ABC | Volume 113, Nº4, Outubro 2019

Minieditorial Coocorrência de Fatores de Risco para Doenças Cardiometabólicas: Alimentação Não Saudável, Tabaco, Álcool, Estilo de Vida Sedentário e Aspectos Socioeconômicos Co-occurrence of Cardiometabolic Disease Risk Factors: Unhealthy Eating, Tobacco, Alcohol, Sedentary Lifestyle and Socioeconomic Aspects Maury-Sintjago Eduard, 1 Parra-Flores Julio, 1 Rodríguez-Fernández Alejandra 1 Departamento de Nutrição e Saúde Pública, FACSA, Universidad del Bío-Bío, 1 Chillán - Chile Minieditorial referente ao artigo: Coocorrência de Tabagismo e Alimentação não Saudável na População Adulta Brasileira Correspondência: Eduard Maury-Sintjago • Departamento de Nutrición y Salud Pública, FACSA, Universidad del Bío-Bío - Av. Andrés Bello N720, Chillán-Chile E-mail: emaury@ubiobio.cl Palavras-chave Doenças Cardiovasculares; Síndrome Metabólica; Morbimortalidade; Análise por Conglomerados; Assunção de Riscos; Alcoolismo/epidemiologia; Tabagismo/epidemiologia; Estilo de Vida; Fast Foods; Sedentarismo. DOI: 10.5935/abc.20190213 A doença cardiometabólica (DCM) é a principal causa de morbimortalidade em todo o mundo. Os fatores de risco no desenvolvimento da DCM são diversos; compreendê-los contribui significativamente para a criação de estratégias clínicas e/ou comunitárias para sua prevenção e/ou tratamento. 1 Uma dieta não saudável, tabagismo, estilo de vida sedentário e maior consumo de álcool aumentam significativamente o risco de DCM, câncer, perda de anos de vida saudáveis e mortalidade prematura. 2 Em uma revisão sistemática de Meader et al., 3 37 estudos foram analisados para avaliar comportamentos de risco como tabagismo, inatividade física e dieta não saudável através de uma metanálise. Uma associação maior foi encontrada quando grupos de fatores de risco coexistiam (≥4) em comparação com fatores de risco individuais. O abuso de álcool e o tabagismo foram os fatores de risco mais comumente identificados. Também foi relatado que o nível socioeconômico é um preditor de múltiplos riscos. 3 Por outro lado, em um estudo de coorte de mais de 20 anos, a mortalidade associada a 1, 2, 3 ou 4 fatores de risco foi de 1,85 (IC 95%, 1,28-2,68), 2,23 (IC 95%, 1,55‑3,20), 2,76 (IC 95%, 1,91-3,99) e 3,49 (IC 95%, 2,31-5,26), respectivamente. O risco de mortalidade por DCM foi maior do que em outras causas de morte, como o câncer. 4 Entre os aspectos socioeconômicos, o padrão socioespacial dos pontos de venda de bens e serviços é o fator que mais prediz estilos de vida pouco saudáveis. Macdonald et al., 5 em seu estudo na Escócia, mostram que a distribuição de locais que fornecem álcool, fast food , tabaco e pontos de jogos de azar está concentrada em áreas geográficas com maior privação socioeconômica. 5 Outro estudo mostra que nos países em desenvolvimento, as áreas mais pobres têm maior prevalência de hábitos inadequados de dieta e tabagismo e a co-ocorrência de fatores de risco é de 20%. 6 Zwolonsky et al., 7 em um estudo com homens do Reino Unido, descobriram que 72% exibiam combinações de fatores de risco; inatividade física (72,8%), juntamente com a falta de consumo de frutas e vegetais (73%), foi a combinação mais comum. Além disso, 29,5% consumiam mais álcool que o limite recomendado e 25% eram fumantes. 7 Nesse contexto, Zancheta et al., 8 detectaram uma forte correlação entre ingestão de álcool e tabagismo. Além disso, alimentação não saudável e inatividade física foramos fatores de risco mais frequentes. Aproximadamente 3% não apresentaram fatores de risco, enquanto 38,0%, 32,9%, 9,4% e 1,8% apresentaram dois a cinco fatores, respectivamente. É digno de nota que a maior incidência desses fatores de risco ocorreu em meninas, adolescentes mais velhos, que nãomoram comambos os pais, filhos de mães commenor escolaridade, estudantes que frequentam escolas públicas e moradores de cidades em áreas urbanas mais desenvolvidas do país. 8 Nesta edição dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Stolses et al., 9 avaliaram a co-ocorrência de tabagismo e alimentação não saudável em adultos em uma amostra populacional, mostrando uma alta prevalência de alimentação inadequada (68,4-72,6%) e hábitos de tabagismo (7,8‑15,65%). A ocorrência de ambos os fatores de risco ocorreu principalmente em homens (47%), residentes na parte sul do país (44,1%), indivíduos com idade de 18 a 39 anos (59,4%) e que consumiam álcool (18,5%). Por fim, mostra-se que, residentes da região sul (PRadj 1,50; IC 95% 1,18-1,89), sem plano de saúde privado (PRadj 1,14; IC95% 1,03-1,25), com consumo abusivo de álcool (PRadj 3,22; 95 % IC 2,70-3,85) e relato de estado precário de saúde (PRadj 1,7; IC95% 1,18-2,44), mostravam uma associação significativa com o tabagismo e dieta inadequada em adultos brasileiros. Em vista das evidências científicas relatadas, é cada vez mais necessário realizar estudos sobre a co-ocorrência de fatores de risco cardiometabólicos, porque eles respondem à complexidade multicausal dos principais problemas de saúde em todo o mundo. Portanto, a abordagem estratégica para prevenção e/ou tratamento requer a abordagem dos fatores de risco de maneiras múltiplas, e não individuais. 710

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