ABC | Volume 113, Nº5, Novembro 2019

Ponto de Vista Souza e Herdy DEAC relacionada ao exercício físico em jovens Arq Bras Cardiol. 2019; 113(5):988-998 exercício físico de alta intensidade (treino para maratona), em ritmo de fibrilação ventricular. Ao CATE, observou-se dissecção da trifurcação do TCE obstruindo fluxo na ADA. Ambos os pacientes sobreviventes foram tratados com cirurgia de revascularização do miocárdio, não apresentando sintomas após o procedimento. 19 Já o caso de DEAC em uma mulher jovem de 41 anos, no nono dia de terapia de fertilização in vitro e sem outros fatores de risco, foi descrito por Balakrishnan et al., 18 A paciente que apresentou dor torácica durante realização de exercício físico de alta intensidade ( body pump) foi diagnosticada com IAMCSSST pelo ECG de repouso na emerg ncia, sendo submetida à cineangiocoronariografia de emerg ncia. Ao CATE, foi observado sinal de dúplo-lúmen, secundário à dissecção, em ACD. Devido à instabilização do quadro durante injeção do contraste intra-arterial (por propagação da dissecção), optou-se por angioplastia com stent farmacológico. A paciente teve boa evolução clínica. 18 O caso de DEAC empaciente mais jovemdo sexomasculino que se tem registro foi publicado por Kalaga et al., no ano de 2007. 17 Trata-se de um garoto de 17 anos, capitão do time de futebol americano da escola, que sentiu um peso no peito durante uma partida amistosa de basquetebol. Não apresentava fatores de risco modificáveis, mas o pai havia falecido aos 38 anos emvirtude de um infarto fulminante. OECG evidenciou IAMCSSST anterior e aoCATE foi demonstrada dissecção da ADA proximal comgrande quantidade de trombo e fluxo distal normal. Demais artérias sem alterações. Foi tratado conservadoramente com inibidor da glicoproteína IIb/IIIa e teve alta oito dias após sua admissão no hospital. Realizou teste de estresse físico posterior que não demonstrou isquemia miocárdica. Foi orientado a não participar de atividades físicas de competição intensa, mas liberado para atividade física moderada, já que não havia, e atualmente ainda não há, clara recomendação para a prática de atividades competitivas em pacientes com histórico de DEAC 17 relacionada ao exercício físico. Nos 3 casos descritos nenhum paciente apresentou fatores de risco modificáveis ou não, para DAC. Nessa amostra, todos apresentaram dor torácica ou dispneia, com recorr ncia dos sintomas. Esses quadros sugerem formação de trombos com graus variáveis de estenose, muitas vezes com resolução espontânea e recidiva. Essas manifestações sugerem, ainda, uma lesão mecânica endotelial com formação de trombo no local do endotélio lesado, como ocorreu no Caso 1, com recorr ncia do trombo, após anos, no mesmo local. A ADA costuma ser a artéria mais acometida na DEAC, e a incid ncia de DEAC varia entre 0,07% e 0,1% dos pacientes submetidos à cineangiocoronariografia. 1-16 Embora a literatura sugira melhor prognóstico com tratamento conservador (sem stent ) e que a ADA seja a causa da maioria dos casos de DEAC, o acometimendo de ACD foi descrito em dois dos tr s casos deste artigo. Um destes dois casos relatados, ambos tratados de maneira conservadora com dilatação com balão e aspiração de trombos na ACD, teve recorr ncia da trombose na mesma artéria, cinco anos mais tarde, em situação semelhante, ou seja, após exercício físico intenso, e aquele tratado com ATC e stent farmacológico permaneceu assintomático, praticando atividade física moderada a intensa até o presente momento. Dois pacientes tiveram alta com prescrição de uso de dupla antiagregação plaquetária (DAPT), estatina e betabloqueador. Um paciente iniciou uso de inibidor da enzima conversora da angiotensina (IECA) e não recebeu DAPT na alta por alergia ao AAS. O uso de heparina e DAPT na DEAC é ainda controverso. 1 Já o uso de betabloqueador é recomendado, e os IECA permanecem com sua indicação incerta nestes casos. 29,30 Os avanços tecnológicos possibilitarão diagnósticos mais precisos de DEAC naqueles que se apresentam com sintomas de insufici sncia coronariana ou SCA. Contudo, a fisiopatologia da DEAC relacionada ao exercício físico é complexa e ainda mal compreendida, levando a quadros com apresentações clínicas variáveis e muitas vezes subagudos, e que somados ao fato da sua gravidade e urg ncia terap utica, principalmente em ambiente de emerg ncia, são frequentemente subdiagnosticados. A atual dificuldade diagnóstica e a falta de estudos direcionados para o tratamento específico dessa doença estimulammais estudos e propostas terap uticas para a DEAC relacionada ao exercício físico. Conclusão Relatos de casos como esses são de extrema importância, uma vez que o melhor conhecimento do quadro clínico e de sua apresentação tem como objetivo aumentar a suspeição de DEAC relacionada ao exercício físico. Futuros estudos direcionados para diagnóstico e tratamento desta patologia tornam-se necessários. Além disso, é necessário alertar a comunidade médica sobre essa possível causa de SCA dentre os quadros de dor torácica empacientes jovens do sexomasculino, sem fatores de risco e praticantes de atividade física. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa, Obtenção de dados, Análise e interpretação dos dados e Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: de Souza P, Herdy AH; Redação do manuscrito: de Souza P. Potencial conflito de interesses Declaro não haver conflito de interesses pertinentes. Fontes de financiamento Opresente estudo não teve fontes de financiamento externas. Vinculação acadêmica Nãohá vinculaçãodesteestudoaprogramas depós-graduação. Aprovação ética e consentimento informado Este artigo não contém estudos com humanos ou animais realizados por nenhum dos autores. 997

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