ABC | Volume 113, Nº5, Novembro 2019

Ponto de Vista Souza e Herdy DEAC relacionada ao exercício físico em jovens Arq Bras Cardiol. 2019; 113(5):988-998 mais prevalente, motivo pelo qual estava presente em 5,15% dos casos. Outras causas frequentemente associadas à DEAC, como as vasculites sist micas, a síndrome de Marfan, a displasia fibromuscular, o uso de esteroides e corticosteroides, o uso abusivo de cocaína ou anfetaminas, vasoespasmo, dentre outras, foram menos prevalentes (<1%). Esta análise confirma que a DEAC tem uma base fisiopatológica heterog nica, além das tradicionais causas de SCA. Estudos menores já haviam descrito estas condições como causa de DEAC. Porém, esta foi a primeira pesquisa a demonstrar que apenas as vasculopatias genéticas (síndromes de Marfan e Ehlers-Danlos), a displasia fibromuscular, o uso de esteroides e corticosteroides, migrânia e algumas condições autoimunes e inflamatórias são mais prevalentes nas SCA por DEAC do que naquelas não ocasionadas por dissecções espontâneas. 14 A displasia fibromuscular, por exemplo, etiologia frequentemente associada à DEAC na literatura e recentemente publicada sua ligação à variante genética do alelo rs9349379-A do gene PHACTR1/EDN1 como primeiro fator de risco genético identificável para DEAC, 2 foi prevalente em apenas 0,16% de todos os casos analisados. 14 A idade dos pacientes avaliados variou entre 20 a 31 anos, todos do sexo masculino e praticantes de atividade física predominantemente aeróbica, de forte intensidade, sendo um deles atleta profissional e os outros amadores. Ao descreverem o caso de um paciente do sexo masculino, 54 anos, comDEAC e sem fatores de risco ou DAC, Ellis et al., 20 encontraram 13 relatos de casos de DEAC ligados ao exercício físico entre 1995 e 2014. 20 Nove desses pacientes eram do sexo masculino e a média de idade foi de 36 anos, variando de 17 a 53 anos. Destes, sete casos (53,8%) estavam associados à atividade aeróbica e 5 casos (38,4%) à atividade anaeróbica. Outro caso foi associado, ainda, a grave estresse emocional e ansiedade. Amaioria dos casos de DEAC relatados apresentavam fatores de risco ou foram diagnosticados como aterosclerose na angiografia, o que não pode ser considerado como verdadeira DEAC. Os fatores de risco de cada paciente foram analisados: 30,7% eram tabagistas, 30% apresentaram colesterol elevado e 15,3% tinham histórico familiar de doença isqu mica cardíaca. Obesidade foi identificada como fator de risco em apenas 1 destes pacientes. 18 Somente um paciente do sexo masculino de 25 anos, daquele total de 13 pacientes, apresentou DEAC sem apresentar fatores de risco identificáveis ou aterosclerose à angiografia. 20,27 Aparentemente, quando relacionada exclusivamente ao exercício físico, a DEAC apresenta-se com sintomas variáveis, recorrentes e, por vezes, prolongados ou subagudos. Conforme revisado por Ellis et al., 20 e também em dois dos casos descritos neste artigo, cinco daqueles pacientes apresentaram-se tardiamente após o evento de dissecção, sendo o mais longo em um paciente com sintomas após tour de ciclismo e que sofreu de angina por quatro meses antes de procurar atendimento médico. 20,27,28 Em uma revisão de literatura, Sherrid et al., 19 também descreveram 3 casos de DEAC relacionada ao exercício físico entre 1965 e 1994, com apresentações clínicas variadas. 19 Duas pacientes eram do sexo feminino, com 38 e 39 anos, respectivamente, e ambas não apresentavam fatores de risco. A primeira foi a óbito após manifestar dor nos braços seguida de convulsão, e à autópsia, foi evidenciado hematoma dissecante intramedial da porção proximal da ADA. Na ocasião, a paciente estava retirando neve do solo com pá (exercício moderado). A segunda paciente apresentou IAM anterosseptal e lateral também ao realizar atividade física de intensidade moderada (praticava corrida >40 kmpor semana). Ao CATE, foi evidenciado tronco de coronária esquerda (TCE) comprimido por falso lúmen secundário à dissecção. As demais artérias estavam normais. Por fim, o paciente do sexo masculino apresentou parada cardiorrespiratória durante Figura 12 – Cateterismo cardíaco: artéria recanalizada com migração distal de trombos. 996

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=