ABC | Volume 113, Nº5, Novembro 2019

Diretrizes Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Telemedicina na Cardiologia – 2019 Arq Bras Cardiol. 2019; 113(5):1006-1056 1.7.2. Demografia Médica A razão de médicos por habitante no Brasil é significativamente mais baixa (2,1 médicos por mil habitantes) que a média dos países da OCDE (3,4 médicos por mil habitantes). Além da escassez absoluta de profissionais, o país também tem escassez relativa devido às grandes desigualdades regionais na distribuição da força de trabalho médico existente. Estudos recentes apontam para a grande concentração de profissionais de Medicina nas regiões Sul e Sudeste, com a proporção de especialistas seguindo essa tend ncia. 45 A tabela 1.2 mostra a distribuição de médicos por região do país, desagregados segundo sua especialização em generalistas, com alguma especialidade (especialistas) e a proporção médico por mil habitantes, e a distribuição dos cardiologistas por regiões e por habitante. Nas regiões Norte e Nordeste, observa-se que em algumas unidades da federação, a razão médico/habitante é inferior a 1,00, como nos casos do Pará e Maranhão com 0,97 e 0,87, respectivamente. O recente relatório Demografia Médica no Brasil (2018) apontou, ainda, importante desigualdade na oferta de médicos entre municípios predominantemente urbanos e rurais, com elevada concentração da força de trabalho médica nos grandes centros urbanos. 45 Os dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), disponibilizado pelo Ministério da Saúde, 46 mostra a mesma tend ncia de concentração de médicos nas regiões Sul e Sudeste, no m s de fevereiro de 2019, como pode ser visto na figura 1.2. 46 1.7.3. A Estratégia E-saúde A União Internacional das Telecomunicações (UIT), 47 órgão ligado à Organização das Nações Unidas (ONU), vem trabalhando em colaboração com a OMS, para criação de um ambiente global para a implementação da estratégia e-saúde, especialmente em Telemedicina. 47,48 A estratégia e-saúde é particularmente importante para o controle de agravos cr nicos não transmissíveis, como hipertensão arterial, diabetes, cardiopatias e doenças ligadas ao envelhecimento. Nos últimos anos, tem-se observado grande avanço na aplicação de e-saúde e Telemedicina, 49 porém um estudo de revisão sistemática recente, sobre relação do custo-efetividade da aplicação de e-saúde, não encontrou muitos estudos que possibilitassem analisar o impacto da estratégia sobre os sistemas de saúde ou aspectos sociais, apesar de a maioria dos estudos demonstrarem eficácia e custo-efetividade. 49 1.7.4. Infraestrutura de Telecomunicações e Dados Estima-se que até 95% da população mundial tenha acesso à telefonia móvel, sendo que no Brasil esses números podem passar de 98% de cobertura. A evolução do acesso aos serviços de telefonia móvel no Brasil é marcante e observa-se aumento na utilização equipamentos de telefonia móvel celular por habitante de 2009 a 2019, 50,51 seguido por uma tend ncia de queda na utilização de telefones móveis a partir de então (Figura 1.3). Na figura 1.4, podemos observar a distribuição de celulares/100 habitantes e a relação entre os cardiologistas e celulares por 1000 habitantes no Brasil no ano de 2018. Em relação à cobertura de fibra ótica, também existe uma maior concentração nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. A figura 1.5 demostra a distribuição de backhaul em fibra ótica nos municípios brasileiros. Backhaul é a porção de uma rede hierárquica, como a de comunicação por telefonia móvel celular, responsável pela conexão da rede principal e as sub-redes. Nota-se, pelo mapa da figura 1.5, que há menor concentração de redes ligadas por fibras óticas emmunicípios da região Norte, que também concentra a maior proporção de municípios isolados. Pelos dados apresentados nas figuras 1.4 e 1.5, observa-se tend ncia de concentração de médicos cardiologistas onde há maior concentração de aparelhos de celular habilitados. O coeficiente de correlação dessa relação é de 0,67, o que indica que a oferta de médicos cardiologistas é altamente correlacionada ao acesso a telefones móveis. Estes dados indicam um maior desafio à implantação da Telemedicina em áreas remotas, uma vez que a falta de médicos segue a mesma distribuição da defici ncia de infraestrutura de telecomunicações no Brasil. Uma análise detalhada dos custos e benefícios dessa expansão deveria guiar os incentivos nesta área. 1.8. Inteligência Artificial A IA engloba um complexo arcabouço de sofisticados modelos matemático-computacionais que permitem a construção de algoritmos utilizados para emular a realização de diversas tarefas humanas. Envolve um número crescente Tabela 1.2 – Distribuição de médicos por região do país, desagregados segundo sua especialização e generalistas Região Médicos Generalistas Especialistas População Cardiologia Cardiologista/1000 hab Médico/1000 hab Norte 20.884 10.128 10.766 17.936.201 441 0,025 1,16 Nordeste 80.623 34.461 46.162 57.254.159 2.534 0,044 1,41 Centro-oeste 37.536 12.828 24.708 15.875.907 1.464 0,092 2,36 Sudeste 244.304 91.124 153.180 86.949.714 8.383 0,096 2,81 Sul 68.430 20.948 47.482 29.644.948 2.694 0,091 2,31 Fonte: Scheffer M, Cassenote A, Guilloux AGA, Mioto BA, Mainardi GM. Demografia Médica no Brasil 2018. São Paulo: FMUSP, CFM, Cremesp; 2018. 45 *População estimada pelo IBGE em 2017. 1019

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