ABC | Volume 113, Nº5, Novembro 2019

Ponto de Vista Dissecção Espontânea da Artéria Coronária Relacionada ao Exercício Físico em Pacientes Jovens sem Fatores de Risco ou Doença Aterosclerótica Coronariana Spontaneous Exercise-Related Coronary Artery Dissection among Young Patients Without Risk Factors or Atherosclerotic Disease Pablo de Souza 1, 2 e Artur Haddad Herdy 1, 2 Instituto de Cardiologia de Santa Catarina (ICSC), 1 São José, SC – Brasil Clínica Cardiosport de Prevenção e Reabilitação, 2 Florianópolis, SC – Brasil Correspondência: Pablo de Souza • Clínica Cardiosport - Rua Ernesto Stodieck, 56. CEP 88025-130, Centro, Florianópolis, SC – Brasil E-mail: pablocardiologia@gmail.com Artigo recebido em 26/12/2018, revisado em 25/01/2019, aceito em 17/07/2019 Palavras-chave Doença Aterosclerótica Coronariana; Infarto do Miocárdio; Morte Súbita Cardíaca; Adulto Jovem; Fatores de Risco; Esforço Físico; Exercício; Diagnóstico por Imagem/tend ncias. DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20180446 Resumo A dissecção espontânea da artéria coronária (DEAC) é considerada uma síndrome coronariana aguda frequentemente subdiagnosticada e com poucos casos descritos na literatura. A sua associação ao exercício físico em pacientes jovens e sem fatores de risco ou doença aterosclerótica coronariana (DAC) é ainda mais rara. Por esse motivo, foi realizado estudo sobre o tema, com a descrição do quadro clínico, da conduta e da evolução diante da suspeita de DEAC relacionada ao exercício físico, em tr s pacientes jovens sem fatores de risco ou DAC. Os quadros clínicos foram variáveis, predominando o sintoma de dor torácica recorrente. A idade variou entre 20 e 31 anos. Todos os pacientes foram submetidos à cineangiocoronariografia, que não evidenciou DAC, mas foi sugestiva de DEAC. A investigação de outras causas de obstrução coronariana foi negativa. A artéria coronária direita foi acometida em dois casos, e a artéria descendente anterior afetada em um caso. Somente um dos tr s pacientes apresentou recorr ncia do quadro, no período de cinco anos após o evento primário. Os avanços tecnológicos possibilitarão aumento na identificação de dissecção nas síndromes coronarianas agudas. Aperfeiçoar o conhecimento acerca do quadro clínico dessa condição é necessário, na tentativa de alertar e aprimorar a suspeição de DEAC relacionada aos exercícios físicos naqueles que apresentam sintomas de insufici ncia coronariana, diminuindo-se, assim, os frequentes subdiagnósticos. Os melhores tratamento e prognóstico para essa doença permanecem incertos. Introdução Frequentemente subdiagnosticada em sua história, a dissecção espontânea da artéria coronária (DEAC) tem sido descrita como de rara etiologia dentre as síndrome coronariana aguda (SCA)s. 1-4 Apesar de pouco estudada, sabe-se que DEAC pode resultar em morbidade significativa, levando a isquemia e infarto agudo do miocárdio (IAM), bem como a arritmias ventriculares e morte súbita cardíaca. 1-3,5-7 Casos de DEAC costumam ser encontrados na literatura sob a forma de relatos isolados, 1,4-8 e, em geral, essa doença acomete mulheres jovens que obtiveram diagnóstico tardiamente evidenciado em necrópsias, como registrado na maioria das publicações. O primeiro caso descrito é datado em 1931. 1,2,9-12 Recentemente, mais casos de DEAC t m sido identificados em virtude da realização rotineira de angiografia coronária nas SCA e dos avanços tecnológicos na área da imagiologia. 1 Descreve-se que a DEAC está associada à situações fisiopatológicas heterog neas, 13,14 como doença aterosclerótica coronariana (DAC), período periparto, doenças do colágeno, vasculopatias genéticas, uso abusivo de cocaína e anfetaminas, consumo de anabolizantes e corticosteroides, hipertensão aretrial sist mica grave, contraceptivos orais, displasia fibromuscular, vasoespasmo e exercícios físicos. 1,2,13-22 Fisiologicamente, a DEAC é definida como uma separação das camadas da artéria coronária, não iatrog nica ou traumática, criando um falso lúmen. 1-4,7 Esta fragmentação pode ocorrer entre as camadas íntima e média ou entre as camadas média e a adventícia, com a formação de hematoma intramural na parede arterial que comprime o lúmen arterial, diminuindo o fluxo sanguíneo anterógrado com subsequente isquemia ou IAM. 1-4 Em alguns casos, pode existir a comunicação do hematoma com o lúmen do vaso e consequente formação de trombo no local da lesão endotelial. Além disso, especula-se a possibilidade de lesão endotelial originada por estresse mecânico, em algum ponto do vaso, originando trombose neste local. 1,2,7-22 São raros os casos que associam DEAC à atividade física desportiva em pacientes jovens do sexo masculino e sem fatores de risco ou DAC. 17-20 No estudo realizado, descrevem-se tr s casos de SCA em pacientes jovens, sem fatores de risco e DAC estabelecida ou subdiagnosticada, cuja principal suspeita etiológica da obstrução do fluxo arterial coronariano foi DEAC relacionada ao exercício físico intenso, conforme se conclui a partir das apresentações iniciais, dos exames complementares e das evoluções clínicas, dado o provável mecanismo fisiopatológico envolvido. Os tr s casos apresentados foram, então, semelhantes entre si. 988

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