ABC | Volume 113, Nº4, Outubro 2019

Artigo Original Francisco et al. Tabagismo e alimentação não saudável Arq Bras Cardiol. 2019; 113(4):699-709 Continuação Hipertensão arterial 0,815 Não 21.559 8,6 1 1 Sim 5.720 8,4 0,97 (0,79 - 1,19) 0,88 (0,71 - 1,08) Diabetes mellitus 0,658 Não 25.780 8,6 1 1 Sim 1.499 8,0 0,92 (0,63 - 1,33) 0,83 (0,57 - 1,21) Dislipidemia 0,475 Não 21.485 8,7 1 1 Sim 5.794 8,1 0,93 (0,75 - 1,13) 0,87 (0,70 - 1,06) n: número de indivíduos na amostra não ponderada.*RPajustada: razão de prevalência ajustada por sexo e idade. IC95%: intervalo de 95% de confiança. as prevalências de fatores de risco para doenças crônicas segundo raça/cor mostrou que, comparados aos brancos, os pardos fumavammenos e ingeriammenos frutas, refrigerantes e doces, e mais feijão, leite integral e carnes com gordura aparente. 35 Não foram encontrados na literatura nacional e internacional, estudos sobre a coocorrência de tabagismo e dieta inadequada, segundo cor da pele/raça. Verificou-se maior prevalência simultânea de tabagismo e dieta inadequada entre os adultos sem plano de saúde. Estudo com adultos brasileiros identificou que os beneficiários de planos de saúde fumavam menos, se alimentavam melhor e praticavam mais atividade física no lazer. 36 O Ministério da Saúde tem desenvolvido diversas ações para reduzir as iniquidades no acesso e oferta de serviços de saúde. A aprovação da Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) reafirma a defesa do cuidado integral, retomando a promoção da saúde como estratégia de organizar ações e serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) com foco nos fatores que determinam o processo saúde-doença, na intersetorialidade, participação social e construção de ambientes saudáveis em nível individual e coletivo. 37 A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) e o Guia Alimentar para a População Brasileira, 38 constituem importantes instrumentos de apoio à promoção da alimentação adequada e saudável no âmbito do SUS. Observou-se menor prevalência de tabagismo e alimentação inadequada nos adultos com excesso de peso. A relação inversa observada após ajuste para as variáveis sociodemográficas e de comportamentos e condições de saúde pode ser parcialmente explicada pelo fato de que o tabagismo apresenta influência nos processos metabólicos: fumantes pesam, em média, 4kg a menos que os não fumantes em decorrência de um aumento da taxa metabólica concomitante a uma supressão do apetite. 39 Maior prevalência de ambos os fatores de risco foi observada nos adultos com consumo abusivo de álcool, sendo este subgrupo de maior vulnerabilidade para DCNT. O planejamento de ações de prevenção de doenças deve integrar estratégias populacionais e aquelas direcionadas a subgrupos de alto risco, já que ambas agem de forma sinérgica e são necessárias. 17 Na epidemiologia das doenças crônicas o efeito de um fator de risco depende do estado do indivíduo para o outro fator (presente/ausente). Assim, a presença de dois ou mais fatores de risco modificáveis potencializa a ocorrência das DCNT 8,15,16 e, ummenor tempo transcorrido ao surgimento da doença, leva à redução da expectativa de vida saudável. Dados de quatro estudos de coorte de países europeus sobre tabagismo, inatividade física e obesidade, entre indivíduos de 50 a 75 anos, revelaram o impacto da coocorrência de fatores de risco comportamentais na redução da expectativa de vida saudável e livre de doenças crônicas. 40 Neste estudo, a simultaneidade dos fatores foi mais elevada nos que não avaliaram sua saúde positivamente. A relação entre tabagismo e pior percepção da saúde na população adulta é descrita na literatura. 34,41 Estudo com a população brasileira ≥18 anos também verificou pior avaliação da saúde nos que não consumiam frutas e hortaliças regularmente. 41 Estudo realizado em Madri/Espanha, com 16 043 adultos (18 a 64 anos), verificou que o acúmulo de fatores de risco aumentava a frequência de pior saúde percebida de forma gradual. 34 Não houve associação entre os fatores de risco considerados e hipertensão arterial, diabetes mellitus e dislipidemias. Para os adultos, na análise dos fatores de risco individuais somente a alimentação inadequada esteve associada à maior prevalência dessas condições. Em estudos nacionais, não têm sido observada associação entre tabagismo atual, hipertensão arterial e diabetes mellitus , como verificado para os ex‑fumantes. 42,43 No período de 2006 a 2015 houve uma redução significativa do tabagismo 31,44 e um aumento expressivo do excesso de peso decorrente de mudanças negativas no padrão alimentar da população. 32,45 Cabe destacar que a maior incidência destas doenças e de outros problemas relacionados à saúde ocorre em idades mais avançadas. Na população adulta estudada, a ocorrência simultânea de ambos os fatores não expressou, necessariamente, um risco adicional para os referidos desfechos nesta faixa etária. Estimativas da existência de aglomeração de fatores comportamentais de risco para DCNT realizadas por estudos internacionais, 1,21,34,40 levaram ao reconhecimento de que muitos destes estão inter-relacionados. 17 Uma efetiva prevenção reside na redução da ocorrência concomitante 706

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