ABC | Volume 113, Nº5, Novembro 2019

Minieditorial Um Novo Modelo Animal Murino de Esteatohepatite Não-Alcoólica e Síndrome Metabólica A New Rodent Model of Non-Alcoholic Steatohepatitis and Metabolic Syndrome Fernando Gomes Romeir o e Lívia Alves Amaral Santos Universidade Estadual Paulista (UNESP), Botucatu, SP – Brasil Minieditorial referente ao artigo: Dieta Rica em Banha e Colesterol, mas não Dieta Rica em Banha, Leva a Distúrbios Metabólicos em um Modelo Modificado de Dislipidemia Correspondência: Fernando Gomes Romeiro • UNESP - Av. Prof. Mário Rubens Guimarães Montenegro, s/n. CEP 18618-687, Distrito de Rubião Jr. Botucatu, SP – Brasil E-mail: fgromeiro@gmail.com Palavras-chave Obesidade; Resist ncia à Insulina; Doenças Metabólicas; Doença Hepática; Fígado Gorduroso; Síndrome Metabólica; Inflamação; Estresse Oxidativo; Ratos. DOI: 10.5935/abc.20190219 A obesidade está nitidamente ligada ao risco aumentado de mortalidade por todas as causas e sua preval ncia tem aumentado para níveis inaceitáveis nos países desenvolvidos. 1,2 A obesidade e a resist ncia à insulina compõem o núcleo da maioria dos casos de síndrome metabólica (SM), que é um grupo de condições e características associadas a um risco aumentado de doença cardiovascular e diabetes (aproximadamente 2 e 5 vezes, respectivamente). 3 A doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) é a manifestação hepática da SM e tem ganho atenção não apenas por distúrbios relacionados à obesidade, mas também pela progressão para esteatohepatite não alcoólica (EHNA), cirrose hepática e carcinoma hepatocelular. Semelhante aos outros componentes metabólicos envolvidos na SM, o tratamento da DHGNA é baseado em mudanças de estilo de vida difíceis de serem alcançadas emensaios clínicos, tornando os estudos pré‑clínicos uma excelente opção para aumentar o conhecimento sobre a doença e testar as intervenções propostas. Entretanto, os modelos in vitro apresentam sérias limitações para avaliar os achados hepáticos e extra-hepáticos da EHNA em humanos, devido à sua etiologia multifatorial. 4 Como resultado, os dados obtidos em animais são amplamente avaliados, com um interesse crescente no desenvolvimento de modelos de camundongos. Mesmo que muitos desses modelos não desenvolvam esteatohepatite como a definição exata aplicada ao tecido hepático humano, eles ainda são uma excelente fonte de conhecimento sobre DHGNA e EHNA. Os modelos de roedores precisammimetizar a DHGNA em relação ao seu desenvolvimento pela obesidade induzida pela dieta, que é considerado o fator de risco mais comum para a DHGNA em seres humanos. 5 Acima de tudo, a dieta dada aos camundongos deve se parecer com as dietas humanas em relação à composição de macronutrientes, não dependendo de toxinas e levando à obesidade, resist ncia à insulina e inflamação sist mica. 6 Alguns dos modelos de camundongos mais frequentemente utilizados para simular DHGNA são a dieta deficiente em metionina e colina e a dieta deficiente em colina e com composição de aminoácidos definida, mas ambas foram criticadas porque os animais sofrem perda de peso e não desenvolvem resist ncia à insulina. 7 Além disso, a dieta rica em colesterol promove apenas ligeiros aumentos no peso hepático, nos níveis de triglicerídeos e nas enzimas hepáticas séricas, às custas de uma quantidade incomum de colesterol na dieta (1%) em comparação com as dietas humanas. 8 A dieta Colesterol e Colato (CC) também exige uma quantidade alta de colesterol (1,25%). Ela induz inflamação, balonização dos hepatócitos, esteatose e fibrose em um período de 6 a 24 semanas. 4 Além disso, a adição de 60% de gordura pode encurtar o tempo de desenvolvimento de NASH para 12 semanas. 9 O modelo também causa peroxidação lipídica, aumento de lípides séricos e estresse oxidativo. No entanto, camundongos submetidos a essa dieta perdem peso, apresentam baixos níveis plasmáticos de triglicérides e não desenvolvem resist ncia à insulina. 10 A dieta rica em gordura (71% de gordura, 18% de proteínas e 11% de carboidratos) é outra opção interessante para simular DHGNA, levando à resist ncia à insulina e esteatose panlobular, mas é altamente dependente da estirpe animal e da composição da dieta. 4 A dieta rica em frutose promove a inflamação hepática e o estresse oxidativo, mas não induz os achados hepáticos da DHGNA quando administrada ad libitum . Portanto, seria de se esperar que uma dieta rica em gordura, frutose e colesterol fosse uma excelente opção para induzir DHGNA ao combinar todos os componentes principais de cada modelomencionado acima. No entanto, alguns modelos de camundongos alimentados com esses componentes não desenvolvem fibrose hepática avançada. 4 Outros modelos trazem algumas vantagens, mas são mais caros e envolvem mais problemas técnicos. Uma opção adicional aos modelos animais murinos da DHGNA é agora apresentada por Muniz et al., 11 emque os ratos foram alimentados com uma dieta rica em gordura composta por banha (20%), colesterol (1%) e colato (0,1%). O regime dado aos camundongos é semelhante à dieta CC, levando à dislipidemia e graves danos ao fígado, como observado na EHNA humana. 11 Os animais não apenas ganharam peso, mas também aumentaram acentuadamente o peso do fígado, que atingiu 5% do peso corporal total. Os autores postularam que o uso de colato pode ter acelerado os distúrbios metabólicos induzidos pela dieta. Vale destacar que o total de gordura constituía apenas 44% do conteúdo energético da dieta, 903

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