ABC | Volume 113, Nº4, Outubro 2019

Artigo Original Francisco et al. Tabagismo e alimentação não saudável Arq Bras Cardiol. 2019; 113(4):699-709 Continuação Hipertensão arterial Não 22.887 81,7 11,1 0,743 71,1 < 0,001 Sim 6.063 18,3 11,4 65,2 Diabetes mellitus Não 27.356 94,9 11,1 0,811 70,9 < 0,001 Sim 1.594 5,1 11,4 53,3 Dislipidemia Não 22.835 83,0 11,1 0,630 70,6 0,029 Sim 6.115 17,0 10,4 67,6 *Valor de p do teste Qui-quadrado com correção de Rao-Scott. IMC: índice de massa corporal. insuficiente de feijões, hortaliças e frutas foi representado pelo não atendimento à recomendação de cinco porções diárias destes alimentos. Ressalta-se que a diversidade cultural e de hábitos alimentares em populações diversas pode estar relacionada às diferenças observadas. Berto et al., 22 em Botucatu/SP, avaliaram a associação entre tabagismo e outros fatores de risco comportamentais nos adultos e verificaram a ocorrência de tabagismo e baixo consumo de frutas e hortaliças cruas (12,9% e 12,3% e 5,8% e 5,1%, nos homens e nas mulheres, respectivamente). Em estudo realizado com adultos em Florianópolis/SC a prevalência simultânea foi de 3,5%, considerando alimentação inadequada o consumo referido de frutas e vegetais ≤ 5 dias por semana. 13 Em estudo americano com a população adulta (≥ 20 anos), os fumantes apresentaram um padrão de dieta de pior qualidade, com menor ingestão de frutas, vegetais, leite e derivados, cereais integrais, e maior percentual energético oriundo de gorduras sólidas, álcool e açúcares de adição. 23 Pesquisa realizada com adultos fumantes constatou que frutas e vegetais, bebidas não cafeinadas, doces, leite e produtos lácteos pioravam os atributos sensoriais do cigarro, enquanto carnes, bebidas alcoólicas e cafeinadas melhoravam. 24 Haibach et al., 25 verificaram que o segmento de fumantes que mais ingeria frutas e vegetais apresentou menor nível de dependência de nicotina e maior ocorrência de cessação do tabagismo. Para compor o indicador de alimentação utilizado neste estudo, optamos por considerar o leite integral como um marcador de dieta saudável. Resultados de estudos epidemiológicos que avaliaram fontes dietéticas de gordura saturada revelaram ausência de associação ou efeitos benéficos dos laticínios sobre as doenças cardiovasculares. 26,27 Entre as lacunas do conhecimento científico sobre a relação entre consumo de leite e saúde, Lamarche et al., 27 sinalizam a necessidade de investigar se o leite integral ou com reduzido teor de gordura produzem efeitos diferentes na saúde. Dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008-2009) revelaram que a população adulta apresentava baixo consumo de leite e derivados (100g/ml por dia), 28 mas elevada ingestão de carnes vermelhas e processadas (90g por dia), commais de 80% dos participantes excedendo o valor recomendado pela World Cancer Research Fund (300g na semana). 29 Ressalta-se que o Vigitel não avalia o consumo de carnes processadas e não quantifica a ingestão de carnes vermelhas. Portanto, neste estudo foi considerada apenas a frequência de consumo semanal independente da presença de gordura aparente. Estudo que avaliou a fração atribuível de câncer na população adulta devido a diferentes exposições mostrou que a carne vermelha é fator de risco para câncer de cólon e reto quando ingerida acima de 70g/dia. 30 Neste estudo, a coocorrência dos fatores de risco foi maior na região Sul e menor na Nordeste, comparada à região Centro-Oeste. Foi observada redução da prevalência de fumantes em todas as regiões entre 2006 e 2013, no entanto, a região Sul apresentou as maiores prevalências de fumantes e a Nordeste, as menores, 31 o que pode explicar, parcialmente, os achados em relação à ocorrência simultânea observada. Além disso, de acordo com a POF 2008-2009, o Nordeste e o Sul do Brasil revelam perfis diferenciados de aquisição domiciliar de alimentos, tendo a região Sul maior disponibilidade de carnes vermelhas, embutidos, toucinho, refrigerantes e bebidas alcoólicas. 32 Disparidades regionais quanto à distribuição dos fatores de risco modificáveis e de sua coocorrência são observadas no Brasil. 7,13,22,31 Nos Estados Unidos (EUA), estudo que estimou a coocorrência de cinco comportamentos saudáveis (não fumar, práticar atividade física regularmente, não consumir álcool, manter o peso e dormir em níveis recomendados) na população adulta (≥21 anos), encontrou variações geográficas na distribução percentual ajustada por idade, para o número de fatores agrupados. 33 Em relação às demais características sociodemográficas, estudos apontam maior prevalência de múltiplos fatores de risco nos adultos mais jovens, entre os homens, naqueles com piores níveis socioeconômicos (menor renda e escolaridade) e entre os que vivem só. 13,21,34 Neste artigo, observou-se redução da coocorrência dos fatores com o aumento da escolaridade. Pesquisas apontam relação entre maior escolaridade e comportamentos saudáveis/condições de saúde. 10-14,19,21,34 Também foi verificada menor coocorrência entre indivíduos que se autodeclararam pardos. Em Florianópolis/SC, Silva et al., 13 verificaram maior ocorrência para o acúmulo de quatro fatores de risco nos adultos pretos. Nos EUA observaram‑se diferenças raciais/etnicas para cinco comportamentos saudáveis considerados. 33 A análise das diferenças entre 704

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