ABC | Volume 113, Nº5, Novembro 2019

Editorial Mais um Passo na Educação Médica nos Países de Língua Portuguesa Another Step in Medical Education in Portuguese Speaking Countries Gláucia Maria Moraes de Oliveir a e Fausto J. Pint o Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ – Brasil Universidade de Lisboa, Lisboa – Portugal Correspondência: Gláucia Maria Moraes de Oliveira • Universidade Federal do Rio de Janeiro – R. Prof. Rodolpho P. Rocco, 255 – 8°. Andar – Sala 6, UFRJ. CEP 21941-913, Cidade Universitária, RJ – Brasil E-mail: glauciam@cardiol.br , glauciamoraesoliveira@gmail.com Palavras-chave Doenças Cardiovasculares; Educação Médica/tend ncias; Publicações/tend ncias; EscolasMédicas;CargaGlobal daDoença; Fatores de Risco; Expectativa de Vida; Fatores Socioecon micos. DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20190740 Em 2016, o Journal of the American Medical Association (JAMA) publicou uma edição temática sobre educação médica, na qual Golub, 1 em seu editorial, salientou a importância de se olhar para o passado para se antever o futuro. Esse autor ressalta que as mudanças que ocorrem na sociedade, como a globalização das etnias, das normas culturais e dos sistemas de saúde, irão requerer novos modelos educacionais que sejam abrangentes, criativos e inovadores para melhorar a qualidade da educação médica e da assist ncia ao paciente. 1 Desse modo, o ensino médico tem sido alvo de mudanças recentes, com o objetivo de se adequar às novas demandas populacionais, que apresentam grandes desafios decorrentes das desigualdades regionais na distribuição da força de trabalho em saúde. Esses profissionais deverão ser treinados para abordar patologias com complexidade crescente e ter habilidades para liderar equipes interprofissionais, que precisam ser custo-efetivas quanto às evid ncias transculturais, para melhor servir às populações assistidas. 2 Assim, a formação médica tornou-se estratégica para fortalecer os sistemas de saúde, especialmente nos países de média e baixa renda. Os relatórios Human Resources for Health: Overcoming the crisis , produzido por Joint Learning Initiative , e o World Health Report 2006: working together for health , produzido pela OrganizaçãoMundial da Saúde (OMS), 3 estimaram escassez de quase 4,3milhões de médicos, parteiras, enfermeiros e trabalhadores de apoio em saúde em todo o mundo, sendo essa escassez mais acentuada nos países mais pobres, em especial na África subsaariana. O segundo relatório estabeleceu um plano de ação para os dez anos subsequentes, em que os países poderiam construir suas forças de trabalho em saúde com a ajuda de parceiros globais. Ainda que os governos dos países de língua portuguesa (PLP) na África tenham investido recursos para melhorar o ensino e reter médicos em seus países de origem, pouco avanço p de ser observado. 4 Segundo o relatório da OMS de 2018, Global strategy on human resources for health: workforce 2030 , descrevendo um incremento de 13,1% nos profissionais de saúde na África entre 2013 e 2016, o aumento no número de médicos naqueles países foi pequeno. 5 Esse mesmo documento propõe iniciativas a serem implementadas pela OMS para melhorar a formação de profissionais de saúde com base na colaboração entre países que desenvolverammodelos exitosos. 5 Comoobjetivodeestimular odesenvolvimentoe a cooperação multilateral entre seus países-membros, a Comunidade de Países de Língua Portuguesa, em seu Plano Estratégico de Cooperação em Saúde, 6 propõe incentivo para a formação de redes de cooperação para o ensino médico, com apoio às iniciativas nos níveis de graduação, pós-graduação e pesquisa. 7 Com essa estratégia, reafirma a língua portuguesa como denominador comum transcultural para a partilha de conhecimento científico. No entanto, as distâncias, a falta de contextualização dos problemas locais e as falhas de financiamento dificultaram a comunicaçãoentreos PLPe, por consequ ncia, oestabelecimento efetivo dessas redes de cooperação. 6 As iniciativas de cooperação em saúde pública, especialmente aquelas voltadas para as doenças transmissíveis, v m enfrentando dificuldades na depend ncia de fatores como as relações internacionais entre os PLP. 8-10 Para além disso, há que se considerar a importância das doenças cr nicas não transmissíveis, com foco nas enfermidades cardiovasculares. A doença isqu mica do coração é a principal causa de morte na maioria dos PLP, com fatores de risco atribuíveis comuns, como os dietéticos e a hipertensão arterial. Possivelmente os fatores genéticos, os culturais, os inerentes ao hospedeiro, além das grandes desigualdades sociais, poderiam explicar as mortalidades observadas nos PLP. 11,12 Essas similaridades entre os PLP representariam uma oportunidade de cooperação, contextualizando as demandas locais, para a formação de redes de intercâmbio entre faculdades de medicina de língua portuguesa a fim de possibilitar a disseminação e a adaptação dos modelos já existentes, além da criação de um Programa “ Erasmus-like” para os PLP. 13 É nesse sentido que, no próximo m s de novembro, será celebrada, em Lisboa, a assinatura de um acordo de cooperação entre várias faculdades de medicina de PLP, sob a designação de Rede de Cooperação das Escolas Médicas de Língua Portuguesa (CODEM‑LP) (Figura 1). Estamos convictos de que tal acordo fortalecerá os laços de colaboração entre as várias escolas médicas, contribuindo para um reforço da medicina acad mica no espaço da lusofonia. Figura 1 – Logomarca da Rede de Cooperação das Escolas Médicas de Língua Portuguesa. 894

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=