquerdo; grau III, moderadas bolhas preenchendo completamente o átrio esquerdo, mas commenor intensidade que o átrio direito; e grau IV, distribuição homog nea de bolhas em ambos os átrios. 5 A graduação esperada, em indivíduos normais, quanto ao contraste de microbolhas em câmaras esquerdas é grau 0, não obstante, em alguns pacientes é descrito presença de grau I de contraste, fato explicado, pelo menos parcialmente, pela presença de eventuais shunts pulmonares fisiológicos. 6 O ETTc pode apresentar-se positivo em cerca de até 47% dos paciente com doença hepática (com ou sem SHP), mas apenas cerca de 32-59% destes pacientes t m hipoxemia arterial, podendo corresponder a uma forma pré-clínica ou silenciosa de SHP. 7 Vedrinne et al., 5 demonstraram superioridade do ecocardiograma transesofágico com contraste (ETEc) em detectar a passagem de bolhas para câmaras esquerdas e por consequente DVIP, quando comparado com o ETTc em pacientes portadores de hepatopatia severa com indicação de transplante hepático, sendo também seguro nesses pacientes, mesmo na presença de varizes esofágicas. 5 Apesar da vantagem para a visualização das microbolhas, o ETEc requer sedação, é mais caro e apresenta risco potencial em pacientes com varizes esofágicas (que são frequentes nos pacientes portadores de hepatopatias). 1 Embora a SHP seja frequentemente associada a cirrose, não há correlação entre a causa primária da lesão hepática e a SHP, 8 bem como a ocorr ncia da síndrome já foi documentada em pacientes com hipertensão portal sem cirrose. 9 Na esquistossomose, doença causada pela infecção pelo Schistosoma mansoni e end mica na região Nordeste do Brasil, a hipertensão portal pode estar presente em 2-7% dos casos, 10 secundária a fibrose periportal. A preval ncia de SHP empacientes com cirrose hepática em lista de transplante no Brasil é cerca de 5 a 16%; 11 entretanto, há 923

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